Quando Clara Morgado coloca eu e Taylor sentados no sofá às oito e meia da noite desta segunda-feira, eu sei que há algo de errado. Ela está com as mãos grudadas uma na outra, seu olho esquerdo treme e seus lábios estão quase brancos. Primeiro, me preocupo de imediato: e se aconteceu algo com meu pai? Eu não gosto do cara, mas não quero que ele morra.
E quem de fato tem motivos para ficar estressado e nervoso sou eu: desde aquela conversa que tive com Camila na sorveteria tenho subido pelas paredes. Tudo o que eu mais quero é contar a verdade logo porque sei que deixar para mais tarde é pior, mas não tenho a mínima ideia de por onde começar. Meus pensamentos morrem quando minha mãe, resolve falar;
— Então — ela arranha a garganta — eu estou namorando.
Arregalo os olhos, minha boca se abre e meu queixo vai ao chão. É bem pior que a morte do meu pai.
— Namorando?! — falo voltando a mim mesmo depois de um ou dois minutos em silêncio, Taylor sequer pisca . — Qual o nome dele?
Taylor abre a boca pela primeira vez, em choque.
— Não é um ele. — é Taylor quem atira a primeira pedra e minha mãe congela no lugar. — É ela! Puta que pariu! Mamãe entrou pro vale!
A risada característica de Taylor invade a sala, fazendo com que o momento constrangedor se dissolva. Minha mãe revira os olhos e dá um tapa de leve no ombro da minha irmã. Admito que ainda estou meio abalado, mas não por causa de ser uma garota... ou de uma mulher, no caso.
— Filho? — ela pergunta pra mim quando Taylor se acalma — está tudo bem?
— Está — falo arregalando um pouco os olhos — desculpe! você sabe que pode namorar quem quiser, não é sobre o gênero que estou incomodado!
— Então você está incomodado? — minha mãe arrisca em dizer, sem esconder o quão chateada — bem, suponho que eu posso falar com ela e tentar dissolver...
— NÃO! — falo em bom tom e ela me olha, assustada — desculpe, tá bem? eu estou feliz, estou de verdade! porque você se esforça tanto pela gente e não tem um momento só seu há anos e agora começou a fazer o que pessoas normais fazem... eu não estou bravo pelo namoro, estou bravo com meu pai.
— O que papai tem com isso, Lawrence? — é Taylor quem me pergunta irritada — o filho da puta largou a gente e mamãe merece ser feliz uma vez na vida, o que custa?
— É só... — tento conter meu desespero — você namorar outras pessoas significa que meu pai nunca mais vai voltar, mãe — um nó se faz presente em minha garganta — e eu sei que já me conformei com isso há muito tempo... tipo, ele foi comprar cigarro e nunca mais voltou. Mas sei lá, às vezes, no meu inconsciente, eu ainda penso que ele vai passar por aquela porta e pedir desculpas por ter desaparecido.
Minha mãe chega mais perto e se senta no sofá, ao meu lado. Taylor ainda me olha desconfiada, e mordo os lábios, com força.
— Eu namorar ou não, não vai fazer seu pai voltar Lawrence — minha mãe é firme no que diz mas ao mesmo tempo é carinhosa porque faz carinho em meu couro cabeludo — ele foi porque ele quis, não por alguma coisa que eu fiz ou deixei de fazer. E ele não é de todo ruim. Ele está pagando por sua terapia e há algumas semanas ligou pedindo novidades sobre você, o que eu não comentei porque eu não queria te distrair no jogo em Jacksonville.
— Então — Taylor pergunta com um olhar atrevido — porque está contando tudo isso agora? Há algum motivo especial?
— Bem — Minha mãe cora, o que eu acho rídiculo e fofo — tem sim. Convidei ela pra jantar aqui em casa e conhecer vocês.
— Mãe! — me encolho no sofá — não é cedo demais?
Taylor bate em meu ombro:
— Pare de ser puritano — ela resmunga — isso é ótimo, mãe, quando seria?
— Amanhã de noite, já que estamos com uma mania de atrapalhar nossa rotina da semana.— Ela nos olha com uma cara de divertimento que não tem nada a ver com um puxão de orelha de "hey, vocês estão saindo demais e isso vai atrapalhar a escola."
