Capítulo 35 - Cócite

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Os últimos meses foram uma sequência de emboscadas e ataques traiçoeiros.

Eu esperava que esses monstros honrassem suas antigas lealdades ao mar, mas cada um que me desafiava parecia mais cego e insano do que o último.

Suas bocas escancaradas, cheias de dentes serrilhados, gritavam o ódio que eu sabia que não era deles.

Não era natural — era forçado, quase como se houvesse algo em suas mentes que eu não conseguia ver.

Mas eu tinha uma suspeita.

Kraken. O nome queimava em minha mente como brasas. Aquela lula fodida seria capaz de colocar todo o oceano contra mim se tivesse os meios para isso, e algo me dizia que estava conseguindo.

E com o filho da puta do Thomas contando para ele sobre cada parte vulnerável do meu ser, só tornava as coisas mais complicadas. E, eu suspeitava, ele sabia mais sobre minhas fraquezas do que eu gostaria de admitir.

A cada criatura que enfrentava, sentia um propósito macabro por trás dos olhos cegos e enlouquecidos de meus adversários.

Eu acabava com eles rápido, sem hesitar, sem piedade, e a cada golpe que desferia, o mar parecia se tornar um pouco mais silencioso, como se até o próprio oceano segurasse a respiração.

Num desses combates, uma fera imensa, com dentes como lâminas de pedra, emergiu da escuridão.

Tinha a cabeça dura como uma rocha e tentáculos que se espalhavam como raízes de um carvalho antigo, segurando-me e tentando arrastar-me para as profundezas.

Seus gritos ecoavam, mas o medo era óbvio em cada som gutural que saía de sua garganta. Eu não esperava ouvir outra coisa.

— Vem aqui, que eu resolvo isso rápido pra você — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela.

Meus dentes estavam prontos para o embate, afiando-se instintivamente.

Com um golpe só, rompi a cabeça da criatura, que afundou lentamente até que o mar se acalmou.

As profundezas nunca tinham sido tranquilas, mas agora pareciam inquietas, como se aguardassem o próximo desafio.

Algo lá embaixo estava forçando-os a subir, e aquele algo usava meu nome como um alvo.

A última visão que tive enquanto a água voltava a escurecer era do sangue das criaturas misturando-se ao fundo do oceano, e eu sabia que aquela calmaria não duraria muito.



~



Sentado num iceberg no fim do mundo, em algum ponto congelado da Groenlândia, eu apenas observava o silêncio absoluto ao meu redor.

A vastidão gelada se estendia em todas as direções, cortada pelo brilho pálido das estrelas e pelo vento, que soprava com uma fúria congelante.

O frio nunca me incomodou, mas hoje, parecia que ele penetrava além da pele — alcançava onde nem mesmo minha forma demoníaca poderia aquecer.

O oceano à minha frente continuava quieto, quase respeitoso. Talvez as profundezas soubessem que, em qualquer outro dia, eu já teria esmagado tudo que ousasse interromper minha solidão.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora