Mareena
Eu e Tia Grace estávamos à caminho de minha casa. Eu tinha esperanças de que minha mãe estivesse bem e que o susto devido ao incêndio já houvesse passado.
Com toda a certeza minha mãe me faria muitas perguntas. Mas o que mais me deixava intrigada, era o que aconteceu comigo. Como eu poderia ter despertado depois de tudo o que aconteceu? Como voltei a vida?
E o Élio? Onde ele poderia estar? Por que ele acordou do sono da morte? Como isso podia ser possível?! Eu estava quase enlouquecendo devido a tantas perguntas sem respostas em minha mente. Confesso que um certo medo me dominava. Tudo isso tinha que ter uma resposta muito convincente. Será que aquela noite, no Templo de Lucius, havia mudado meu amigo? Será que quando nos encontrássemos novamente, ele já não estaria mais do jeito que eu me recordava?
- Mare... - A voz de Grace me trouxe de volta à realidade.
Nós estávamos caminhando lado a lado. A neve voava pelo ar com leveza com o auxílio da leve brisa que soprava naquela noite. A cidade estava um tanto silenciosa demais. Provavelmente, os moradores estavam recolhidos em suas casas tentando se manterem aquecidos do frio severo que se fazia presente.
- Diga, Grace... - Eu a olhei de lado enquanto mantinha meus braços cruzados na intenção de Alguns flocos de neve que caíam, aos poucos iam se acumulando nos cabelos da mulher de semblante triste e preocupado que mantinha seu olhar fixo ao chão, dava a impressão que ela contava os passos.
- O que vocês queriam dizer quando falaram que meu filho pode estar mudado? - Perguntou ela sem desviar o olhar das pontas dos pés.
- Aconteceram muitas coisas naquele templo, Grace... - Respondi calmamente.
- Eu não consigo entender... Eu tenho tanto medo, tantas dúvidas... Como meu filho pode estar vivo? Eu o vi morto, Mare! Isso não faz sentido. Parece muita loucura o que vocês disseram!
- Pois é... - Concordei. - De certo modo, o mundo mágico é cheio de perguntas às vezes sem respostas. Coisas estranhas podem acontecer a todo momento, mas... - Fiz uma pausa tentando encontrar as palavras certas para continuar meu diálogo.
- Mas o quê? - Agora Grace desviava seu olhar atento para mim.
- Depois que começou a despencar o mundo mágico, a cidade em si não foi mais a mesma! - Disse a ela.
- Eu só queria uma vida normal para o meu filho! Grace começou a chorar novamente meio que cobrindo o rosto com as mãos.- Sempre quis ver ele cercado por pessoas que realmente o amam. Aí após anos, quando finalmente meu filho estava tendo uma vida feliz, aquele desgraçado do Lucius aparece para estragar tudo! Eu não me conformo!- Ei... - Eu parei de caminhar e apoiei a mão sobre o ombro da mulher. - Não chore. Vai ficar tudo bem. Nós vamos dar um jeito nessa situação. Você não faz idéia de por quantas coisas nós passamos juntos. O Élio é muito forte. Ele vai aparecer, ele vai passar por cima de mais esse obstáculo... Seja lá qual for.
- Eu só tenho medo dessa tal mudança à qual vocês se referiram que meu filho sofreu. Tenho medo do meu filho ter perdido a inocência e leveza que ele tinha. Eu tenho medo que essa tal mudança tenha transformado meu filho em um monstro, Mareena. - Ela disse por fim.
- Tenho certeza que, seja lá por qual mudança o Élio tenha que passar, ele jamais se tornará um monstro. O amor que ele carrega no coração é mais poderoso do que qualquer coisa. Ele nunca se entregaria.
Já havíamos chegado mais perto de minha casa agora. Faltava pouco para encarar minha mãe de frente depois de tudo que havia acontecido. Ao longe, eu já conseguia avistar uma leve fumaça subindo em direção ao céu. Indicando que o fogo estava controlado.
