GIZELLY
Passamos horas dentro do carro, no mirante. Aquele lugar se tornou o nosso ponto crucial de encontro. Quando chegamos, ainda à noite, havia algumas pessoas por ali. Poucas. E conforme elas foram indo embora e só ficando nós duas, descemos do veículo para sentar na mureta ao lado de fora. Rafa ainda estava quieta, e só foi falar algo depois das duas da manhã. Antes disso, ela ficou totalmente dispersa de tudo.
Antes de encontra-la na porta de sua casa, preparei uma mochila com algumas coisas que serviriam para comermos durante a noite. Dormir, estava fora de cogitação. Pois mesmo eu não estando ali, eu sabia que sua cabeça estava a mil por hora. Na mochila havia frutas, água e biscoitos.
Agora estamos aqui, ainda na mureta, vendo o sol nascer. Já havíamos conversado sobre o que aconteceu e eu só tenho vontade de encontrar o ex noivo dela e descarregar todo o meu pente nele. Ela levantou por um instante e foi até o carro buscar a mochila, pois reclamou de fome e eu falei o que havia trazido. Logo voltou, mas não só com a bolsa, e sim com o telefone celular também.
- Deixei em modo avião e agora quase travou de tantas mensagens chegando e ligações perdidas.-
- Estão preocupados, você avisou que sairia?-
- Eu saí de casa e todos já estavam nos quartos. Não quero que ninguém saiba desse lugar, eu me sinto em paz aqui.-
Ela voltou a se sentar entre minhas pernas e abriu a mochila. Eu estava encostada no tronco de uma árvore. Comemos um pouco do que tinha e ela voltou a se aconchegar em mim. Não estava totalmente claro ainda, mas o céu já estava avermelhado.
- Eu gosto daqui também...- Comecei dizendo. - Mas assim que amanhecer, vamos ter que voltar. Aqui é sempre movimentado, já vim em todos os horários quando precisava pensar.-
- Não quero voltar pra casa ainda... Nem que eu alugue aquela suíte de motel e me esconda o dia todo. Eu só não quero ter que aguentar todos comentando sobre ontem.-
- Você ficou mexida com as coisas que ele te disse, né?!-
- Se eu não cortasse e desligasse, ele continuaria. Tive a impressão de que ele me ofenderia de coisas piores, mas se segurou por estar na igreja.-
Beijei seus cabelos.
- Não pense mais nisso, tá?! Cada vez que eu ouço você falando sobre isso e vejo seus olhos enchendo de água, tenho vontade de mandar ele visitar o outro plano mais cedo.-
- Não vale a pena. Ele já deve estar nervoso o bastante por eu ter deixado praticamente no altar.-
- Babaca!-
No mesmo instante, seu telefone celular tocou. Era a empresária.
- A Lella que me desculpe, mas não vou atender. Hoje não quero falar com ninguém.-
Ficamos em silêncio por uns instantes até o aparelho voltar a tocar. Agora era um homem. Rafa disse que era o irmão e mais uma vez deixou cair na caixa postal.
Tempos depois, quando o sol saiu por completo, resolvemos ir para o motel. Eu a faria pelo menos tirar um cochilo. Ela só queria se ver livre de todos e eu ajudaria. No entanto, quando estávamos prestes a chegar, seu celular tocou pela milésima vez. Era Manu, sua assessora.
- É melhor você atender. Diz que está bem e que volta pra casa mais tarde, assim eles param de ligar.-
Ela suspirou derrotada e atendeu.
"- Oi, prima.... Aí em casa? Fazendo o que essa hora?.... Por que? Eu estou longe.... Sim.... O que aconteceu, Manu?..... Tá, mas tem que ser agora? Eu só pretendia voltar mais.... O quê??? O que ele fez?..... Tá, tá, estou indo...-"
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A encomenda
Fiksi PenggemarGizelly Bicalho chegou ao Rio de Janeiro com o objetivo de matar a filha do empresário Sebastião Ferreira (a digital influencer Rafa Kalimann), mas depois de um mal-entendido ela acreditou que essa pessoa seria Marcella Ribeiro. Só que a verdade sem...