02╿ Faça-os queimar.

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ɴᴀʀʀᴀᴅᴏʀ
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𝕺s ruídos fora do carro que era cercado por manifestantes quase tornava o diálogo que acontecia lá dentro impossível. Eles carregavam cartazes e placas com slogans de todos os tipos.

A rua mais movimentada de Seul estava sendo paralisada por uma multidão insatisfeita com o governo. Haviam gritos e canções de resistência que invadiam a casa dos moradores que residiam nas proximidades.

Nas calçadas, barracas foram montadas, algumas distribuindo mantimentos alimentícios, já outras, ajudavam a pintar cartazes e pessoas. Logo abaixo do semáforo, um palco havia sido erguido, e no centro dele, um microfone; esse que parecia esperar ser agarrado e utilizado. As caixas de som que haviam ao redor do palco, eram maiores que as pessoas: queriam se certificar de que todos ouvissem. E um pouco distante, nas ruas ao lado, viaturas esperando qualquer indício de discurso de ódio contra o governo para poderem agir.

Já no meio da multidão, alguns jornalistas faziam entrevistas com manifestantes fervorosos ao vivo.

─ Você veio a caráter. ─ o homem de meia idade que estava dentro do carro, portador de uma presença forte, disse, olhando para o lado.

─ Eu sempre ando trajado. ─ o rapaz ao seu lado afirmou, soando orgulhoso. Ele estava com uma calça preta, repleta de rasgos, junto a uma camisa básica branca e uma jaqueta de couro com uma escrita atrás. 

O homem de meia idade sorriu, negando com a cabeça. 

─ Não acha que está na hora de voltar? ─ perguntou, olhando de soslaio o jovem ao seu lado.

─ Você sabe. ─ o rapaz de cabelos pretos, com uma raiz que parecia querer pegar fogo e se alastrar pelos fios de seu cabelo, o fitou de forma séria. ─ É impossível voltar. ─ retornou seu olhar para a janela. ─ Minhas prioridades mudaram, mas é óbvio que eu ainda apoio a causa.

Ele suspirou.

─ E bem... ─ murmurou. ─ Depois de tudo, eu não acho que minhas palavras alcançarão eles.

O mais velho riu nasalado.

─ Não diga besteiras! Eu te vi sendo preso pela causa. Você entrou no ninho de cobras por nós! Você salvou vidas! ─ exclamou, apontando para os manifestantes que rodeavam o carro.

─ Eu sequer cheguei a ser preso! O governo achou uma forma de impedir minha ida! Me ofereceram uma coleira e eu aceitei de bom grado! Eu servi diretamente o governo! ─ disparou.

─ E você se arrepende? ─ o homem de meia idade viu o jovem hesitar em seu semblante. 

─ Não. ─ ele parecia sério. ─ Não me arrependo de nada, se me oferecessem de novo meu cargo como membro da ARGUS naquelas condições, eu aceitaria. ─ ele voltou a olhar para a janela. ─ Eu ganhei uma família, amens! ─ concluiu, xingando em latim. ─ E é exatamente por isso, exatamente por colocar outras prioridades acima do movimento que minhas palavras não os alcançarão. Eu já não sou mais digno.

─ E precisa? Precisamos ser dignos de fazer o fogo da injustiça queimar dentro dos outros? Precisamos ser dignos para abrir os olhos do povo? ─ o jovem ouvia atentamente as palavras do homem que fez algo queimar dentro de si. ─ É bom que não se arrependa do seu jeito de viver. Mas agora, agora que está aqui... enquanto você estiver aqui, precisa fazer isso. Mostre o caminho para eles, Yoongi. Faça-os queimar.

Os olhos de Yoongi brilharam com suas palavras. Um flash de memória do passado, de quando ele havia sido preso por liderar o maior movimento contra a ocupação militar estadunidense na Coreia, surgiu. A adrenalina correu por todo o seu corpo, como se gritasse para ele ir e fazer o que fez de melhor no passado: guiar o povo.

ARGUS╿Jikook - [2ª temporada]Onde histórias criam vida. Descubra agora