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Matteo


Parei logo na entrada do jardim da casa de Grace. Fiquei encarando à distância a faxada, meu olhar foi de encontro com a sacada do quarto de Élio, foi inevitável uma enxurrada de lembranças não me atingir naquele momento.

Eu podia sentir uma enorme tristeza e um imenso vazio pairando sobre àquela residência que antes era tão alegre e colorida. As luzes do jardim estavam apagadas, assim como de toda a casa, exceto uma, a luz da sala.

Voltei a minha forma humana e lentamente fui caminhando até os degraus da varanda. Os subi cuidadosamente. Uma ansiedade incomum parecia querer me sufocar. Sem sombra de dúvidas, meu nervosismo era notável. Será que Grace realmente me receberia bem? Será que a situação não seria muito desconfortável? Eu precisava criar coragem para olhar nos olhos dela novamente.

Agora eu estava totalmente imóvel em frente a porta de entrada. Sem pensar muito, toquei a campainha uma única vez. Meu nervosismo aumentou ainda mais! Agora era tarde demais, eu não podia voltar atrás.

Som de chaves girando a maçaneta se fizeram presentes. Pronto! Era chegada a hora que eu tanto temia. Era hora de encarar a mãe do meu grande amor e esperar pelo resultado. Era hora de eu enfrentar os meus demônios... Os meus fantasmas.

A porta se abriu. Grace ficou paralisada ao me ver, sequer tirou a mão da maçaneta. Ela estava com os cabelos soltos e um pouco bagunçado, vestia uma camisola de seda branca, aquela cor com certeza a deixava com a aparência mais pálida do que provavelmente ela estava realmente. Ela não usava maquiagem alguma, mesmo assim, sua beleza era inegável.

Depois de alguns instantes que mais pareceram eternidade nos encarando, pois eu estava com medo de sua reação, pude perceber seus olhos começarem a ficar marejados... Então, em um impulso e para minha total surpresa, ela se lançou contra mim me abraçando fortemente.

- Matteo!! Que bom que você veio! - Ela disse com a voz abafada próximo ao meu ouvido, enquanto acariciava minha nuca com uma das mãos.

- Eu jamais deixaria de vir. - Falei enquanto tentava conter um choro que teimava em querer me escapar. Mas eu resistia, eu estava cansado de chorar na frente dos outros. Isso nunca foi de mim. Já estava mais do que na hora de eu dar um basta. Eu precisava, mesmo que me afogando em dor interna e em silêncio, voltar a ser o velho Matteo. Mas será que eu seria forte o suficiente para tal coisa?

- Obrigada por vir... Estou tão feliz por ter atendido ao meu pedido. - Disse ela enquanto ia me soltando lentamente.

- Não precisa me agradecer por isso. Também estou muito feliz por ter vindo. - Disse sem coragem de a olhar nos olhos.

- Vem, vamos entrar. - Ela me puxou pela mão.

Passamos pela porta e ela a trancou em seguida. Ainda de mãos dadas, ela me guiou até a sala de estar já tão conhecida por mim. Cada centímetro daquela casa tinha um pedacinho de Élio. Era doloroso demais pra mim estar ali novamente sem ele.

- Sente-se. - Pediu ela me indicando o sofá maior enquanto ela se acomodava na poltrona mais próxima a lareira.

- Obrigado. - Agradeci me acomodando totalmente sem jeito. Meu desconforto era bem visível.

- Deseja alguma coisa, uma bebida? Isso eu sei que você pode. - Ofereceu ela com um sorriso triste.

- Não... Não precisa se incomodar, eu estou bem assim.

- Você quem sabe...

Um breve e perturbador silêncio tomou conta do ambiente por alguns instantes... Era constrangedor. Eu tentava puxar em minha mente algum assunto que eu pudesse conversar, porém, eu tinha medo de dizer alguma besteira. Para mim estava muito claro que Grace não estava nada bem. Sem sombra de dúvidas, ela estava sofrendo muito mais do que eu, afinal, ela era mãe. Como eu queria ter o poder de tirar essa dor dela, a dor de ter perdido seu único filho.

O Híbrido: Despertar do Híbrido {Livro 2}Onde histórias criam vida. Descubra agora