Capítulo 2

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O primeiro dia de Celestine em Londres estava longe de terminar. Após a encantadora manhã passada nos jardins e ao lado dos exóticos animais da Rainha Charlotte, a princesa foi conduzida ao seu novo quarto no Palácio de Buckingham. Era uma suíte espaçosa, decorada com um toque de sofisticação e uma paleta de cores que harmonizava perfeitamente com o gosto refinado da jovem. No entanto, foi ao descobrir o que estava logo ao lado de seu quarto que Celestine percebeu o quão bem sua madrinha a conhecia.

"Antes que você se acomode completamente, minha querida," disse a Rainha Charlotte com um sorriso cúmplice, "eu tenho algo especial para lhe mostrar."

Intrigada, Celestine seguiu a rainha por uma pequena porta ao lado de seu quarto, entrando em um espaço que imediatamente fez seu coração disparar. A sala era inundada pela luz natural que entrava através de amplas janelas, com cortinas de linho que balançavam suavemente com a brisa. As paredes estavam forradas de prateleiras de madeira cheias de telas em branco, pincéis de todas as formas e tamanhos, além de tintas de cores vibrantes e pastéis delicadamente organizados. Cavaletes estavam dispostos por toda a sala, prontos para apoiar qualquer obra-prima que a imaginação de Celestine pudesse conceber.

"Uma sala de pintura... para mim?" Celestine mal conseguia conter a emoção em sua voz. Seus olhos se arregalaram com a visão dos materiais artísticos, todos escolhidos com um cuidado que demonstrava o quanto a rainha valorizava suas paixões.

"Sim, minha querida," confirmou a Rainha Charlotte, observando a reação de Celestine com um sorriso afetuoso. "Eu sei o quanto a arte significa para você. Quis garantir que você tivesse um espaço onde pudesse se dedicar a ela sem interrupções, onde suas inspirações possam tomar forma. Esta sala é toda sua."

Celestine girou lentamente pelo cômodo, tocando levemente os materiais e observando cada detalhe. "Vossa Majestade... eu não sei como agradecer. Isso é mais do que eu poderia sonhar."

"Você não precisa me agradecer," disse a rainha, sua voz suave e cheia de carinho. "Eu sempre acreditei que cada pessoa deve seguir suas paixões, especialmente algo tão belo quanto a arte. Sua pintura tem o poder de tocar corações, Celestine. E Londres precisa disso, assim como você precisa deste espaço."

A princesa sentiu seus olhos marejarem, tomada por uma gratidão profunda. Desde pequena, sua paixão pela arte era uma chama que poucos compreendiam. Seus pais, apesar de amorosos, muitas vezes consideravam sua inclinação para as artes como um passatempo, algo que deveria ser deixado de lado em favor dos deveres reais. Mas ali, em Londres, ela finalmente encontrou alguém que a entendia, que incentivava seu talento de uma maneira que a fazia sentir-se valorizada e compreendida.

"Eu prometo que vou fazer bom uso desse presente," disse Celestine, sua voz embargada pela emoção. "Vou pintar como nunca antes, e espero que minhas obras possam um dia fazer jus ao apoio que me deu."

"Eu sei que o farão," respondeu a rainha, inclinando-se para depositar um beijo suave na testa de Celestine. "Agora, vou deixá-la para que possa começar a explorar sua nova sala de pintura. Lembre-se de que esta temporada é sua, querida. Use cada dia para crescer, criar e viver plenamente."

Com um último sorriso, a Rainha Charlotte saiu da sala, deixando Celestine sozinha em seu novo santuário. A princesa respirou fundo, absorvendo a tranquilidade do espaço. Ela caminhou até um dos cavaletes, sentou-se em uma confortável cadeira acolchoada, e olhou para uma tela em branco que parecia convidá-la a liberar sua criatividade.

Com um pincel em mãos, Celestine sentiu uma onda de inspiração. Sabia que aquele era apenas o começo de uma jornada artística que poderia levá-la a lugares inimagináveis — tanto em sua arte quanto em sua vida. Londres era um novo mundo, cheio de promessas e desafios, mas com o apoio de sua madrinha e o refúgio de sua sala de pintura, Celestine estava pronta para enfrentar o que viesse.

Celestine passou boa parte da tarde imersa em sua nova sala de pintura. O ambiente acolhedor e a luminosidade perfeita a envolveram como uma manta quente, enquanto suas mãos trabalhavam com a precisão que só vem com anos de prática apaixonada. A jovem princesa perdeu-se nas cores, nos movimentos fluidos dos pincéis, e em cada detalhe que nascia sob seu toque.