O caminho estava silencioso e um tanto escuro demais. Eu só conseguia pensar em como os minha mãe reagiria ao me ver. Eu esperava, do fundo do meu coração, que o incêndio não tivesse destruído toda a nossa casa. Depois de dias inconsciente, eu precisava de um banho e roupas limpas.
Alguma coisa começou a me incomodar... Eu sentia como se alguém estivesse nos observando. Eu olhei para o meu lado e Grace continuava a caminhar olhando para o chão em silêncio novamente.
- Grace... - Sussurrei.
- O quê? - Perguntou ela intrigada. Com certeza o fato de eu estar sussurrado a perturbou um pouco.
- Vamos apertar o passo... Acho que estão nos seguindo. - Avisei quase que em tom inaudível.
- Mas como?! - Ela arregalou os olhos.
Eu segurei sua mão, e então, começamos a apertar o passo. Quando já estávamos quase que por terminar de cruzar o caminho pouco iluminado, nossa caminhada foi interrompida por um grupo de três pessoas paradas bem à nossa frente. Apenas alguns metros de distância nos mantinham afastadas daquelas figuras estranhas.
- Droga! - Murmurei.
- O que está acontecendo, Mare?! - Pude notar um certo tom de medo na voz dela.
- Eu não sei...
As três pessoas ali, de pé obstruindo nossa passagem, agiam estranhamente. Pude notar que elas sequer piscavam os olhos. Era uma cena um tanto pavorosa.
- O que é isso? Quem são essas pessoas? - Grace voltou a perguntar.
- Eu não faço a mínima idéia... Vamos sair daqui! - Disse enquanto me virava bruscamente para voltar pelo caminho em que viemos.
Porém, quando terminei de dar a volta no mesmo lugar, percebi que atrás de nós haviam mais duas pessoas. Ambas no mesmo estado que as outras três.
- O que vocês querem?! - Perguntei indignada. Eu estava começando a perder a calma.
Mas tudo que recebi como resposta foi o silêncio. As pessoas não nos davam qualquer resposta. Apenas ficavam nos encarando com olhos esbugalhados e com um semblante vazio. Era como se estivessem sem alma.
Lentamente, eles começaram a avançar em nossa direção. Um passo após o outro... Passos lentos e perturbadores.
- O que vocês querem com a gente?! - Grace ergueu o tom da voz. Ela estava trêmula.
- Que Merlim nos proteja! - Foi a única frase que consegui dizer.
Aquelas estranhas pessoas continuavam a avançar em nossa direção, sem dizer qualquer palavra. O fato de elas se manterem em silêncio me causava um certo pavor. Eu só conseguia pensar que elas não tivessem qualquer boa intenção.
Grace se aproximou mais de mim e agarrou firmemente meu braço. Ela estava apavorada. Eu conseguia sentir seus músculos estremecendo.
Agora as pessoas estavam a poucos centímetros de nós. Estávamos cercadas. Eu apenas suspirei fundo e me preparei para o pior. As pessoas dominadas por aquele perturbador silêncio com certeza queriam nos fazer mau, eu conseguia ver isso em seus olhares vazios... Fechei os olhos.
- Droga! - Murmurei uma última vez.
Quando eu já não tinha mais esperança alguma de sairmos bem daquela situação, ouvi uns leves estalos. Era como fogo queimando a pólvora. Abri meus olhos bem no momento em que Diretora Ofélia se materializava bem diante de nós.
Com apenas um gesto, a velha e poderosa feiticeira lançou um pulso de energia que arremessou os indivíduos silenciosos para longe.
- Vocês estão bem? - Perguntou ela com aquela conhecida voz rouca.
- Agora... Estamos sim! - Gaguejei.
- Vamos embora daqui, agora! - Ordenou ela no mesmo instante em que nos tocava e estalava os dedos de uma das mãos, assim nos fazendo sumir no no ar.
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O Híbrido: Despertar do Híbrido {Livro 2}
Ficção GeralA vida é uma caixinha de surpresas, que nos vive pregando peças às vezes boas e às vezes nem tão boas... O segundo livro da Saga O Híbrido.