23 | Roberto Nascimento

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Já faz tempo que a gente estava na cola da mesma quadrilha. Especialistas em assalto a banco, meticulosos e sempre um passo à frente. Os caras não deixavam rastros, era como se evaporassem no ar depois de cada golpe. Mas todo erro tem consequência, e a sorte deles estava acabando. Um dos peixes pequenos foi preso e, depois de umas horas no interrogatório, resolveu abrir o bico. Dedurou o chefe, o tal de "Australiano", um filho da puta que achava que jurava estar acima da lei.

A informação chegou quente: o esconderijo dele, uma casa no alto do morro. Era hora de agir.

— Hora de pegar esse desgraçado — falei, enquanto vestia o colete e ajustava o fuzil no ombro.

O Mathias e o Neto estavam comigo, prontos pra ação. O BOPE já posicionado em vários pontos da favela, ninguém ia escapar. Eu olhei pro time, cada um concentrado, sabendo o que tinha que fazer. Não tinha margem pra erro.

— Vamos nessa — disse para ele, e começamos a avançar.

A favela estava em silêncio, mas não era aquele silêncio de paz. Era o silêncio tenso, de quem sabe que algo grande está para acontecer. As vielas estreitas, o cheiro de comida misturado com o de esgoto, os becos escuros que poderiam esconder qualquer coisa. O som de passos apressados e portas batendo indicava que os moradores sabiam o que estava vindo. Nos movíamos rápido, mas sem pressa aparente, cada passo calculado.

Chegamos à casa que indicaram. O lugar era uma construção simples, meio mal cuidada. Parecia mais uma das muitas da comunidade, mas a sabiamos que por trás daquela fachada tinha algo grande. Dei um sinal com a mão, e os homens cercaram o perímetro. Mathias e Neto comigo na linha de frente.

— Vai ser rápido — murmurei, com um sorriso de lado.

Aquela adrenalina que sempre batia antes de uma invasão. Não importava quantos anos eu já tivesse no BOPE, essa sensação nunca mudava.

Eu e Mathias avançamos. Chutei a porta com força e ela se abriu com um estrondo. Entramos com as armas em punho, varrendo o ambiente com os olhos. A casa estava vazia, ou pelo menos parecia. Não tinha sinal de ninguém na sala. Seguimos em frente, cada cômodo vasculhado. Estava tudo muito quieto, quieto demais.

— Não tem nada aqui — Mathias falou, franzindo a testa, já desconfiado.

Foi quando ouvimos um som abafado vindo do fundo da casa. Música. Baixa, mas inconfundível. Um ritmo estranho, que não combinava com o ambiente. Olhei pros caras e fiz um sinal para avançarem. Seguimos o som, que nos levou a uma porta trancada, nos fundos da casa, no que parecia ser um porão.

— Aqui dentro — murmurei, com a mão no trinco.

Dei mais um sinal, e Neto já estava pronto pra abrir caminho. Em um movimento rápido, ele arrombou a porta com a coronha do fuzil. A madeira cedeu com um estalo, e a porta se abriu revelando uma cena que a nenhum de nós esperava ver.

Lá dentro, o tal do "Australiano" estava com um chicote na mão, batendo em uma mulher amarrada. O cara estava tão distraído que nem percebeu a gente entrando. A cena era grotesca. O porão mal iluminado, a música tocando ao fundo, e o líder de uma das quadrilhas mais procuradas do Rio envolvido num joguinho de dominação bizarro.

Eu dei um passo à frente, analisando a situação, e soltei uma risada baixa.

— Olha só pra isso... — falei, minha voz cheia de desprezo. — Pra um bandido perigoso, você tá bem fanta, hein?

O "Australiano" se virou, os olhos arregalados de surpresa e medo. Os homens do BOPE já tinham cercado o cara, as armas apontadas. Ele tentou recuar, mas não tinha pra onde correr.

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