Pintou uma paisagem que a remetia às montanhas e florestas de sua terra natal, mas com uma nova perspectiva — a de uma jovem prestes a descobrir um mundo novo e vibrante. Enquanto o verde intenso das árvores tomava forma na tela, Celestine sentia que, de certa maneira, estava transportando um pedaço de sua antiga vida para o coração de Londres.

O tempo parecia fluir de maneira diferente quando ela estava criando. Só foi tirada de sua concentração quando uma leve batida na porta ecoou pelo ateliê. "Entre," disse ela, limpando as mãos em um pano próximo.

Uma das damas de companhia da rainha entrou com um sorriso educado. "Princesa, o jantar será servido em breve. A Rainha Charlotte pede que você a acompanhe."

Celestine assentiu, percebendo de repente o quanto o dia havia passado rápido. "Muito obrigada. Vou me preparar."

Após um último olhar à sua pintura inacabada, a princesa deixou o ateliê e dirigiu-se ao seu quarto para trocar de roupa. A ideia de compartilhar o jantar com sua madrinha a animava. A Rainha Charlotte era uma das poucas pessoas que compreendiam e apoiavam sua paixão pela arte, e Celestine queria compartilhar com ela o progresso que havia feito naquele primeiro dia.

Momentos depois, vestida em um elegante vestido de seda azul claro, ela desceu até a sala de jantar. A mesa, longamente decorada com candelabros e arranjos florais, estava posta com a fina porcelana real. A rainha já estava sentada à cabeceira, aguardando a chegada de Celestine com um sorriso caloroso.

"Minha querida, espero que tenha aproveitado sua tarde," disse a rainha enquanto Celestine tomava seu lugar.

"Foi maravilhosa, Vossa Majestade," respondeu Celestine, ainda sentindo a leve excitação que a criação de arte trazia. "A sala de pintura é tudo o que eu poderia desejar. Eu comecei uma nova obra e mal posso esperar para mostrá-la à senhora."

Os olhos da rainha brilharam com interesse. "Estou ansiosa para vê-la, querida. E não se sinta pressionada. O que mais desejo é que encontre alegria em cada traço que fizer, sem se preocupar com expectativas."

Enquanto o jantar prosseguia, a conversa fluiu de maneira leve, centrando-se em temas que iam desde as artes até as novidades da corte. A Rainha Charlotte, como sempre, demonstrava uma visão ampla e sofisticada do mundo, com opiniões fortes sobre a sociedade e um humor afiado que arrancava sorrisos de Celestine.

"Agora que você está aqui, Celestine, há algo que devemos discutir," disse a rainha em um tom mais sério, enquanto a sobremesa era servida. "A temporada está apenas começando, e muitos eventos sociais aguardam sua participação. Quero que saiba que, embora sua arte seja importante, também será vital que você se familiarize com os círculos da alta sociedade londrina."

Celestine assentiu, ciente de que esse momento chegaria. "Eu entendo, Vossa Majestade. Estou preparada para fazer o que for necessário."

A rainha sorriu com um ar de aprovação. "Eu sabia que você entenderia. Há um baile muito importante em alguns dias, na casa de Lady Dumbry. Será a sua apresentação oficial à sociedade londrina. E, devo dizer, muitas pessoas estão ansiosas para conhecê-la."

O coração de Celestine acelerou levemente ao ouvir sobre o baile. Ela sabia que esse seria um momento crucial, não apenas como parte da realeza, mas também como uma jovem que estaria sob os olhares atentos de toda a aristocracia. "Vou me preparar para isso, Vossa Majestade. Quero fazer jus à confiança que deposita em mim."

"Eu não tenho dúvidas de que será uma noite memorável," respondeu a rainha com um olhar carinhoso. "E quem sabe, Celestine, esse evento pode reservar surpresas que você nunca imaginou."

Com essas palavras, a princesa sentiu uma leve inquietação misturada com uma excitante antecipação. O baile de Lady Dumbry seria o início de uma nova fase em sua vida, e com a perspectiva de encontrar novas pessoas, entre elas o misterioso Benedict Bridgerton de quem ouvira falar em murmúrios nos corredores, ela não pôde deixar de sentir que Londres ainda tinha muito a revelar.

O jantar continuou, mas a mente de Celestine já estava longe, imaginando como seria sua estreia oficial na sociedade londrina, e quais portas aquele baile abriria para ela.

A Royal Brush with LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora