Jacksonville

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Aviso: há cenas de transfobia nesse capítulo. Digamos que é o capítulo mais pesado até agora. Estamos chegando na reta final da primeira parte da fanfic, que vai ser divida em 3 partes sendo elas: o primeiro jogo, o segundo e o terceiro que será as finais das regionais em Utah. Com isso dito e avisado, vamos ao capítulo:

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Quatro semanas de detenção com Austin chegaram ao fim, dando início ao nosso primeiro jogo da temporada. Estou mais nervoso do que nunca, quase subindo pelas paredes do meu quarto. Minhas mochilas estão arrumadas em cima da minha cama e estou tendo que levar a testosterona, porque acabou que a aplicação da semana vai coincidir com a data do jogo. A volta de Camila para a escola foi, no mínimo, complicada, eu diria. Eu, Ally, Normani e Dinah tentamos fazer uma barreira contra as fofocas e acho que deu certo, apesar da nossa popularidade (que mal tínhamos) ter caído a ponto de termos que sentar perto das latas de lixo de novo.

— Hey! — um nerd do primeiro ano encarava Camila no intervalo — tá olhando o quê, idiota?

E eu mal pisquei direito e quando vi, estou entrando no ônibus escolar que nos levaria a Jacksonville. Segunda-feira é um dia esquisito para partir, mas o jogo seria na quarta, etão acredito que estamos com tempo.

Eu me despeço de Normani e Ally no estacionamento da escola e para o meu desespero, minha mãe está lá também.

— Eu queria ir ver vocês... — Ally sorri — mas é meio que impossível irmos até Jacksonville, boa sorte Law.

Dou um último abraço em Ally e depois em Normani. Minha mãe me pega pelos braços e sussurra em meu ouvido:

— Fique bem, filho e ligue pra mim ou Audrey se precisar.

Engulo em seco, mal preparado para ir embora. Camila e Dinah estão logo atrás de mim e a maioria das líderes de torcida e dos jogadores de futebol já entraram no ônibus. Minha mãe olha pra mim com preocupação genuína e antes mesmo de sairmos, ela deu um discurso imenso que qualquer coisa que eu precisasse era para falar com o treinador Grayson ou ligar para a minha psicóloga, que está apostos para caso algo aconteça.

— Vamos, Law — Camila me chama — só falta a gente.

Dou um último abraço na minha mãe e sem olhar pra trás, entro no ônibus. Acabo sentando sozinho no ônibus porque Dinah e Camila sentam uma do lado da outra e se eu fosse franco, eu meio que não quero companhia. Trouxe fones de ouvido, um livro e um bloquinho de notas no caso de eu precisar escrever alguma coisa. Pelo menos, sentar sozinho é melhor do que sentar ao lado do treinador.

A viagem é uma bagunça. Quatro das cinco horas são preenchidas com conversas, gritarias e músicas que todos cantaram cem por cento desafinados. Mal consigo ler qualquer página do livro que o professor de inglês mandou ler e tento dormir um pouco, só conseguindo pegar no sono nas últimas horas de viagem.

Meus problemas começaram quando chegamos no hotel perto das 19h00. Não demoro a descobrir que vou dividir o quarto com Louis, Harry e Shawn. Sabendo que teria que dormir com a faixa e que meus intrusos sofreriam nos próximos quatro dias, resolvo tomar um banho assim que chegamos porque logo iríamos até o campo de futebol fazer um reconhecimento de área.

O outro time não demora a chegar e eu tento não me preocupar muito quando vejo os outros jogadores. Garotos gigantes, eu diria. Até mesmo maiores que Harry e Louis. Estamos voltando do campo, e eu entrando no elevador sozinho quando sou parado por dois dos jogadores do outro time.

— Calma aí quarterbackzinho — um deles segura no meu ombro e eu congelo — a gente precisa ter um papo legal com você.

Eu odeio como quarterback soa no diminutivo.

Nós três entramos no elevador e eu torço para que chegue no sétimo andar logo, mas parece ter ficado mais lerdo do que o normal. Me sinto ameaçado por eles e logo sei que coisa boa não vai vir.

— Teu nome é Lauren, não é? — eu congelo. Minhas pernas param de se mover, meus músculos se contraem, meus lábios se entreabrem e entro em modo de sobrevivência. Um dos meninos sorri sacana e olha pra mim como se fosse dono do mundo — é, a gente meio que fez a nossa pesquisa. Queríamos entender o time adversário e mal pudemos acreditar quando descobrimos que o nosso adversário é uma garota.

Eu quero gritar. Responder que NÃO PORRA, eu não sou uma garota. Mas meus lábios continuam tremendo e quando o elevador apita, indicando que chegamos no sétimo andar, me desvio dos meninos sentindo lágrimas quentes nos meus olhos. Abro a porta do quarto com violência, enquanto ainda tremo, e dou de cara com os meninos que olham pra mim como se tivesse crescido uma segunda cabeça em meu pescoço.

— Lawrence — é Harry quem se aproxima primeiro — o que houve, cara?

Eu sei que Harry não é uma ameaça, o tom de voz dele suave e preocupado demonstra isso, mas quem disse que eu consigo raciocinar nesse momento? Meu corpo responde por mim quando eu me desvio dos meninos e me tranco no banheiro. Bato a porta com força, e me sento contra ela. As lágrimas e soluços não demoram a vir e eu sinto minha cabeça doer como nunca doeu antes.

Quero entender como aqueles idiotas descobriram meu nome morto. Devem ter descoberto a escola que eu frequentava antes de Coral Bay e entrado em contato com os alunos, só pode ser. Aqueles imbecis da minha antiga escola estariam rindo de mim agora se pudessem.

A humilhação deixa um gosto amargo na minha boca. Tão amargo que não consigo controlar a comida do almoço no meu estômago e quando vejo, estou ajoelhado do lado da privada vomitando como se fosse uma criança doente. As lágrimas voltam para o meu rosto e tento controlar a minha respiração como Audrey havia me ensinado, mas quanto mais eu tento, pior fica.

— Lawrence! — escuto a voz do treinador do outro lado do quarto — abra a porta!

Não. Não posso. Se ele me ver nesse estado com certeza vai me tirar do time e eu preciso levar Camila a Utah. Não posso ser expulso.

— LAWRENCE! — O treinador grita mais uma vez — Abra ou vamos arrombar!

Antes mesmo de ele terminar a palavra arrombar, volto a escorregar no chão mais uma vez. Meus olhos piscam e minha visão fica turva. A porta sendo destruída é a última coisa que escuto antes de apagar por completo.

LawrenceOnde histórias criam vida. Descubra agora