Chris Jauregui

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Quando saio da consulta com a minha psicóloga, estou exausto. Quero ir direto pra cama depois de tomar um banho, mas minha mãe tem um sorrisinho sacana no rosto enquanto dirigimos de volta pra casa. Às vezes, sinto como se minha mãe fosse uma adolescente e não uma adulta responsável por três seres humanos.

Sempre me pergunto como Chris conseguiu passar pelo ensino médio com a cabeça sã. Acho que às vezes mamãe se cobrava demais e acabava exagerando em muitas coisas. Meu pai ir embora não só deixou marcas em mim e nos meus irmãos, mas como nela também. Desde que Mike Jauregui foi embora com o velho carro que tínhamos na garagem, Clara nunca mais foi a mesma e não é como se ela não tivesse outros pretendentes (E PRECISO pontuar que não é como se a ideia de ter um padrasto me agrada), mas mesmo assim, os homens, mais novos e mais velhos, abriam passagem para ela no mercado ou se ofereciam para levar as compras.

— O que tá rolando? — pergunto desconfiado.

— Você vai ter uma surpresa quando chegar em casa — não sei se devo ter medo disso, por isso apenas fecho os olhos e espero o percurso terminar.

Escuto vozes quando entro em casa e um sorriso do tamanho do mundo toma conta do meu rosto. Sobrepondo a voz irritante de Taylor, a voz masculina do meu irmão invade meus ouvidos e o cheiro de bolo recém comprado e café passado faz meu estômago roncar. Chris sempre pedia por bolo e café quando vinha pra casa.

— CHRIS! — Minha mãe me bate no ombro revirando os olhos e falando para não gritar, eu a ignoro e vou direto pra sala, onde meu irmão já está lá.

Chris então ignora o que minha irmã está dizendo para vir me cumprimentar. Ele está rindo quando me abraça alegre e dá um tapinha delicado (talvez não muito) na minha orelha. Eu rio que nem criança em dia de festa e Taylor nos observa com cara de nojo.

— Meninos... — ela murmura.

— Porque não disse que vinha?! — eu sorria tanto que o meu maxilar chegava a doer.

— Já ouviu falar de uma coisa chamada surpresa? — Chris sorri malicioso.

Depois disso, ficamos eu, Chris e Taylor sentados no chão da sala conversando e jogando UNO. Pela primeira vez lembrei que meu celular existe e tiro uma foto nossa, postando no instagram. Ao mesmo tempo, procuro os usuários de Normani e Ally, não demorando muito para achar. Eu rio quando verifico os dois perfis. No de Ally, as fotos eram mais dela na Igreja ou no retiro para jovens. Já Normani, mais coisas sobre a adolescente mística que ela é.

O meu cansaço do dia quase foi embora, substituido pela adrenalina de ver Chris e quando deitei na cama para dormir, não consegui pregar os olhos. Não tenho ideia do que deu no Chris para vir de repente e no começo do ano letivo, mas não nego que ele vir faz maravilhas para o meu bem estar. Me pergunto se talvez, há uma possibilidade de faltar na aula essa semana, ou pelo período que ele estiver aqui, mas sei que se eu sugerir isso, minha mãe é capaz de dar um tapa em minha orelha tão grande que vai doer pelas próximas gerações.

Estou tentando pregar os olhos e apenas DORMIR quando escuto uma batida da minha porta.

— Lawrence — Chris sussurra invadindo meu quarto — anda, levanta.

— Chris? — pergunto confuso — que foi?

— Vem — o sorriso sapeca continua em seu rosto, como quando éramos crianças e ele tinha acabado de pensar em uma ideia brilhante para deixar nossa mãe louca. Como na vez em que nos escondemos atrás dos brinquedos no parquinho. Era só para provocar Taylor, mas minha mãe quase chamou a polícia alegando que seus dois filhos estavam desaparecidos.

— Vem pra onde? — pergunto.

— Só vem — ele revira os olhos — coloca uma roupa esportiva, vou te esperar na sala.

Só então reparo nas roupas de Chris. Ele está com a calça característica de futebol americano e camiseta do time da universidade.

