Matteo
A tarde se aproximava. No horizonte já era possível ver um tom alaranjado colorir o céu. Eu e Gregori continuávamos nossas buscas por pistas, aos pés das montanhas no limite do bosque nos deparamos com um riacho cristalino. A água transparente permitia enxergar o seu leito.
Greg já estava visivelmente bastante cansado. Eu o entendia perfeitamente, já que andamos durante o dia todo pelos arredores da cidade. Não tínhamos muito mais tempo, já que no dia seguinte iríamos para um lugarejo mais distante.
A única coisa que ainda me mantinha de pé caminhando, era a força do amor que eu alimentava pelo meu pequeno e minha insistente esperança de encontrá-lo logo.
- Cara, espera um pouco. - A voz ofegante de Gregori fez eu me virar no mesmo instante.
Quando olhei em direção a ele, o mesmo estava sentado em uma pedra na beira do lindo riacho. Ele apoiou os cotovelos sobre as coxas e o rosto sobre as mãos, como que admirando a paisagem.
- Algum problema, Greg? - Perguntei caminhando até próximo à ele.
- Eu preciso descansar um pouco, estamos andando praticamente o dia todo! E estou começando a sentir fome.
- Tudo bem, vamos fazer uma pausa então. - Falei dando um tapinha no ombro dele.
Verifiquei o chão e também arrumei um lugar para me sentar ao lado de meu amigo. Uma leve brisa começou a balançar as árvores ao redor.
- Cara, eu já não aguento mais essa falta de pistas. Como alguém pode evaporar assim?! - Greg começou a puxar uma conversa.
- Eu estou tão frustrado, meu amigo... Não sei mais o que fazer... Por mais que eu pense, não consigo ter uma idéia do que pode ter acontecido com o pequeno, para onde ele pode ter ido, e porque não procurou a gente. Ele não seria capaz de nos deixar loucos assim. Isso não faz sentido... - Desabafei.
- Irmão, você já parou pra pensar que Lucius pode ter o levado sabe-se lá para onde?
- Prefiro não pensar sobre isso... - Mudei o foco da conversa. - Prefiro pensar em qualquer outra coisa, mas não que isso tenha acontecido.
- Olha... - Gregori apoiou sua mão em minhas costas. - Eu sei que você o ama e tudo mais, mas eu sou seu amigo e estou aqui pra ser sincero com você...
- O que quer dizer? - Encarei os olhos verdes dele.
- Eu só quero que você esteja preparado pra tudo. Sei que você é forte, e olha, não quero ver você naquele estado lastimável de uns dias atrás novamente. - Ele falava calmamente.
- Eu sei que o Élio está por aí em algum lugar, eu posso sentir isso... Eu só não entendo o porque dele estar fugindo da gente.
- Em algum lugar com certeza ele está. - Concordou o platinado. - Afinal de contas, Mare está bem... Sabemos que se algo de muito ruim acontecer com ele, isso se reflete nela imediatamente.
- Então por que você disse que eu tenho que estar preparado pra tudo? - Arqueei uma das sobrancelhas.
- Porque tipo... E se o Lucius mais uma vez o levou para executar outro de seus planos malucos?! - Gregori foi bem direto. - Olha só o que esse desgraçado está fazendo, eliminando os seres mágicos. Estamos sendo caçados e mortos por esses humanos sob o efeito da maldita poção que ele fez. Eu estou a espera de tudo! Vindo daquele lunático, nada mais me impressiona.
- Você pode ter razão... - Abaixei a cabeça desanimado. Eu podia enxergar nossos reflexos na água transparente do riacho. - Talvez Pavel tenha mesmo levado o pequeno e eu só estou tentando me agarrar a uma esperança sem fundamento. Afinal, se Élio estivesse livre por aí ele já teria voltado para nós.
- Força cara! Eu te disse essas coisas mas não quero que desanime. Nós vamos encontrá-lo. Já fizemos isso uma vez, vamos fazer de novo.
