Capítulo 28

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GIZELLY

Abri os olhos e senti um incômodo forte nas vistas. A claridade me fez fecha-los rapidamente e abri-los aos poucos, até acostumar com a luz. O cheiro de álcool, medicamentos, e o barulho chato de aparelhos também me incomodou. Percebi que estava em um quarto de hospital, deitada em uma maca.

Assim que vi minha irmã cochilando na poltrona, no canto do quarto, tentei sentar. Mas não vi que meu ombro esquerdo e metade do meu braço estavam imobilizados. Só vi quando uma dor aguda me atingiu.

- Porra!- Resmunguei e Bianca me encarou.

Ela se ergueu rapidamente e se aproximou.

- Graças a Deus! Como está se sentindo?-

- Um pouco zonza e com dor nessa parte toda.- Pus a mão entre o ombro e o peito, para mostra-la, e ela assentiu.

- Vou chamar a enfermeira.-

- Quanto tempo fiquei desacordada?-

- Dois anos.- Arregalei os olhos. - Pois é! Já me casei com a Mari e temos um filho. E antes que me pergunte... A tia Graça veio te ver com a Ivy, e disseram que a sua garota também se casou. Tem uma filha e tá esperando outro bacuri.-

Fechei os olhos e tombei a cabeça para o lado oposto. Mas logo ouvi sua risada; o que me fez encara-la novamente.

- O que há de engraçado?-

- A sua cara... Você ficou fora do mundo apenas uma semana.- Pude respirar melhor. - Eles precisaram induzi-la ao coma, para a cirurgia.-

- Não se brinca com isso, Bianca.-

- Ei, eu só quis tirar onda com você.-

- Vai chamar um médico! Estou sentindo muita dor. Mas antes, levanta um pouco isso aqui.-

Ela mexeu em alguma parte daquela maca e logo a inclinou para cima. Quando se certificou de que eu estava confortável, saiu para chamar alguém.

Eu sentia um pouco de falta de ar e incomodo por não poder mexer meu braço. A faixa de pano dava voltas por meu tórax, imobilizando toda essa parte. Ombro, peito e braço (até o cotovelo).

Não demorou muito e Bianca voltou com uma enfermeira e uma médica. Ela me fez algumas perguntas enquanto a enfermeira foi anotando tudo na prancheta. Logo aplicou um medicamento direto no soro, enquanto dizia mais algumas coisas. E em nossa conversa, ela me explicava o que havia acontecido assim que dei entrada no hospital.

Eu estava desacordada e perdia muito sangue. O projétil lesionou alguns nervos, e por pouco o coração. Me levaram às pressas para a sala de cirurgia e retiraram a bala com urgência e muito cuidado. Tive duas paradas cardiorrespiratória, a cirurgia foi bastante delicada. No entanto, conforme os dias foram passando e eu ainda dormindo profundamente, os médicos detectaram o surgimento de um calo no osso.

- Mas isso vai ficar pra sempre? Esse calo?- Perguntei preocupada.

Ela sorriu simpática.

- Um calo ósseo não é um bicho de sete cabeças, pode ficar tranquila. É uma formação de osso que surge no local de uma fratura. Como o projétil atingiu e fraturou uma parte da sua clavícula, esse calo surgiu enquanto o osso se regenerava no pós cirúrgico. Mas é um processo normal de consolidação óssea e geralmente não precisa de tratamento. Porém no seu caso, estou vendo que vamos precisar.-

- E como é esse tratamento, doutora? Muito difícil?- Bianca perguntou interessada.

- Nada difícil. Vamos ver como as coisas vão ficar, e se esse calo vai se desfazer sozinho. Caso não se desfaça, vou receitar uma pomada específica, e com uma massagem diariamente, ele vai se desfazer. Mas de antemão eu já aviso que imprevistos podem acontecer, sempre sou bem sincera com os meus pacientes.-

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