Hospital

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Eu e Camila acordamos por volta das três horas da manhã e não conseguimos, de jeito nenhum, pegar no sono de novo. Estamos agitados e parece que fomos recarregados na tomada enquanto dormíamos.

— Hmm — ela murmurou, se espreguiçando na cama — não vou conseguir dormir mais.

— Você já está melhor? — pergunto sobre sua dor de cabeça, preocupado que ela ainda possa estar se sentindo meio doente. Meu estômago se revira, porque afinal, odeio vê-la assim tão abatida.

— Minha cabeça parou de doer... — Camila sorri fraco — Será que está tarde para ir ao hospital? Sua mãe não parece ter voltado.

— Vamos ver... — saltamos da cama, calço um par de chinelas e empresto outro para Camila, pego meu celular em cima da mesinha de cabeceira e descemos em direção a cozinha, encontrando a casa tão quieta quanto estava anteriormente. Respiro fundo, resignado, sem saber muito o que fazer. Deveríamos ir ao hospital? Se tivesse acontecido alguma coisa ruim, minha mãe já teria ligado, não?

— Tem alguma mensagem da sua mãe? — checo o celular e suspiro mais uma vez, sem ideia do que fazer.

— Nada — dou de ombros — o que acha de eu passar um café, apenas para nos livrarmos de qualquer resquício de sono e então eu chamo um Uber para o hospital? Eu ligo pra minha mãe nesse meio tempo.

Camila concorda, já pegando a cafeteira na cozinha. Nunca fui muito fã de café, mas desde que Chris sempre gostou, aprendi a apreciar aos poucos e para ser sincero, as vezes, cafeína é útil. Enquanto isso, telefono para minha mãe que atende no primeiro toque.

— Mãe? — pergunto assim que ela atende — como está aí?

— Oi, filho — ela tem aquele tom de voz tranquilo e calmante — desculpe não ter ligado antes, mas Pamela só saiu agora pouco com notícias. A avó de Camila está bem, estável agora. Vocês querem que eu busque vocês?

Sorrio aliviado, graças a Deus alguma notícia boa.

— Não precisa vir buscar, mãe — respondo dando uma piscadinha pra Camila que deve ter ouvido a fala de minha mãe pelo som do meu celular ser alto — a gente pega um Uber.

— As três horas da manhã?— minha mãe não gosta muito da ideia, mas não quero que ela tenha esse trabalho de vir pegar a gente tão tarde — tem certeza que não é melhor esperar até de manhã cedo então?

— É tranquilo, mãe — falo tentando acalmá-la, eu não conseguiria (e nem Camila), ficar parado em casa com as pernas para o ar esperando ela sair do hospital para vir buscar a gente. — Estamos juntos e é um percurso curto. Não vai acontecer nada.

— Tudo bem — minha mãe suspira — Taylor está tirando um cochilo em uma das poltronas da sala de espera e eu vou ficar acordada esperando vocês. Deixaram Anthony entrar no quarto de Elizabeth.

Suspiro, pelo menos sabendo que o avô de Camila pode entrar no quarto e que a senhora mais velha não está sozinha. Eu e Camila não demoramos muito para pegar o Uber depois disso, tiramos os pijamas para uma roupa mais confortável e tomamos o café que fizemos antes de sair. Acontece que, de madrugada, as ruas de Miami são silenciosas. E sentados no banco de trás do carro, não consigo evitar e seguro a mão de Camila com carinho. Minha cabeça dá voltas e mais voltas.

— Vai ficar tudo bem — murmuro mais para mim do que pra ela. Tudo o que Camila falou sobre a assistente social vir buscá-la me arrepiou até o último cabelo do corpo. E se alguém resolvesse tirar Camila daqui? Tipo, mesmo? E se eu nunca mais a visse? Faço força para parar os pensamentos intrusivos, mas ao olhar para Camila de soslaio, a preocupação aumenta ainda mais. Agora que me acostumei com sua presença constante, seus beijos tímidos e sua presença de tirar o meu fôlego em questão de segundos, me pergunto como viveria sem isso.

