Capítulo 4 - Thalia

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Capítulo 4 

Thalia

Saí do carro do Marcelo sem olhar para trás. Estava tomada de vergonha e ver seu olhar de pena sobre mim me deixou ainda pior. Minha vida era demais e eu sabia disso, então não precisava que ele ficasse, percebesse isso e tivesse pena de mim. 

Pena é algo que não suporto.

Eu morava em um lugar que não queira e havia uma vida que jamais desejei, mas era o que havia, então precisava ser grata por ela. Perdi minha mãe aos treze anos e, desde então, vivi apenas com meu pai bêbado.

Perdi a conta de quantas noites me arrisquei ao sair sozinha para buscá-lo nos bares e nas praças, e o encontrei quase desmaiado de tanto beber. Meu pai amava demais a minha mãe e, quando ela morreu, ele se perdeu em si. Afundou-se na bebida e não me restou opção senão o colocar em uma clínica para dependentes alcoólicos.

Eu já não suportava mais ver seu estado lamentável e ainda sofrer ao tentar trazer de volta o homem bom e amoroso que seu Efraim era antes da morte da minha mãe. Interná-lo foi a solução que me restou e assim o fiz. Porém, com isso, eu me afundei em dívidas e estou prestes a ser despejada do meu apartamento.

Uma vida bem, essa minha, viu.

— Thalia? — parei ao ter meu nome chamado por ele.

Sua voz potente me estremeceu e fez meu coração acelerar.

— Melhor seguir o seu caminho, Marcelo. — falei, sem o olhar, e voltei a andar.

Todavia, ele não atendeu ao meu pedido e ouvi seus passos atrás de mim.

— Obrigada por me ajudar, mas consigo resolver os meus problemas, sozinha.

Parei e me virei. Ele estava bem na minha frente e seu perfume me inebriou. Agora, sem a náusea da gravidez, eu poderia focar nele e o ter tão perto me deixou inquieta.

— Eu sei, só quero ter certeza de que ficará bem. — olhou sobre meu ombro.

— Vai subir todos esses lances de escada? — Ele parecia alarmado, seus olhos estavam bem abertos e sua expressão era assustada.

Se ele não fosse todo forte e malhado, um belo espécime de homem, eu julgaria que era sedentário.

— O elevador não funciona e moro no quarto andar.

O prédio tinha cinco andares, mas a grande maioria dos apartamentos estava abandonada.

— Ok. — Ele respirou fundo e começamos a subir os degraus.

Assim que chegamos à metade dos degraus, ele começou a reclamar e acabei rindo.

— Meu Deus, você é o cara mais bombado e sedentário que eu conheço.

— Não tomo bomba para ser bombado. — Ele fechou a cara, mas ele ficou fofo emburrado e quase suspirei.

Que homem lindo. Que homem lindo. Que homem lindo. Não cansava de repetir isso em minha mente.

— Eu malho diariamente, só não estou acostumado a subir tantos degraus. — Se gabou e revirei os olhos.

— Mas isso explica a vista aqui detrás. — Sorriu maroto e não me passou despercebido o tom de malícia em sua voz.

Que safado!

— Estava olhando a minha bunda? — ergui uma sobrancelha.

— Em minha defesa, eu não tive escolha. Você está na minha frente e não há como não ficar vidrado no balançar dos seus quadris. — Voltou a sorrir de lado.

Cafajeste!

— Você é um safado, isso sim. — reclamei, mas não estava com raiva de fato.

Saber que um homem como ele achou minha bunda bonita é um elogio e tanto. Mas, para manter minha pose de donzela ofendida, com a expressão fechada, me inclinei em sua direção, ficando com o rosto próximo do seu, Marcelo deu uma balançada, mas manteve a postura, uma vontade súbita de rir me tomou, mas me contive.

Estiquei o braço e:

— Ai. — Ele gemeu quando o bati.

— A pessoa tenta ajudar e ainda apanha? — resmungou e sorri, voltando à postura ereta.

Joguei meu cabelo para o lado e voltei a andar.

— Pare de olhar a minha bunda. — Briguei assim que o ouvi suspirar atrás de mim.

— Sou uma mãe e me deve respeito.

— Você tem filhos? — sua pergunta saiu alarmada.

Seguimos subindo os degraus.

— Tecnicamente não, mas logo o terei.

— Não entendi. — O ignorei e continuei a subir o restante dos degraus.

Quando cheguei no meu andar, me deparei com o senhor Dario, o síndico do prédio. Ele me viu e sua expressão fechada se tornou raivosa.

Merda! Ele fará um show por eu não ter o dinheiro do aluguel mais uma vez.

— Que bom que chegou, senhorita Thalia, espero que tenha trazido o dinheiro do aluguel.

— Senhor Dario, infelizmente não poderei pagar o aluguei esse mês. Precisei ir ao médico, pois estava me sentindo mal, e acabei gastando o dinheiro com a consulta e os exames. O senhor pode me dar mais alguns dias?

Sorri, docemente, mas meu sorriso morreu com seu grito.

— O quê? — me encolhi com seu descontrole.

— Todo dia é isso, já são três meses de atrasos e você sempre me vem com uma desculpa fajuta. Ou paga o valor que me deve ou vai agora mesmo para o olho da rua! — apontou para o corredor.

— Eu não tenho esse valor, senhor Dario. — Tentei argumentar, mas ele estava muito bravo e não queria desculpas.

— Pois arrume! — gritou e veio para cima de mim.

Coloquei as mãos na frente do corpo por puro reflexo e logo uma sombra se projetou à minha frente. Arregalei os olhos quando Marcelo segurou o senhor Dario pelo pescoço.

— Ouse aumentar o tom de voz para uma mulher novamente e saberá como é mixar sentado. — Bradou em seu rosto e o soltou.

O senhor Dario caiu no chão como se fosse um saco de batatas e senti braços fortes ao redor do meu corpo.

— Eu-eu... — minha voz tremeu pela vontade de chorar.

— Me dê às chaves do apartamento, eu vou abrir a porta.

Entreguei-lhe as chaves e, em seguida, estávamos dentro do meu apartamento.

De Cara com o Amor: Uma virgem (grávida) para o CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora