Ao sair do quarto, parei por um instante, os sons abafados de soluços cortando o silêncio da noite. Eram sons que vinham do meu próprio quarto, onde a porta entreaberta parecia uma fenda entre mundos distintos. Do lado de fora, eu estava tentando me recompor; do lado de dentro, um abismo de dor e remorso se abria. A luz tênue que escapava pela fresta lançava sombras longas no corredor, e a energia pesada que delas emanava era quase palpável, carregada de dor e de remorso.
Respirei fundo, enchendo os pulmões com o ar pesado do corredor, tentando reunir a coragem que parecia ter se esvaído. Pela primeira vez em muito tempo, um sentimento de medo verdadeiro se instalava em mim. Não era o medo físico ao qual estava acostumado em confrontos e operações, mas um medo mais profundo e perturbador. Era o medo de encarar as consequências dos meus atos, de enfrentar o julgamento de alguém cuja opinião e bem-estar realmente importavam para mim.
Eu sabia que tinha cometido um erro terrível com Rosane. Compreendia perfeitamente a devastação por trás de sua reação. Eu sabia o que ela estava pensando de mim nesse exato momento, e entendia a quem ela me comparava. Essas comparações me golpeavam com o peso de um julgamento final, lembrando-me que às vezes os monstros que enfrentamos não estão nas ruas, mas dentro de nós.
Com passos lentos e hesitantes, andei em direção ao quarto. Cada passo parecia ecoar no corredor silencioso, marcando o ritmo de um coração que batia pesado de arrependimento e temor. Sentia como se estivesse caminhando para um confronto decisivo, não contra um inimigo armado, mas contra um espelho que refletiria não só meu rosto, mas todas as escolhas erradas que haviam me levado até ali.
O inimigo era eu mesmo, e as armas que eu portava não eram físicas. Eram palavras, verdades duras que precisavam ser enfrentadas e ditas. Verdades que poderiam desmoronar o pouco que restava de uma relação que, apesar de tudo, eu valorizava profundamente. Era uma batalha interna entre o desejo de fugir e a necessidade de enfrentar tudo que eu havia causado, e cada passo em direção àquela porta entreaberta era um passo em direção a uma confissão que poderia não ter perdão.
— Não foi do jeito que você está pensando, Rosane — falei assim que abri a porta e entrei.
Ela estava sentada na beira da cama, os ombros caídos, um retrato de desolação. Rosane chorava silenciosamente, e cada soluço era um golpe no meu estômago.
— Você sabia que o meu maior medo era a Marina passar pela mesma coisa que eu passei, Roberto. Você fez de propósito... Pra me machucar.
— Não fiz, porra! Tudo entre mim e ela foi consentido.
— Ele também falava que eu consentia... — Sua voz soou amarga, carregada de uma dor antiga. — Só depois de anos que percebi que era estupro.
Congelei, as palavras dela me atingindo como um soco. Lembrei do dia em que briguei com a Marina, que a enforquei e transamos de maneira violenta. Mas não, não foi estupro. Ela não pediu para eu parar, ela gostou, estava molhada.
Caralho, o que eu estou pensando? Óbvio que não foi estupro. Eu não sou assim.
Sacudindo a cabeça, tentando afastar esses pensamentos.
— É diferente, Rosane.
— Você é da família dela, não devia desejar ela e sim, proteger, cuidar...
— Cunhado não é parente.
Ela me encarou, seus olhos marejados de lágrimas, sua voz tremendo com cada palavra que saiu da sua boca.
— Padrasto também não é e você viu tudo que me causou. Eu te confiei meu maior trauma, Roberto. Chorei nos teus braços e você fez a minha irmã, a pessoa que mais amo no mundo, passar pelo mesmo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Conexão Obscena
Roman pour AdolescentsQuando Marina, a cunhada de Nascimento, vem passar um tempo na casa deles para se preparar para um concurso, ele a vê apenas como uma responsabilidade extra em sua já tumultuada vida. No entanto, a proximidade diária e as conversas inesperadas revel...