Para meu desgosto, ao sair para jogar o lixo naquela mesma noite, dou de cara com Camila, como se estivesse me esperando. Mas desta vez, ela está diferente. Seus cabelos ainda estão molhados, como se tivesse acabado de sair do banho. Sinto minhas bochechas esquentarem e me pergunto o que Camila está fazendo ali fora a essa hora, pegando friagem. Metade de mim deseja que ela estivesse me esperando, embora meu lado racional insista que o melhor seria me afastar. A outra metade, no entanto, acha que ela só pode ser maluca. Espero que a realidade seja essa segunda opção — faz bem mais sentido.
— Quarta-feira é seu dia de tirar o lixo? — ela pergunta divertida enquanto dispenso a sacola no protelixo, torcendo para que nada exploda dessa vez.
— Vai me dizer que você não tira o seu? — não escondo o tom de provocação em minha voz.
— Eu tiro sim — ela revira os olhos — mas às terças.
— Eu sinto muito — corto ela de repente e me dou conta no que acabo de falar — por Austin e toda aquela confusão no refeitório.
— Não tem problema — ela sorri sem graça — eu já estava tentando terminar com ele há algum tempo, mas nada dele me ouvir. Acho que gritar foi a única solução que encontrei.
Por um minuto desejo que meu pijama tivesse um bolso, porque não sei o que fazer com as minhas mãos que sempre ficam suadas quando estou perto dela. Quero descobrir o motivo do término, mas não porque estou interessado em qualquer coisa que Camila faz ou pense, mas sim porque ser curioso faz parte da minha natureza. Porque uma líder de torcida deixaria o quarterback? E se Austin tivesse razão, e se o único motivo por Camila ter terminado com ele era porque agora ele não está mais no time? Ela não pode ser tão fútil assim, ou pode?
— Hey — de repente Camila tem um sorriso maroto no canto dos lábios que faz com que eu sinta um frio na minha espinha. Ela tem cara de quem vai aprontar — precisa ir dormir cedo igual um bebê ou tem um tempo agora?
— Pra que você... — mal tenho tempo de terminar a frase, logo Camila solta uma gargalhada alta e me pega pela mão me levando em direção a uma escada enorme que está na lateral da casa dela, onde há um corredor dividindo as duas casas. Até hoje me pergunto onde fica o quarto dela e o porquê não estamos protagonizando uma cena de um clipe da Taylor Swift.
— Camila...
Antes que eu possa por algum juízo na cabeça da líder de torcida, ela já está subindo as escadas em direção ao telhado. Agora imagine a cena: dois adolescentes subindo o que deveria ser mais de dois metros com uma escada de qualidade duvidosa. Um destes adolescentes está vestido de roupinha de super-herói e a outra acabou de sair do banho e sei que se Camila não tomar cuidado, vai pegar o resfriado do século.
De repente, me sinto ridículo. Qual adolescente de dezessete anos usa pijama combinadinho de super-heroi? Pelo visto, eu. Me pergunto se Camila tem algum pijama da Mulher Maravilha escondido em algum lugar. É muito provável que não.
— Não vai me dizer que é cagão e tem medo de altura? — ela sorri me provocando e eu não demoro a ficar com uma cara feia. Odeio quando as pessoas falam que eu tenho medo de algo quando eu não tenho. Eu não sou cagão!
— Tá bem — resmungo e me preparo para subir assim que ela chega ao topo. Já em cima, minhas pernas estão tremendo e eu estou implorando a Deus e a todas as entidades existentes que não me deixem cair e ganhar um gesso de presente de aniversário adiantado. Assim que subo, nós dois nos acomodamos no telhado e quase que de imediato me sinto em alguma comédia romântica adolescente de John Green, exceto, talvez pelo fato de não existir nenhum romance aqui.
— Eu costumava trazer minha irmã no telhado da nossa antiga casa — Camila admite como se tivesse anunciando um crime para a polícia — irresponsável, eu sei. E nossa mãe ficava louca, mas era o único jeito de escapar de Alejandro.
De novo, mordo meus lábios com força e agradeço por estar à noite e escuro. Quem é Alejandro? Me forço a não perguntar nada, não quero saber, não quero saber de Camila e nem quero entender porque eu resolvi seguí-la para esse telhado rídiculo.
— Nós paramos de subir no telhado quando Sofia caiu e quebrou o braço — Camila continua a falar e me pego desejando que ela cale a boca. Eu não quero que ela desabafe comigo, com um garoto que ela acaba de conhecer. Ela não tem uma melhor amiga para cumprir esse papel? — minha mãe fez um escândalo e isso culminou no divórcio. Então ela pegou minha irmã e se mudou para Utah e eu vim pra casa dos meus avós.
Então, bem aqui sob as estrelas do céu de Miami, faço a pergunta mais estúpida que posso pensar em fazer nesse momento em que ela está desabafando comigo. E no final do dia, sei que só estou desesperado para que ela pare de falar porque eu não quero tirar a imagem da líder torcida perfeita da minha cabeça porque eu sou teimoso demais e porque eu só tenho que sobreviver a mais cento e setenta dias.
— Qual o seu signo? — Camila olha pra mim, desacreditada e então, ela ri e eu tento consertar as coisas. — Desculpe, é que conheci uma garota louca dos signos essa semana e estou com a cabeça nas nuvens, acho.
Eu acho? Eu tenho certeza. Camila me encara com um olhar que não sei decifrar. Isso me deixa tonto por um minuto. É como se ela estivesse sendo saudosa comigo e feliz por ter encontrado alguém para conversar, mesmo que eu não seja um mestre da arte de conversação.
— Sou de Peixes com ascendente em Touro — ela ri — e você?
Não tenho a mínima ideia do que seria o signo ascendente, mas dessa vez eu realmente sinto vontade de me derrubar desse telhado e morrer porque a única coisa que eu consigo me lembrar é do eco da voz de Normani dizendo que câncer combina com peixes.
— Leão — minto pra ela — sou de leão.

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Lawrence
FanfictionLawrence Jauregui está começando uma nova vida. O último ano do ensino médio está prestes a começar e agora que ele finalmente deixou seu nome morto para trás e tem a aceitação completa de sua mãe e de seus irmãos, ele conhece Camila Cabello, a líde...