Ally Brooke

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Se tem uma coisa que começo a adorar em Allyson Brooke é a sua altura que mais parece de um Hobbit (sem ofensas, Ally). Estamos sentados na arquibancada do campo de futebol e seus um metro e cinquenta e dois centímetros me fazem parecer alto. Consigo ver Camila agitando as líderes de torcida mais a frente e reviro os olhos. Ela é tão previsível.

Desde o nosso encontro desastroso de ontem, não nos falamos mais. Temos Matemática Avançada juntas, mas não há motivo nenhum pra gente conversar nas aulas. Ela fica sentada com Austin, agarrada em seu braço, andando pra lá e pra cá com ele. E na maioria das vezes que os vejo juntos, tenho vontade de vomitar.

Quando Allyson chegou em casa mais cedo nesse mesmo dia, minha mãe me fez passar vergonha, uma atrás da outra, sem parar. Ao chegarmos, havia um banquete em cima da mesa com café passado, bolo de laranja e todos os doces que você pode imaginar. Além disso, ela ficou falando sem parar de como era ótimo que eu tinha arranjado alguma amiga.

Se Ally percebeu que sou um garoto trans, ela não demonstrou nada. Sempre me chamando no masculino, às vezes me pergunto como que eu consigo passar despercebido. Talvez ela só ache que eu seja um menino afeminado. E ah, eu preciso quebrar a quarta parede dessa história aqui pra te contar algo que eu reparei hoje de manhã e me fez gritar: eu tenho CERTEZA que nasceu alguns pelinhos onde deveria ser minha barba. Desde que comprei um produto para aumentar os pêlos, tenho custado para sentir diferença, mas hoje de manhã eu acordei, me olhei no espelho como pouco fazia, e TCHARAAAAM, pelos! Havia pelos no meu rosto e ninguém poderia acabar com meu dia hoje.

O jogo foi caótico. Austin, o quarterback, é bom, o que faz jus para a sua posição no time. O problema foi que o outro time era tão bom quanto, o que dificultou as coisas. E bem no final, podia ver o capitão do time da outra escola fazendo comentários sobre Camila que me deixou louco da vida, mas não o suficiente para fazer alguma besteira em público.

E olha que eu nem estava tão perto assim deles, o idiota que reconheci ser por Drew Chadwick, falava mesmo muito alto. Eles já tinham tirado os capacetes e eu podia ver pelas expressões dos jogadores que o time da nossa escola estava destruído por ter sido derrotado na própria casa, mesmo que tenha sido apenas em um jogo amistoso de começo de ano. Essa é a primeira semana de aula e os garotos do time já estão tentando se matar, maravilha.

— As líderes de torcida da Coral Bay são muito gostosas — Chadwick tem um sorriso maldoso no rosto e se acha o maioral. Tenho vontade de socá-lo tanto quanto Austin parece ter. — Hey, seu nome é Camila, não é? Você está livre mais tarde?

— Seu imbecil — Austin está enfurecido. As vozes estão um pouco distantes, mas ainda conseguimos ouvir a discussão porque toda a arquibancada entra em um silêncio mortal. Você seria capaz de ouvir um alfinete caindo.

Sinto Ally agarrar no meu braço, nervosa. Surpreso fico quando não me sinto desconfortável com seu toque e penso que talvez, possa ser um avanço.

— Isso vai dar ruim — Ally murmura desesperada do meu lado — Austin tem um temperamento...

A garota baixinha mal tem tempo de terminar a frase, Austin, dominado pelo ciúmes e pela fúria de ter perdido um jogo, dá um soco no outro garoto que parece mal se afetar pelo movimento. No entanto, o soco parece ter machucado mais a mão de Austin do que o próprio alvo. Todos arfam e o treinador tenta intervir, mas nesse ponto, Drew acerta o rosto do namorado de Camila e não demora muito até o sangue começar a escorrer do seu nariz.

— CHEGA! — O treinador grita alto o suficiente e o do outro time agarra Drew pelo ombro, retirando-o do campo, indo em direção ao vestiário — Você está suspenso pelo resto do ano.

LawrenceOnde histórias criam vida. Descubra agora