Capítulo 26

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🚨 ATENÇÃO: Capítulo mega sensível.

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GIZELLY

Esperava por Rafaella na suíte do motel. Assim que cheguei, há alguns minutos atrás, mandei mensagem avisando onde estava. E desde então, não parei um minuto. Andava de um lado para o outro, completamente fora de mim. Virava a garrafa de cerveja na boca, e segurava entre os dedos, um cigarro aceso.

Pensava constantemente em tudo que eu vi, assim que cheguei naquela mansão.

Cheguei minutos antes do mandante ordenar que ela ajoelhasse. Por sorte eu estava com a minha arma, pois havia prometido para Rafaella no nosso almoço de mais cedo, que iria aposenta-la. Mas por puro hábito, coloquei ela no nós da minha calça, antes de sair da república. Assim que passei pela guarita daquela mansão, senti algo fora do lugar. Porém achei que fosse apenas nervosismo, pois apesar de ter tido momentos como este com a família de Rafaella, em meu primeiro jantar ali e em um domingo de almoço, agora seria totalmente diferente. Eu seria apresentada como namorada e tinha certeza que viria muitas perguntas curiosas dos pais e da avó.

No entanto, quando cheguei perto da entrada, ouvi uns cochichos desesperados e alguns gemidos, grunhidos de choro. Eu conhecia muito bem aquele tom, era Rafaella. A outra voz, eu só reconheci quando o homem gritou, mandando ela ajoelhar. Sem que ele percebesse, tirei a arma do cós e me aproximei pela espreita. Quando o vi ameaça-la e os gestos angustiados dela, a ira me tomou por completo e eu apenas mirei. Teria que ser um tiro fatal, para não dar tempo dele revidar nela ou até em mim. Então o grito que eu dei, chamando sua atenção, foi apenas para ele se distrair e me olhar (mesmo que por alguns míseros segundos). Fazendo isso, puxei o gatilho e o acertei. No mesmo instante Rafaella gritou e ele caiu no chão.

Agora estou eu aqui, com a cabeça fervilhando. Não por mata-lo, pois isso eu faço sem ressentimentos. Mas por Rafaella ter ouvido tudo que ouviu dele, principalmente na parte que ele contava o que eu vim fazer no Rio de Janeiro.

Traguei a guimba do cigarro tão forte, que a ponta dele acendeu o máximo e a nicotina roeu rapidamente o papel fino junto do tabaco. Assoprei a fumaça parecendo uma chaminé ambulante, e intercalava entre virar a garrafa e traga-lo, enquanto andava de um lado para o outro. Só iria sossegar, quando conversasse com ela.

E assim o tempo passou... Quando o relógio apontou para às quatro da manhã, ouvi batidas na porta. Eu já não tinha mais pernas para andar, pois não sentei hora alguma. Minha cartela de cigarro havia acabado, mas não as bebidas. Não queria estar bêbada para a conversa.

Segui até a porta e abri, encontrando-lhe me encarando atordoada, mas logo entrou. Fechei a porta novamente e me virei.

- Não aguentava mais te esperar, estava quase voltando...-

- Quem é você?- Engoli em seco com a pergunta fria. Ela ainda me encarava estranho. - Quando a gente se conheceu, você era motorista da Ivy. Depois foram acontecendo muitas coisas, que ficaram sem explicação... Essa mania que você tem de andar sempre com esse revólver, e você me explicou que na sua terra todo mundo anda assim... Até aí eu compreendi. Depois veio aquele assalto que você impediu, a facilidade que você tem de puxar isso e apontar pra qualquer um... Eu nunca desconfiei, mas eu ficava intrigada com o quão bem você manuseava aquilo. E agora veio isso... Você nem hesitou em atirar no Ayrton.- Abaixei os olhos, pois apesar do tom ser brando, era frio demais. - Antes de ele morrer, ele me disse umas coisas...- A encarei novamente.
- Eu demorei pra vir te encontrar, pois eu não queria e não quero mesmo acreditar que o que ele disse faz sentido. Mas eu parei e pensei sobre tudo... Essa sua naturalidade de falar em morte, ameaçar as pessoas... Daí veio um turbilhão de coisas na minha cabeça, e, Gizelly! Do que você vive? Pelo amor de Deus, quem é você?-

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