Capítulo 14

442 55 54
                                    

RAFAELLA

Quando cheguei em casa na manhã daquele sábado, enfrentei um dos piores momentos da minha vida. Eu nunca imaginei que Allan pudesse fazer tamanha crueldade. Não digo apenas pela exposição da traição, mas também pelo seu vitimismo. Se em algum momento eu me arrependi do que fiz, depois do que ele aprontou eu me arrependi de ter me arrependido. Allan foi baixo, subterrâneo, e eu não consegui nem terminar de assistir o vídeo.

A repercussão tem sido gigante, tudo na velocidade da luz. Eu não peguei no celular depois daquilo, desliguei o mesmo e o deixei de lado. Não queria ver minhas redes sociais despencando enquanto eu perdia meu público. Anos de trabalho, detonados em uma noite.

Hoje faz três dias que tudo aconteceu e até agora não tive coragem para encarar o mundo lá fora. Não saí do meu quarto para absolutamente nada, nem pra comer. E se não fosse minha família, e Kelly me trazer refeições, eu não sei como eu estaria agora. Embora não estivesse com um pingo de vontade de comer sequer um biscoito. Nem sede eu sentia.

Já era final de tarde quando meus pais bateram na porta. Eu estava assistindo um filme aleatório, pois era a única coisa que me distraí. Até nos programas de tv, falavam sobre o acontecido. Porém, eu não prestava atenção em nada do filme. Não conseguia me concentrar. Eles entraram e se sentaram na cama, me fazendo sentar também. Pausei a tv e os encarei.

Minha mãe começou:

- Demos tempo a você e deixamos a poeira abaixar para conversarmos.- Assenti e ela continuou: - Você já tinha conversado conosco sobre o seu noivado. Lembro que você nos disse não saber se realmente queria casar, mas que daria tempo ao tempo. Depois não voltou mais no assunto e se mostrou bem com o Allan.-

Suspirei devagar e respondi:

- Eu estive muito confusa nesses últimos dias. Achei que a crise fosse durar até o casamento, pois sabia da nossa rotina. Nos afastamos depois que precisamos focar na festa. Só que esse afastamento serviu de muita coisa, o Allan mostrou ser o que ele não era. E nesse período eu conheci a Bilu.-

- Bilu? Isso é nome?- Meu pai perguntou em desdém.

- O nome dela é Gizelly, mas todos a chamam pelo apelido.-

- E você gosta dela? Ou foi só carência?- Minha mãe voltou a me questionar.

- No início era sim, mas agora eu acho que gosto.-

- Acha?- Meu pai perguntou mais uma vez.

- Filha.- Minha mãe tomou a palavra. - Quando você era mais jovem, eu lembro que se envolveu com uma amiguinha. Mas depois que descobrimos, ela sumiu. Você disse que não eram mais amigas e logo em seguida nos apresentou o Allan. Quer ser honesta com a gente?-

- Estou sendo. Eu acho mesmo que estou começando a gostar dela. Mas ela não é daqui e já nos resolvemos. Foi a única vez que saímos pra jantar e dormimos juntas. Não tínhamos nada antes, rolou alguns beijos e só.-

- E como vai ficar isso? Você vai a público contar sua versão, ou o que?-

Eles tinham todo um cuidado ao falar.

- Eu não quero pensar nisso agora, nem sei como estão minhas redes sociais. Tenho certeza que perdi todos os meus patrocínios e meus seguidores. Ele acabou com a minha carreira, mãe.-

- E eu acabo com a dele!- Meu pai disse irritado.

- Não vai nada.- Minha mãe interviu. - A Lella pediu pra esperar um pouco, porque a equipe jurídica já está trabalhando... Continue, Rafa.-

- Foi isso... Na noite do casamento, que eu não dormi em casa, eu estava com a Gizelly. Mas não estávamos fazendo nada demais. Eu só queria sair daqui e ela me levou. A gente conversa, só que ainda não nos falamos desde então.-

A encomenda Onde histórias criam vida. Descubra agora