Desistindo de dormir, porque afinal qual adolescente precisa de 8h completas de sono?! Levanto da cama e trato de me arrumar com a melhor roupa esportiva que tenho e quando encontro Chris na sala, todas as luzes estão apagadas. Ele coloca o indicador nos lábios e fala "shiiiiu ou vai acordar a mamãe" e me sentindo como se tivesse dez anos, nós escapamos para fora de casa e só quando já estamos lá fora, vejo que Chris está com a chave do carro.

Ele senta no banco do motorista e eu pego o lugar do passageiro. Pelo caminho que o vejo fazendo, estamos indo para a minha escola.

— O que tá havendo? — pergunto pra ele — porque estamos dirigindo para Coral Bay às três horas da manhã?

— Pra que você acha? — Chris revira os olhos, mas ele está rindo — vamos jogar futebol.

Invadir minha escola não é uma coisa que está nos meus planos e nossa mãe nos mataria se fôssemos descobertos. Quando chegamos, Chris abre o porta-malas retirando uma bola de futebol e eu não tinha ideia de como ela tinha ido parar ali e para a minha completa surpresa, entrar no campo de futebol foi mais fácil do que eu imaginava que seria, mas claro, não conseguimos fazer isso sem, pelo menos, pular os portões.

— Anda logo — Chris já está do outro lado tirando a poeira das calças.

Concentrado, coloco um pé nas grades do portão, depois o outro e mais um e quando vejo estou no topo. A altura é bem menor que o telhado de Camila, então não sinto medo. Sabe quando você ri de nervoso? É isso o que me acomete porque quando dou impulso para pular no outro lado, sinto um desejo insano de rir e gargalhar.

Chris também está sorrindo e juntos corremos campo adentro.

Ficamos horas jogando a bola um para o outro. Corremos, brincamos, rimos e me sinto livre como sempre acontece quando estou com Chris. No entanto, deve ser quase quatro e meia da manhã, antes mesmo do sol nascer que ouvimos uma voz irritada do outro lado do campo que me lembra muito a voz do treinador quando estava puto da vida com Austin quando ele tinha acabado de socar Drew Chadwick. Quando olho pra cara dele, posso notar que ele já está nos observando há algum tempo.

— Que invasão é essa?! Eu vou ter que chamar a polícia? — ele está furioso — Jauregui!

— Oi! — eu e Chris falamos ao mesmo tempo e eu controlo a vontade de rir porque nem a menção de chamar a polícia consegue me assustar.

— Não você — o treinador olha feio para Chris — esse Jauregui — e ele aponta pra mim.

— Treinador... — começo o que é um pedido patético de desculpas — sentimos muito. Só queríamos nos divertir nessa noite.

— Diversão? — ele sorri malicioso e eu sinto um suor escorrendo pela minha camisa. De repente, sinto medo do que está por vir — você vai ver o que é diversão, Jauregui. Eu vou te dar três opções aqui pra você escolher qual vai ser a sua punição por causa da sua invasão de madrugada.

Engulo em seco e olho de relance para Chris que está petrificado e com um singelo pedido de desculpas estampado em sua cara.

— Opção número um... — o treinador começa — você vai participar do clube do teatro ajudando a montar o cenário para a peça de fim de ano. — A primeira opção não é tão ruim e penso em abrir a boca para responder logo de uma vez, mas ele levanta o dedo pra mim para que eu ficasse em silêncio e o obedeço — opção número dois... atividades extracurriculares com a professora Claire. E opção número três, você vai entrar no meu time porque estou procurando um quarterback e eu nunca vou falar pro diretor que peguei você às quatro horas da manhã no meu campo.

Estou prestes a abrir a boca, falando que escolho a opção número dois porque, qual é, tarefas extras de matemática não parecem ser tão ruins assim, quando Chris abre a MALDITA BOCA E RESPONDE POR MIM!

— Ele escolhe a última opção, senhor — Chris fala, de repente ficando tímido.

O treinador abre um sorriso imenso, substituindo toda a raiva pela felicidade repentina.

— Ótimo — ele fala — te vejo hoje às 15h30. Se não aparecer, vou arrumar uma detenção pra você.

Acho que estou em choque porque não consigo falar. E apesar de não estar irritado com Chris, estou apenas surpreso demais para ter algum raciocínio lógico. Acho que preciso um banho de água fria para acordar desse pesadelo que Chris me colocou.

LawrenceOnde histórias criam vida. Descubra agora