Capítulo 2

395 59 23
                                    

GIZELLY

Cachoeiro de Itapemirim / Espírito SantoHá 21 anos atrás

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Cachoeiro de Itapemirim / Espírito Santo
Há 21 anos atrás...

Seis horas da tarde era o horário pontual para o meu pai reunir meus irmãos, mãe e eu, no intuito de treinarmos as pontarias. Todos os dias, sem exceção. E eu tinha apenas seis anos quando comecei.

- Sua vez, Bilu!- Meu pai disse, assim que meus irmãos miraram os alvos e acertaram.

O objetivo era apagar o fogo do pavio com a bala. A minha vela estava ali, parada e acesa em minha direção. Era uma distância considerável e igual para todos. Petrix foi o primeiro, ele é o mais velho. Depois Bianca, Felipe e agora eu.

- Vai, filha!- Minha mãe me incentivou.

Mirei a arma em direção a vela e fechei um dos olhos. Minhas mãos tremiam, pois eu sabia que levaria um sermão se eu errasse mais uma vez. Não era a primeira vez que eu acertava uma árvore no quintal, ao invés do alvo.

O disparo saiu e aquele barulho alto e oco que o tiro fez, me assustou. Consegui acertar a vela, porém sem apagar o fogo. A mesma foi parar no chão, com a marca da munição.

- Outra vez???- Meu pai foi rude. - Se não serve para atirar, não serve para defender a nossa família.-

- Pai, pega leva. Ela é só uma menina.-

- Cale a boca, Petrix. Ela tem que aprender desde cedo a ser uma justiceira respeitada. Aliás, todos vocês!- Apontou para meus outros irmãos e tanto Bianca quanto Felipe abaixaram a cabeça. - Vão para dentro!- Fiz menção em sair e ele chamou minha atenção: - Bilu, você fica.-

- O que vai fazer, Zé?- Minha mãe perguntou preocupada.

- Entre Márcia!-

Meu coração batia forte e rápido demais. Meu pai não era de nos violentar, e nem precisava. Só o seu tom de voz extremamente áspero e arrogante nos fazia quase urinar nas calças de tanto medo.

Me aproximei quando ele fez sinal com os dados, depois de ter posto a vela no lugar e acendido o pavio de volta. Dei alguns passos ainda me sentindo temerosa, até me pôr à sua frente.

- Você conhece o nosso código de honra, não conhece?!- Balancei a cabeça positivamente. - Um Bicalho tem o dever de ir para um confronto e vencer. Tem a obrigação de fazer um abate, se não o abate será você! Sabe disso?-

- Sim, senhor!-

- Que bom que sabe. Então você vai continuar treinando até acertar. Um Bicalho precisa estar sempre preparado. Só entre para dentro de casa, quando acertar o seu alvo.-

Dito isso, ele se foi em direção ao casarão daquela fazenda enorme, me deixando a sós com as munições e o alvo.

Passei a madrugada inteira atirando, sem poder entrar ao menos para comer ou fazer as necessidades. Eu já não aguentava mais de fome e vontade de ir ao banheiro, quando finalmente consegui apagar aquela bendita vela. Fiquei tão feliz, que comecei a pular em comemoração. E quando me virei, vi a imagem do meu pai através da janela, com uma xícara de café nas mãos. O sol já estava nascendo atrás dos montes.

A encomenda Onde histórias criam vida. Descubra agora