35 | Marina

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Roberto me chamou para irmos atrás de um apartamento para ele morar assim que a separação fosse oficializada. Ao ouvir o convite, senti o coração bater mais rápido, uma mistura de nervosismo e expectativa. Ele me incluir nesse momento parecia selar, de alguma forma, o início de uma nova fase entre nós.

Ele dirigia com aquele ar despreocupado, com uma mão no volante e a outra pousada na minha coxa, deslizando suavemente como quem não tem pressa. A leveza com que ele tocava minha pele fazia com que meu corpo reagisse involuntariamente. Cada vez que ele apertava um pouco mais a coxa, um arrepio subia por minha espinha.

O rádio do carro tocava a música "Essa tal felicidade" do Tim Maia, e ele murmurava junto a letra, de olhos fixos na estrada, alheio ao que aquela voz baixa fazia comigo.

— Você deveria usar roupas mais comportadas — comentou ele, lançando-me um olhar de canto, o sorriso provocador insinuado nos lábios.

Revirei os olhos, rindo, mas não deixei de responder.

— Se um dia eu quiser usar roupas que me cubram mais, eu vou usar por conta própria — respondi, com o tom levemente desafiador.

Ele suspirou, balançando a cabeça e apertando minha coxa com um pouco mais de firmeza.

— Hum, remédio pra feminista é um macho com "M" maiúsculo que dê um tapa bem forte no pé do ouvido a cada resposta atravessada — ameaçou ele, enquanto me dava um leve tapa na coxa, só para marcar presença.

Eu gargalhei e não resisti em provocar.

— Não tenho medo de você, Roberto.

Ele me olhou de soslaio, com um brilho divertido nos olhos, e deu um sorriso que mostrava o quanto ele gostava desse meu lado.

— Porque você sabe que não precisa... — murmurou, deslizando a mão pela minha pele como se estivesse desenhando linhas invisíveis. — A última vez que perdi a paciência só consegui te foder com um pouquinho mais de força.

Minha risada saiu curta e debochada. A lembrança da nossa última transa ainda estava fresca na minha mente.

— E nem me fez gozar! — respondi, arqueando a sobrancelha em desafio.

Ele deixou escapar um sorriso de lado, meio debochado, meio intrigado.

— Ah... foi vacilo, né? — Apertou minha coxa com força, e pude ver que ele estava se divertindo com o desafio. — Na próxima, te recompenso.

— Vou cobrar!

"Você é linda" do Caetano Veloso começou a tocar no rádio, a voz suave e carregada de emoção dele preenchendo o espaço ao nosso redor. Era como se cada nota se misturasse com a paisagem do bairro, as ruas arborizadas, as construções antigas e os pedestres apressados. A música criava um contraste curioso com o ambiente silencioso entre nós dois, quase como se Caetano falasse por nós.

— Sabia que o Caetano compôs várias músicas em exílio político? — comentei, meio distraída, enquanto observava o movimento do lado de fora.

Roberto me lançou um olhar de canto, levantando uma sobrancelha, com uma mistura de provocação e ceticismo.

— Sei, sim — respondeu ele, com um suspiro leve. — Uma pena ele desperdiçar talento cantando umas baboseiras sobre política. Se focasse só na música...

Eu revirei os olhos e cruzei os braços, pronta para rebater.

— Baboseiras? Ele foi exilado, Roberto! Por lutar contra a censura, contra uma ditadura que limitava a liberdade de expressão. Se ele não tivesse feito isso, você acha que hoje a gente poderia ouvir o que quisesse?

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