- Obrigado pela força, meu amigo... Eu juro que dessa vez não vou deixar Lucuis sair vivo dessa. O maior erro que cometemos foi tê-lo deixado vivo, tínhamos que ter acabado com ele quando tivemos a chance. E se de fato Lucius estiver com meu pequeno de novo, dessa vez não haverá misericórdia!
- É assim que se fala, meu garoto! - O sorriso otimista de Greg refletia na água transparente.
Ainda encarando nossos reflexos no rio, consegui perceber o exato momento em que uma figura suspeita se aproximava por trás de nós sem emitir qualquer som.
Quando virei a cabeça bruscamente, percebi que quatro pessoas de olhares vazios se aproximavam de nós... Na realidade, já estavam próximas demais! Em mãos, essas pessoas possuíam armas. Só tive tempo de gritar:
- Cuidado Greg!
Em um salto eu me pus já de pé. Preocupado com o que o meu amigo pudesse fazer, eu logo o alertei:
- Gregori, tome cuidado, não se esqueça de que eles são apenas humanos comuns... Eles não sabem o que estão fazendo, estão enfeitiçados por aquele desgraçado!
- O que quer que eu faça? Que deixe eles nos matarem? - Greg estava ficando nervoso os raios esverdeados ja começavam a sair de seus mãos.
- Vamos apenas nocauteá-los e sair daqui, beleza? - Sugeri encarando ele enquanto me transformava.
Assim que o loiro platinado fez sinal de positivo com a cabeça, me lancei contra aquelas pessoas. Com minha super velocidade e a magia de Greg, não foi muito difícil desarmá-las e deixá-las inconscientes, já que estavam em um número considerávelmente pequeno. Normalmente as pessoas silenciosas atacavam em números bem maiores. Nossa ação não durou mais que um minuto e meio.
Já de volta à minha forma humana, olhei para aqueles quatro deitados no chão, eu sentia pena do que eles estavam passando. Em seguida encarei Greg e disse:
- Vamos sair logo daqui antes que eles acordem.
- Não precisa dizer duas vezes. - O loiro disse arremessando no rio as armas que havíamos tirado daquelas pessoas.
Acompanhando o percurso do rio ao pé das montanhas, aproveitávamos para prestar atenção nas margens do mesmo, quem sabe não descobrímos algo? Greg caminhava mais à minha frente, quando num gesto brusco parou de repente.
- O que é agora?! - A atitude repentina do meu amigo, fez com que eu logo pensasse que se tratavam de mais pessoas silenciosas.
- O que é aquilo lá? - Ele apontava para a outra margem do riacho.
Eu inclinei a cabeça para um lado, na tentativa de prestar melhor a atenção no que ele me mostrava. Sem ter a mínima idéia do que poderia ser, falei:
- Deve ser um saco plástico, pelo menos é o que parece.
- Não. Tenho certeza que não é!
Gregori começou a saltar rapidamente sobre umas pedras para alcançar o outro lado do rio. Quando chegou até a margem, ele abaixou e ficou na posição de cócoras por alguns instantes.
- O que diabos aquele maluco está fazendo? - Falei baixinho comigo mesmo.
- Matteo, corre aqui! - Ele gritou assim que se levantou e olhou para mim.
Muito confuso com toda aquela atitude de Gregori, repeti os mesmos passos que ele, saltando sobre as pedras para alcançar a outra margem. Assim que me aproximei, meu amigo apoiou sua mão em meu ombro me mostrando o que ele havia encontrado no chão:
- Esse não é o terninho roxo com que Élio foi sepultado?
Meus olhos quase saltaram do meu rosto, ao que tudo indicava, enfim havíamos encontrado uma pista. Minhas esperanças se renovavam mais uma vez.
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O Híbrido: Despertar do Híbrido {Livro 2}
Ficção GeralA vida é uma caixinha de surpresas, que nos vive pregando peças às vezes boas e às vezes nem tão boas... O segundo livro da Saga O Híbrido.