Assim que chegamos no hospital, saltamos do carro e de mão dadas, entramos no ambiente esterilizado. Camila respira fundo ao meu lado e eu olho ao redor, não demorando muito para encontrar minha mãe e minha irmã.

— Camila! Filho. — Minha mãe corre em nossa direção e eu suspiro. Ela parece estar exausta, sua testa está enrugada com uma marca de expressão de preocupação e ela me ignora apenas para puxar Camila para seu abraço.

Eu achava que Camila já tinha tido sua cota de choro, mas assim que ela abraça minha mãe, vejo seu corpo tremer e balançar.

— Shh — minha mãe sussurra em seu ouvido e eu sorrio um sorriso tímido e pequeno. Acho que é diferente receber carinho de mãe, mesmo que não seja a sua. E pelo visto, Camila está mesmo precisando porque a abraça com mais força ainda — vai ficar tudo bem querida.

Camila pega um pouco de fôlego e se afasta um pouco. Ela está linda vestida minha camiseta de Digimon e uma bermuda larga.

— Como ela está?

— Estável, querida — minha mãe sorri pra ela fazendo mais um pouco de carinho em seus cabelos — foi um susto daqueles.

Camila sorri com um sorriso meio aguado porque ela está chorando de novo.

— Eu acho que nunca passei tanto susto na minha vida... — ela murmura com os olhos cheios d'água. A visão dela chateada me perturba.

— Ela vai ficar em observação por mais alguns dias — minha mãe entoou — mas seu avô não queria sair daqui e eu prometi a ele que cuidaria de você essa semana em nossa casa. Está tudo bem?

Engulo em seco, sem saber onde vim parar. Me esconder de Camila por mais uma semana meio que fazia parte dos meus planos, mas ela morar em casa por uma semana, torna tudo mais difícil.

Camila não demora muito para ser chamada para ir ver a avó, deixando eu e minha mãe sozinhos com Taylor que está tirando uma soneca sentada em uma das cadeiras da sala de espera e tem ate baba escorrendo por seu queixo, reviro os olhos com a cena previsível e resolvo ir pegar uma água no bebedouro ao lado do corredor que Camila tinha acabado de entrar. Pego um copo, enchendo de água e tomando um gole enorme. Minha garganta está seca. E quando vejo, minha mãe está ao meu lado de novo.

— Está tudo bem com Camila ficando em casa essa semana? — Dona Clara pergunta com a sobrancelha arqueada.

— Está — engulo em seco, mais uma vez.

Minha mãe, parecendo ainda mais desconfiada, me pergunta:

— Está acontecendo alguma coisa entre vocês? Porque se esse for o caso.... — ela ergue um pouco a voz parecendo brava e preocupada, o que é um péssimo sinal — você deve ser sincero com ela.

— Mãe! — falo um pouco mais alto do que deveria, atraindo olhares de alguns pacientes — não é o suficiente pra isso, ok? Não temos nada.

— Você me escute — ela passa a pegar outro copo d'água também enquanto me olha de cara feia — eu te amo do jeitinho que você é, mas se eu pegar você mentindo e enganando aquela garota, você vai ter um problema, Lawrence.

— Mãe — ela parece uma leoa protegendo Camila, como se tivesse acabado de ganhar uma filha extra. Ela está defendendo Camila igualzinho defende eu, Chris e Taylor. — Eu não vou enganar e mentir pra Camila, eu só estou... ganhando coragem, tudo bem?

De repente, minha mãe sorri de volta como se nunca tivesse ficado brava na vida e dá um beijo suave em minha testa.

— Tudo bem — ela sorri de lado — eu sei que não tem um pingo de maldade aí dentro, mas às vezes, conversar antes é melhor do que remediar depois.

— Obrigado — sorrio pra ela, e agradeço com sinceridade jogando o copo de água do lixo ao lado. No entanto, por mais que seu conselho fizesse sentido, acho que prefiro a parte do remediar depois.

— Pelo quê? — minha mãe pergunta sem entender porque estou agradecendo de repente.

— Por amar Camila desse tanto — sorrio, me sentindo melhor quase que no mesmo instante. 

LawrenceOnde histórias criam vida. Descubra agora