Igreja

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Faltam cento e quarenta dias para o fim do ano e uma semana para o Halloween. Mas na verdade, não tenho certeza porque parei de contar há algum tempo. Eu e Camila não definimos nosso relacionamento como um namoro, mas algo mudou, porque agora andamos de mãos dadas nos corredores e ela me beija nos lábios em despedia assim que voltamos para casa depois de um dia cansativo de aulas e treinos.

— Você e Camila estão ficando sem namorar? — Ally pergunta confusa, certo dia que Camila disse que pegaria carona com Dinah.

— Qual é o problema, Allycat? — Normani pergunta sentada ao lado dela no banco — todo mundo faz isso hoje em dia.

— É que... — Ally ergue a sobrancelha e posso ver sua confusão pelo espelho retrovisor — deixa pra lá...

Ela murmura.

— O que foi? — pergunto curioso — tem algo de errado?

Ally está esquisita o dia todo hoje.

— Bem — as suas bochechas coram — teremos um evento na Igreja esse final de semana e eu sei que esse não é um evento ideal pra vocês, mas eu queria saber se bem... vocês poderiam ir me ver cantar?

Eu não sei bem como me sentiria dentro de uma Igreja. Seria estranho, mas desde que Allycat esteja feliz, não me importo.

— Claro que iremos, Ally — respondo por Normani e Camila, o que acho, para ser sincero, que as deixa incomodadas no final das contas.

O final de semana não demora a chegar e minha mãe ergue a sobrancelha, quando me vê todo arrumado na sala de estar. E falando em Clara Morgado, ela está toda esquisita esses dias. Esquisita do tipo apaixonada; mandando mensagens o dia todo quando está em casa, sorrindo às escondidas e saindo para encontros nos seus dias de folga.

Você? Numa igreja? Que bicho te picou?

— Não é assim... — falo constrangido e a campainha toca, revelando Camila após Taylor abrir a porta para ela — é que Ally vai cantar.

— Lawrence Jauregui — Camila fala, irritada — você sabe como foi difícil achar uma roupa para ir à Igreja? Minha avó quase pulou de alegria quando contei.

Taylor e minha mãe riem.

— Isso — falo sem graça — vão rindo, uma hora Ally vai arrastar vocês também.

Christ Fellowship Miami é enorme, e mais parece um shopping. Quando chegamos no carro de Dinah, estou mortificado no banco de trás. Eu quero mesmo prestigiar minha amiga, mas qual é, ela não podia ter escolhido cantar num cabaré?

— Vão indo — Camila fala para Dinah e Normani — eu e Lawrence acompanhamos vocês.

Elas saem do carro e Dinah entrega a chave para Camila que passa para o banco de trás para me encarar com mais preocupação. Ao longe, posso ver Normani fazendo o sinal da cruz antes de sair do estacionamento em direção a porta. Quero revirar os olhos e rir ao mesmo tempo.

— Ally vai entender se você não quiser entrar — Camila aperta minha mão na dela e faz um carinho reconfortante ali — ela meio que já esperava que não fôssemos, na verdade.

— Eu quero, Camila — respondo, nervoso — mas é meio perturbador entrar num lugar onde as pessoas me matariam se... se...

— Está tudo bem — Camila me corta, porque estamos entrando em um tópico complicado da conversa — Não é como se eles fossem me receber de braços abertos se soubessem de tudo sobre mim. Só temos que suportar uma horinha, o suficiente para ouvir baboseiras do pastor e ver Ally cantar. E se você achar que quer ir embora... é só apertar duas vezes a minha mão que saímos sem pensar duas vezes.

LawrenceOnde histórias criam vida. Descubra agora