Stereo Hearts

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 — Esse aqui é lindo... — minha mãe aponta para um conjunto de trajes de futebol americano e eu suspiro pelo o que seria a décima vez desde que saímos de casa aquela manhã.

— Mãe. — Falar firme talvez funcione e é isso o que tento fazer — não preciso de uniformes novos, a escola já dá para os jogadores e é o suficiente.

Clara faz uma careta pra mim deixando claro seu descontentamento. Desde que ela descobriu que seu filho do meio é o novo quarterback do time de futebol de Coral Bay High School, ela nos arrastou (Eu, Taylor e Chris) para uma loja de departamento para comprar tudo novo, por mais que eu insistisse que a escola já tivesse metade daquelas coisas. Eu e Chris ainda estamos sem nos falar direito, apenas por intermédio de Taylor e quando descubro que ele estaria voltando para Cali na noite de domingo, decido por fim que ele não poderia voltar achando que eu estou brigado com ele.

— Tudo bem — minha mãe não esconde o ressentimento no tom da sua voz e eu encolho os ombros. Sei que estou tirando toda a diversão dela, mas não tem a mínima possibilidade de eu ir com um traje verde enquanto todos os alunos usam o característico vermelho. — Mas pelo menos uma bola nova nós vamos levar, aquela lá em casa está horrível.

Isso eu tenho que concordar com ela. A bola que temos em casa foi comprada no meu décimo segundo aniversário.

Saímos da loja com uma bola nova e já no carro, resolvo mencionar que tenho uma festa hoje à noite.

— Então, posso ir, chefe? — volto a usar seu apelido carinhoso e ela revira os olhos pra mim. Estou sentado no banco de trás ao lado de Taylor, enquanto Chris ocupa o lugar característico dele no banco de passageiro.

— Ally e Normani vão com você? — ela pergunta desconfiada.

— Vão — respondo porque é verdade, já tinha mandado uma mensagem para as duas e apesar de Ally ter respondido sim com certa cautela, Normani foi a primeira a enviar emojis confirmando. —E prometo não voltar tão tarde.

— Nem tarde, nem bêbado — vejo minha mãe segurar o volante com força e olho pelo espelho retrovisor o sorrisinho sacana de Chris que deve estar adorando me ver pedir permissão para ir na minha primeira festa da vida.

— Sim senhora, nem tarde, nem bêbado. — Confirmo mas logo pergunto: — Três da manhã é tarde?

— Lawrence! — minha mãe exclama e olha pra mim, vejo um fantasma de um sorriso em seus lábios — Uma da manhã, nem um minuto a menos, nem a mais.

— Obrigado — falo sorrindo.

— Mãe? — Taylor pergunta baixinho assim que ficamos em silêncio.

— Sim, querida?

— Posso ir também? — quero rir de repente, porque sei que não tem a mínima chance de Clara Morgado deixar Taylor ir em uma festa antes dos quinze, então não me surpreendo quando minha mãe solta um "claro que não" e não seguro a risada quando vejo a cara azeda de Taylor.

Já mais tarde, horas antes de sair para a festa, estou tendo um momento raro que é arrumar meu cabelo na frente do espelho do banheiro. A pomada modeladora de cabelos está aberta em cima da pia e faço uma careta para o meu reflexo quando vejo algumas espinhas no meu queixo, porque é claro que a maldita testosterona teria efeitos colaterais.

Me distraindo dos meus próprios pensamentos, escuto uma batidinha na porta do banheiro envergonhada e ao olhar pela fresta, vejo que é Chris.

— Posso te ajudar? — ele murmura.

— Sim — respondo pra ele no mesmo tom de voz — não sei o que estou fazendo na verdade.

Ele entra no banheiro e fica atrás de mim, pronto para pegar a pomada da minha mão e me ajudar no penteado. Por um minuto, que vai embora tão rápido quanto veio, fico desconfortável pela nossa diferença de altura. Minhas bochechas esquentam e não pela primeira vez, me pergunto porque não posso ser igual a Chris. Depois de alguns minutos e alguns toques no meu cabelo com o pente, estou quase que passado a ferro. Talvez arrumado demais para uma festa adolescente.

LawrenceOnde histórias criam vida. Descubra agora