Entrelaço Metamórfico [2023]

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A consciência de Link retornou gradualmente, emergindo do abismo da inconsciência. Uma dor aguda pulsava em sua nuca, uma recordação incerta do impacto que o levou à escuridão. Ao abrir os olhos, deparou-se com o céu nublado sobre a Fonte, um contraste estranho com a tragédia que acabara de testemunhar.

Tentou se levantar, mas suas pernas pareciam traiçoeiras, e a dor persistente na nuca o fez hesitar. Mesmo assim, a urgência o impulsionou a tentar novamente. Cambaleou, um desequilíbrio momentâneo, mas conseguiu ficar de pé. A necessidade de entender o que acontecera era mais forte do que a dor que ecoava por seu corpo.

Link girou lentamente, seus olhos examinando a paisagem ao redor. A Fonte, que antes era um refúgio tranquilo, agora era palco de sombras e agonia. A tragédia ainda pairava no ar, mas Ilia não estava à vista. Um suspiro de alívio misturado com a inquietação ecoou em sua respiração. Pelo menos por enquanto, não tinha que encarar a terrível confirmação de que Ilia podia ter sido perdida.

Avançou vacilante, cada passo um esforço contra a dor e a incerteza. A Fonte, outrora serena, agora testemunhava o rastro da tragédia que se abatera sobre Ordon. Cada vislumbre da paisagem evocava a memória do horror que se desdobrara.

Ao se aproximar da ponte que conduzia à vila, um receio frio o envolveu. Temia encontrar o corpo de Ilia à frente, uma imagem que não sabia se teria coragem de enfrentar. Mesmo assim, persistiu, movendo-se com uma determinação forjada na incerteza.

Ao cruzar a ponte, o que surgiu diante de Link era algo além de sua compreensão. Um portal, uma distorção na realidade, exalava uma energia intensa e incontrolável. A luz que emanava dele, uma mistura de cores vibrantes e sombras profundas, capturava a atenção de Link de maneira hipnotizante.

Nunca antes vira algo assim. A natureza exata daquela abertura entre mundos escapava à sua compreensão. A curiosidade se misturou com a cautela, e Link se aproximou, observando as ondas de energia que dançavam à sua volta. O portal, eco dos eventos tumultuosos, pulsava com uma luz que evocava o estrondo ensurdecedor, o rugido dos gigantes e as criaturas sombrias que invadiram Ordon.

Num instante aterrorizante, uma garra sombria, extensão grotesca do portal, surgiu abruptamente, agarrando o pescoço de Link com uma força gélida e implacável. O garoto debateu-se, tentando libertar-se da garra que o puxava inexoravelmente em direção à abertura entre mundos.

O ambiente ao redor de Link desintegrou-se em uma cacofonia de cores distorcidas e sombras agitadas. O som agudo da distorção dimensional zunia em seus ouvidos, e uma sensação de vertigem o envolveu enquanto ele era arrastado para o portal. Em um momento, ele estava no lugar conhecido, testemunhando a destruição de sua vila, e no próximo, tudo se transformou em um pesadelo distorcido.

A transição foi abrupta, como se a própria realidade estivesse sendo rasgada. O estrondo ensurdecedor que ecoava agora parecia a risada distorcida de forças insondáveis. As criaturas sombrias, que antes eram uma ameaça tangível, tornaram-se sombras que dançavam ao redor do portal, suas formas indistintas provocando um calafrio na espinha de Link.

A garra sombria que o envolveu era fria como o abismo e apertava seu pescoço com uma intensidade que parecia espremer a própria essência de sua vida. As tentativas frenéticas de Link de se libertar foram respondidas pelo aperto impiedoso da garra, que parecia sugá-lo para dentro do portal como se ele fosse apenas uma presa indefesa.

A paisagem que se revelava do outro lado do portal não era apenas sombria; Árvores retorcidas e mortas se estendiam até onde a vista alcançava, seus galhos esqueléticos se entrelaçando em um emaranhado sinistro. O solo parecia coberto por uma névoa escura, e um odor nauseante de decadência preenchia o ar.

O céu, uma mistura perturbadora de dourado e negro, exibia uma visão distorcida do espaço e do tempo. Era como se o próprio firmamento estivesse dilacerado, revelando um vazio cósmico que emanava morte e desespero. Sombras dançavam no horizonte, sugerindo a presença de entidades indescritíveis.

Link, ainda nas garras sombrias, forçou seus olhos a se fixarem na monstruosidade que o segurava. Um ser grotesco, uma aberração animal completamente negra, adornada com símbolos sinuosos que pareciam pulsar como veias vivas sobre sua pele sombria. Um estranho toucado de prata, decorado com símbolos enigmáticos, coroava sua cabeça sinistra.

A intenção assassina da criatura era clara enquanto ela preparava sua garra secundária para o golpe fatal. Então, subitamente, um símbolo estranho materializou-se na fronte da mão de Link. Era a Triforce, uma marca dos tempos antigos, um triângulo divino dividido em três partes: Coragem, Sabedoria e Poder, cada uma representando o cerne essencial da alma.

A visão da Triforce infligiu terror na criatura. Um grito estridente, mais bestial do que qualquer som natural, escapou de suas mandíbulas grotescas. Um tremor percorreu seu corpo sombrio, suas garras vacilando momentaneamente. A profundidade de significado ancestral contido naquele símbolo despertou um medo primordial na entidade que aprisionava Link.

A reação foi violenta. A criatura, tomada por um pânico inexplicável, lançou Link em direção a uma árvore com uma força brutal. Seu corpo chocou-se contra o tronco, os ossos vibrando com o impacto. A dor, aguda e penetrante, ameaçou roubar-lhe a consciência, mas a escuridão que se seguiu não foi uma fuga, apenas um intervalo antes da próxima onda de terror.

Quando se levantou, ele estava sozinho, já que a criatura tomada inexplicavelmente pelo pânico desencadeado pela Triforce, desapareceu. Contudo, isso não serviu para que ele ficasse mais calmo. Estava em um lugar desconhecido e que, aparentemente não tinha um caminho de volta para casa.

Caminhou alguns metros, mas a agonia se intensificou. De repente, seu corpo cedeu, e ele caiu de joelhos no chão áspero. O ar ao redor tornou-se denso, asfixiante. Uma dor aguda comprimiu seu peito, tão intensa que Link temeu que sua própria alma estivesse sendo espremida.

Sem compreender o que ocorria, uma sensação de morte iminente envolveu Link. A dor no peito tornou-se insuportável, e o ar pesado sibilava em seus ouvidos, sufocando-o lentamente. Desespero atingiu níveis intoleráveis.

O nariz começou a sangrar, gotas vermelhas manchando o solo estranho sob seus joelhos. Link gritou, um som de agonia que reverberou no vazio daquele mundo desconhecido. Memórias angustiantes de Ilia e Colin assaltavam sua mente, como fantasmas do passado. A dor física era agora acompanhada por uma agonia emocional insuportável. 

Ilia estava morta e Colin também deveria estar. Link sentia-se perdido, procurando um sentimento de conforto mas não o encontrava.

Então, a dor, antes aguda, tornou-se avassaladora, como uma lâmina afiada cortando sua existência. A escuridão o envolveu novamente, mas não trouxe alívio. Cada pausa na agonia parecia apenas prolongar a inevitabilidade da próxima onda de sofrimento. O grito de Link desvaneceu, a visão escureceu, e ele afundou na inconsciência como uma vítima desamparada diante de forças além da compreensão humana.

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