— Se acontecer qualquer coisa... Você me liga, está me ouvindo? — olho para minha mãe e sorrio sem graça, enquanto sinto minhas mãos suarem de nervoso. É o primeiro dia do último ano do Ensino Médio em uma nova escola, com meu nome morto sendo deixado para trás. Foi uma luta para fazer isso acontecer e minha mãe não desistiu nenhum minuto.
Agora, sou Lawrence Jauregui, tenho dezessete anos, estou prestes a começar o senior year e aqui estamos, no estacionamento da Coral Bay High School em Miami, Flórida. Olho de relance para minha mãe, através do espelho retrovisor do carro e vejo que ela está com as mãos bem firmes no volante.
Clara Morgado está mais nervosa que eu.
— Mãe, não vai acontecer nada... — engulo em seco, com medo de estar sendo otimista atoa. A minha vida toda, entre o pessimismo e o otimismo, resolvi ser realista. O quão ruim pode ser o primeiro dia de aula em uma escola nova? Para um garoto cis, pode ser uma oportunidade de fazer novos amigos. Para um garoto trans? Pode ser um pesadelo. Mas a questão aqui é que não tem uma placa na minha cabeça anunciando minha sexualidade. É um colégio novo, ninguém me conhece, ninguém ao menos sabe do meu passado na minha antiga escola. E para ser franco comigo mesmo, depois de eu ter cortado o cabelo, ganhado alguns músculos na academia no verão e passado a utilizar uma faixa para disfarçar meus intrusos em quase tempo integral, eu quase posso passar despercebido como um garoto muito baixinho e desajeitado.
— Tudo bem — ela respira fundo e olha pra mim — eu te amo, está bem? Lembre-se disso se algum idiota zombar de você.
Ninguém vai zombar de mim porque ninguém me conhece. É o que tento me forçar a acreditar. Preciso acreditar nisso da mesma forma que preciso de ar para respirar. É lógica básica. Matemática básica.
Meu coração se enche de carinho pela aceitação de minha mãe e eu suspiro, feliz. Foi um caminho e tanto que percorremos até aqui, desde o dia que eu contei a ela sobre minha identidade. Eu lembro que chorava sem parar, porque eu não queria que ela começasse a falar. Quanto mais eu chorava, mais quieta Dona Clara ficava e no final tudo o que tínhamos era um silêncio ensurdecedor. Mas, contrariando todas as probabilidades e estáticas, ela apenas me deu um beijo na testa e disse "eu te amo o mesmo tanto que amei a dois minutos atrás." e só foi assim que permiti relaxar em seu abraço.
— Prometo — falo pra ela — agora posso ir, chefe?
Ela ri do apelido besta.
— Saia do meu carro e vá aproveitar o primeiro dia de aula.
Ela não precisa pedir duas vezes. Sentindo o que seria o início de uma gastrite nervosa, salto do carro depois de dar um beijo em sua bochecha.
A cacofonia de adolescentes conversando no estacionamento é irritante. Com passos firmes e segurando a alça da minha mochila no ombro, vou marchando em direção a entrada. Respira fundo, um... dois... três. Só preciso passar na secretaria, pegar meu horário e fingir que sou invisível pelo resto do ano letivo. Sei que recebo alguns olhares e tento pensar que, não, não é porque sou trans e sim porque sou apenas a única pessoa nova da escola inteira.
Ao longe, vejo a turma do futebol e do outro lado, a turma das patricinhas e mais a frente, a turma do clube do coral. É igualzinho a qualquer série idiota da Netflix.
No entanto, estou tão concentrado em chegar em meu destino, que quando entro pelos portões da escola em direção ao corredor principal, o tombo é inevitável. Sinto a colisão contra uma outra pessoa e o desequilíbrio tomando conta dos meus pés em questão de segundos. Gemo de dor ao cair duro no chão e levanto o olhar. Lembra a parte que eu mencionei, garoto baixinho e desajeitado? Então. Sou um menino de um metro e sessenta e um de altura, sem jeito, desgovernado e que costuma tropeçar nos próprios pés. Prazer, este sou eu.
— Olha por onde anda, caramba — a garota se levanta do chão e tira a poeira da roupa. Me olhando de cima pra baixo, me sinto constrangido com seu olhar. É como se ela estivesse analisando e me olhando por dentro dos meus olhos. — Você ainda está dormindo, por acaso?
Mordo a parte interna das minhas bochechas e me levanto do chão. A garota tem cabelos escuros, e amarrados em um rabo de cavalo. Sua pele morena indica que ela tomou muito sol nessas férias e sua roupa de líder de torcida demonstra que ela talvez seja o tipo de garota popular e que namora com o quarterback. E eu não posso não mencionar aqui: é a garota mais bonita que eu já vi na vida. Minhas mãos suam, meu coração acelera e é tudo tão previsível que chega a ser engraçado... mas, não consigo encontrar forças para rir.
— Desculpe — murmuro sem graça — estou tentando chegar na secretaria.
A garota sorri pra mim, tentando ser legal.
— É logo ali — ela aponta em direção a um dos corredores — estava indo pra lá também.
Vamos até a secretaria em um silêncio confortável e ao pegar nossos horários, espio por cima do ombro da garota e sorrio ao ver Matemática Avançada escrita em seu papel. Temos a primeira aula juntos. Pelo menos, apesar de parecer popular, a garota deve ter o cérebro no lugar.
— Qual você disse que era seu nome mesmo? — ela olha pra mim com um sorriso de canto que me faz sentir algo. Tem alguma coisa nela, que é quase hipnotizante... Não sei se é seu olhar castanho ou seu sorriso, mas me forço a pensar em coisas neutras, como por exemplo a torrada de café da manhã horrível e queimada que minha mãe fez pra mim antes de sair de casa e o seu café forte demais. Mas não adianta mesmo, a garota à minha frente continua sorrindo e meu estômago continua a se contorcer.
— Eu não disse... Mas sou o Lawrence, prazer. — Estico a mão pra ela, sem saber se é assim que adolescentes de hoje em dia se cumprimentam, afinal, não é como se minha vida social fosse muito ampla. — E você, quem é?
— Camila — ela sorri pra mim. — Camila Cabello, capitã das líderes de torcida e ah, logo você deve conhecer meu namorado, quarterback do time de futebol, Austin Mahone.
Contenho a vontade de revirar os olhos. Eu disse que ela é a garota popularzinha da escola, não disse? Bingo.
Para passar despercebido o resto do ano letivo, só preciso me afastar dessa garota, dos meninos do time de futebol e sentar no fundo da sala... é só isso, afinal, o quão difícil deve ser?
Eu só preciso sobreviver mais cento e setenta e nove dias.
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Lawrence
FanficLawrence Jauregui está começando uma nova vida. O último ano do ensino médio está prestes a começar e agora que ele finalmente deixou seu nome morto para trás e tem a aceitação completa de sua mãe e de seus irmãos, ele conhece Camila Cabello, a líde...