Suspiro, ressentido, sabendo que Camila já estava fazendo planos para um encontro nas alturas: uma noite de pizza com vinho de morango em cima do telhado de Elizabeth. No entanto, trago logo de tirar a cara feia do rosto e sorrio para minha mãe, tentando mostrar que "Oi, eu sou seu filho e estou feliz por você".
— Posso ir pro meu quarto? — pergunto desajeitado.
— Desde quando você me pede pra subir pro seu quarto? — Clara ergue a sobrancelha e ri. — pode subir querido.
Sentindo uma inspiração inesperada para fazer algo, qualquer coisa, vou até o quarto em busca de papeis e canetas coloridas. É curioso, porque sei que minhas habilidades artísticas são tão limitadas quanto as de futebol americano eram, mas, mesmo assim, me vejo sentado à mesa, com um lápis em uma mão, uma borracha gasta na outra e um pedaço de papel sulfite, cuja parte de trás tem algo impresso pela velha impressora da minha mãe, que já não funciona mais.
Penso no meu pai, no porquê dele ter ido embora e largado eu, Taylor e Chris à mercê dos únicos cuidados da minha mãe. Era injusto Clara precisar cuidar da gente sozinha, afinal, ela não nos fez sozinha. De acordo com ela, em algum momento da vida dele, era o sonho do meu pai também. Aquela família comercial de margarina que todo homem na casa dos seus vinte anos deseja.
Penso na mulher em que minha mãe está saindo e torço para que ela seja alguém decente, mas não muito maluca, porque Clara Morgado já é doida o suficiente. Começo a imaginá-la com minha psicóloga, o que me faz rir, mas eu logo apago essa imagem absurda da minha mente. Tento adivinhar como minha mãe conheceu a namorada! Será que ela baixou mesmo o tinder? São questões que não sei se quero saber.
E quanto mais eu reflito, mais mensagens de Camila eu ignoro sem querer. E quando vou pegar meu celular já tenho metade de um rosto na folha do papel com olhos expressivos e dez mensagens não lidas da líder de torcida.
Resolvo ligar para ela para tentar parar de pensar em minha mãe beijando alguém.
— Oi — Camila ri divertida assim que atende no primeiro toque — lembrou que eu existo?
— Drama queen — falo brincando — é só que o caos explodiu aqui em casa e resolvi te ligar.
— O que pode ser tão ruim quanto vovó Elizabeth ter deixado a dentadura cair no copo d'água durante o jantar?
Faço uma careta de nojo de imediato.
— Acho que é tão perturbador quanto — dou de ombros, brincando com a borracha em cima da mesa — minha mãe está namorando uma mulher! — falo logo de uma vez.
— Isso é ótimo! — Camila vibra, feliz — sério, Lawrence! Porque está tão chateado?
— Eu não estou chateado! — ressoo.
— Está sim — Camila ri — porque? Sério, bobo.... Se Alejandro tivesse arrumado uma namorada depois que minha mãe se foi para Utah, ele não viveria de mau-humor o tempo todo.
Toda vez que ela menciona esse cara sinto arrepios em minha espinha. Eu odeio o modo como ela fica na defensiva quando fala dele.
— Não sei porquê — mando a real — acho que só estou de luto pelo meu pai ser um babaca. Só isso.
Nós conversamos mais um pouco, mas evito falar sobre conversas difíceis, sendo tópicos sensíveis: a nova namorada da minha mãe e a dentadura de Elizabeth. Camila tem o belo dom de me distrair e, quando dou por mim, estamos conversando sobre memes de gatinhos mais viralizados no TikTok. Não demoro a abandonar o desenho em cima da mesa e me deito na cama enquanto continuamos a falar sobre tudo e nada ao mesmo tempo.
Quando me dou conta, estamos nos despedindo e Camila sussurrando pra mim:
— Te adoro, Law.
Não é um eu te amo, mas recebo como se fosse.

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Lawrence
FanficLawrence Jauregui está começando uma nova vida. O último ano do ensino médio está prestes a começar e agora que ele finalmente deixou seu nome morto para trás e tem a aceitação completa de sua mãe e de seus irmãos, ele conhece Camila Cabello, a líde...