Capítulo 27

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RAFAELLA

Uma semana depois...

Voltei à estaca zero, me trancando em meu quarto, afim de não falar com ninguém. Porém diferente do meu término com Allan, no qual eu sentia muita raiva, agora eu sinto tristeza. Tudo que eu não sofri antes, estou sofrendo agora.

Nos primeiros três dias eu preferi não encarar a minha família e nem os meus amigos, que se resumem à minha equipe. No entanto, conforme os dias foram passando, eu precisei reagir. Ia para o escritório pela manhã, à tarde no estúdio e à noite para casa. Quase não me alimentava, chegava sem ânimo algum e me trancava no quarto. Não queria mesmo conversa com ninguém! E sempre debaixo do chuveiro, deixava com que as emoções contidas durante o dia, saíssem. Descarregava tudo ali, a ponto de sair do banho com os olhos vermelhos e inchados.

Chorava por ter sido traída e enganada, pelo amor da minha vida.

Durante as noites, eu também deixava com que as lágrimas caíssem. Deitada na cama, debaixo dos cobertores. Não pensava em mais nada, há não ser nas informações que Gizelly havia despejado sobre mim.

Meus pensamentos só rondavam em torno da nossa última conversa e automaticamente todos os momentos que passamos juntas também. Principalmente os ruins. Com isso, eu comecei a puxar na memória (de forma involuntária) os primeiros dias da nossa viagem. A forma estranha como ela se comportava, as madrugadas que eu a via acordada, atordoada, o tiro que acertou um suposto animal no bosque, e a sauna. Meu coração acelerava cada vez que eu pensava. Eu senti a morte de perto, e tudo isso causado por ela.

Não conseguia parar de relembrar tudo um minuto sequer. E todas as vezes, me debulhava em lágrimas.

Quando a semana nova se iniciou, me aprontei para o dia e esperei Manoela para juntas irmos ao estúdio. Hoje o dia seria cheio, e eu teria muitos conteúdos para gravar.

- Bom dia!- Cumprimentei a todos quando chegamos, da mesma forma dos últimos dias. Em desânimo.

- Musa, posso falar com você?- Marcella chamou minha atenção e eu assenti.

Então seguimos para a sala de produção. Ela pediu para que os maquiadores nos desse licença e eles prontamente acataram o pedido.

- Aconteceu alguma coisa?- Perguntei preocupada.

- Sim, aconteceu! Seus conteúdos não renderam nada essa semana. Sei que está passando por um momento difícil, com mais um término, mas você não pode agir assim.-

Suspirei antes de responder:

- Desculpa, tá?! Eu prometo que vou me dedicar melhor hoje.-

- Quer conversar? Até agora eu não entendi o motivo desse término tão prematuro. Vocês estavam tão bem e você animada porque tinham começado com o namoro... O que aconteceu?-

- Não aconteceu nada, é só falta de atenção minha. Mas hoje eu vou...-

- Rafa, eu te conheço! Trabalho com você desde o seus vinte anos, você já tem quase trinta. Sei que não está bem e que algo muito sério aconteceu.-

- Só somos muito diferentes, e eu percebi isso. Mas agora vamos trabalhar, eu quero esquecer.-

- E sobre o assalto? Já está bem com isso?-

- Sim, meu pai reforçou mais a segurança.-

Ela assentiu e fez sinal para que voltássemos pro salão. Subi para o meu camarinho, junto de Manu, e com sua ajuda comecei a me aprontar para a gravação da primeira campanha.

Eu temia de Marcella desconfiar do meu tom de voz sobre o assunto, pois todo o meu comportamento corporal sobre isso, me denunciava. A verdade é que depois que Gizelly foi embora naquela noite, a polícia chegou e fez algumas perguntas. No outro dia fomos depor e eu menti descaradamente. Contei que eu vi os assaltantes voltarem para terminar aquela primeira tentativa de assalto (que agora eu sei perfeitamente que não era assalto algum). Mas preservei Gizelly e disse que atiraram em Ayrton, quando ele tentou me defender. Mais uma vez fiscalizaram as câmeras e essas estavam desligadas. Cheguei a conclusão de que o próprio motorista havia facilitado para o irmão dela, assim como ele desligou dessa vez, para não ser descoberto.

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