6 | Marina

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Eu estava no quarto, tentando decidir o que vestir. As roupas estavam espalhadas pela cama, cada peça me causando uma dúvida diferente. Rosane me disse que todo mundo que vai nos barzinhos do Rio se veste de forma confortável e casual, mas será que a definição dela de "casual" era a mesma que a minha? Ela é mais velha, talvez veja as coisas de outro jeito. Eu queria estar à altura, sem parecer deslocada.

Acabei optando pelo velho e confiável vestido preto. Simples, mas eficiente. A sandália preta completava o look, discreta e confortável. Passei a escova no cabelo, tentando domar as ondas que, embora eu amasse, às vezes gostava de ver diferentes.

"Eduardo e Mônica", do Legião Urbana, começou a tocar no meu celular, e me peguei cantarolando enquanto tentava ao menos camuflar a bagunça que eu mesma havia feito no quarto. Organizaria tudo apenas no dia seguinte.

Ouvi as batidas na porta. "Entra", eu disse sem pensar, crente que era a Rosane, talvez apressada para irmos logo. Mas, para minha surpresa, quem entrou foi Roberto. O olhar dele, logo de cara, me atingiu como uma descarga elétrica. Ele me analisou dos pés à cabeça, e por um momento senti um frio na espinha, um misto de desconforto e uma excitação que eu não queria admitir.

— Você tá gostosa — ele disse, sem rodeios, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Aquelas palavras saíram da boca dele como uma sentença, e eu senti o rosto esquentar, o coração acelerar. Era como se o tempo tivesse parado por um segundo. Meu cunhado, o marido da minha irmã, me chamou de gostosa. Não "bonita", "linda", ou qualquer outro adjetivo mais ameno. Ele escolheu "gostosa", e aquilo ecoava na minha mente, enquanto eu tentava processar o que estava acontecendo.

Ele se aproximava de mim, lento e predatório, como um leão que cercava sua presa. Dei dois passos para trás, tentando manter uma distância segura, mesmo que por dentro eu não tivesse certeza do que queria de verdade. Forcei um sorriso, na esperança de que isso quebrasse o clima pesado que se instalava.

— Diga a sua irmã que você está doente — Roberto continuou, a voz firme, sem espaço para contestação.

— Por que eu mentiria? — perguntei, tentando soar desinteressada, mas havia um tremor na minha voz que me denunciava.

— Você vai passar a noite comigo — ele afirmou, como se estivesse estabelecendo um fato incontestável e como se sua vontade fosse a única que importava.

— Roberto... Não podemos... É errado e... — Minhas palavras saíam desconexas, uma mistura de medo e tentativa de racionalizar o absurdo daquela situação.

— Não ligo para o que você acha, Marina. Apenas dê uma desculpa para sua irmã, ela vai sozinha e vai passar a noite fora... Teremos a casa só pra nós dois.

Ele se aproximou mais, e seus dedos tocaram meu rosto. O toque foi suave, mas firme, como se ele estivesse marcando seu território. Quando ele passou os dedos nos meus lábios, senti um calafrio percorrer minha espinha, uma mistura de culpa e desejo. Ele me deu um tapinha na bochecha antes de sair, como se estivesse selando um acordo.

Fiquei paralisada. Meu coração batia rápido demais, minha mente girava em um turbilhão de pensamentos confusos. Como fui me meter nessa situação? Por que provoquei esse homem? Ele era mais velho, mais experiente, e eu, praticamente uma iniciante nesse jogo perigoso.

A ideia de ficar sozinha com ele me aterrorizava. E se algo desse errado? O que eu faria? As notícias de mulheres que se deixaram levar por homens ruins vinham à minha mente, e eu não queria ser a próxima vítima. Me recusava a virar uma estatística, uma manchete trágica no Balanço Geral ou Cidade Alerta.

No fim, o bom senso falou mais alto. Decidi que sair com a minha irmã era a melhor escolha. Não podia arriscar, não podia ceder ao meu tesão pelo proibido.

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