Capítulo 23

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Celestine observava o salão de baile, tentando não parecer distraída enquanto sua dama de companhia conversava animadamente com uma das esposas da alta sociedade. Seus pensamentos ainda estavam presos no momento que compartilhara com Benedict minutos antes, mas ela sabia que precisava manter as aparências. Seu olhar varria o salão, absorvendo os detalhes de cada grupo, e foi quando avistou Penelope Featherington em um canto mais afastado, aparentemente sozinha, com um livro em mãos.

A jovem Featherington sempre lhe despertara curiosidade. Penelope não parecia se encaixar nos moldes da maioria das jovens debutantes; havia uma tranquilidade nela, uma inteligência por trás daqueles olhos que sempre observavam mais do que revelavam. Intrigada, Celestine decidiu se aproximar.

Com um suave movimento de sua saia, a princesa caminhou na direção de Penelope, que não percebeu sua aproximação até Celestine parar a poucos passos dela.

"Boa noite, senhorita Featherington," disse Celestine, sorrindo gentilmente. "Parece que encontrou uma maneira mais interessante de passar o tempo."

Penelope levantou os olhos rapidamente, surpresa pela presença de Celestine, e corou levemente ao perceber que estava sendo observada. "Ah, Vossa Alteza... Eu... não pude resistir. Bailes nem sempre são tão fascinantes quanto parecem." Ela fechou o livro apressadamente, mas ainda manteve um sorriso tímido nos lábios.

Celestine riu baixinho. "Entendo perfeitamente. Às vezes, esses eventos podem ser exaustivos. Gosto de observar, mas confesso que nem sempre encontro conversas tão estimulantes quanto preferiria." Ela olhou para o livro nas mãos de Penelope. "O que você está lendo?"

Penelope hesitou por um momento, como se estivesse ponderando se deveria revelar. Mas, ao ver o interesse sincero de Celestine, seus ombros relaxaram. "É um livro sobre história natural. As ilustrações são impressionantes, e... bom, achei que seria mais interessante do que algumas fofocas."

"História natural?" Os olhos de Celestine brilharam de interesse. "Que fascinante! Sempre fui apaixonada por arte, e as ilustrações de espécimes naturais têm uma beleza única, não é?"

Penelope sorriu, mais à vontade agora. "Sim, exatamente. A maneira como capturam a essência das plantas e animais é quase uma arte por si só."

"Concordo plenamente," Celestine disse, olhando ao redor para garantir que ninguém estava ouvindo. O salão estava ocupado demais com a dança e as conversas para notar as duas. "Admiro muito isso. Na verdade, minha madrinha, a Rainha, preparou um ateliê para mim no palácio, onde posso pintar e desenhar sempre que desejar. Há algo libertador na criação de arte, não acha?"

Penelope parecia surpresa com a revelação. "Eu não sabia que a senhora era tão envolvida com arte, Vossa Alteza. Isso é maravilhoso."

"Por favor, me chame de Celestine," disse a princesa, sentindo uma simpatia crescente por Penelope. "E, sim, a arte é uma grande paixão minha, embora nem todos entendam ou aprovem uma princesa tão envolvida com algo que muitos consideram um hobby frívolo."

"Eu entendo como é isso," Penelope admitiu, mais confiante agora. "Há certas coisas que não são esperadas de nós, mas que nos trazem verdadeira alegria."

Celestine assentiu, compreendendo o subtexto das palavras de Penelope. Havia mais na jovem Featherington do que a sociedade via, assim como havia mais em Celestine do que a imagem de uma princesa impecável.

"Talvez, um dia, eu possa mostrar meu ateliê a você," Celestine sugeriu suavemente. "Acredito que encontraríamos muitas inspirações juntas."

Penelope pareceu surpresa, mas também tocada pela oferta. "Eu adoraria, Celestine. Seria uma honra."

As duas trocaram sorrisos cúmplices, um entendimento silencioso crescendo entre elas. Ali, entre os murmúrios das fofocas da alta sociedade e os sons da orquestra, uma amizade inesperada começava a florescer.

Celestine e Penelope continuaram conversando, afastadas da agitação do baile, enquanto a música fluía ao fundo. O salão brilhava com as luzes dos candelabros, mas as duas jovens estavam imersas em uma conversa que oferecia uma pausa bem-vinda da superficialidade ao seu redor.

"Você está gostando de Londres, Celestine?" Penelope perguntou, a voz suave, quase tímida, mas carregada de curiosidade genuína.

Celestine pensou por um momento antes de responder. "Londres é fascinante. É diferente de tudo o que já vivi antes. As pessoas, os eventos, tudo é grandioso e, ao mesmo tempo, exaustivo. Às vezes, sinto falta da simplicidade dos jardins do palácio na Alemanha, onde podia me perder nos meus desenhos sem ser interrompida."

Penelope sorriu de forma compreensiva. "Imagino que deva ser difícil para alguém como você, sempre no centro das atenções. Parece que todos esperam algo de nós, não é?"

"Sim," Celestine concordou, soltando um suspiro leve. "Mas acho que há mais liberdade em ser quem você realmente é, mesmo que isso vá contra o que a sociedade espera."

Penelope assentiu. "É o que eu sempre pensei. Há uma certa beleza em viver à margem das expectativas. Quando você se permite ser você mesma, é quando realmente encontra felicidade."

Celestine ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Penelope. Ela nunca tinha se permitido pensar assim, mas, de alguma forma, aquela conversa a fazia sentir-se mais forte, mais disposta a seguir seu coração, mesmo que isso significasse enfrentar críticas.

"Obrigada por isso, Penelope. Sua visão me fez refletir." Celestine sorriu, seus olhos verdes brilhando com uma gratidão sincera.

Antes que pudessem continuar a conversa, a dama de companhia de Celestine se aproximou com um olhar cuidadoso, embora respeitoso. "Vossa Alteza, acredito que deveríamos voltar ao salão principal. Lady Violet Bridgerton está à sua espera."

Celestine assentiu, lançando um último olhar para Penelope. "Foi um prazer conversar com você, Penelope. Espero que possamos nos ver novamente em breve."

"Eu também, Celestine," Penelope respondeu com um sorriso caloroso. "E quem sabe, em um ambiente mais tranquilo, longe das exigências sociais."

As duas trocaram um olhar de cumplicidade antes de se despedirem. Enquanto Celestine caminhava de volta para o salão, sentia-se mais leve, como se aquela breve conversa tivesse dado a ela um vislumbre de quem poderia ser, além das obrigações que carregava.

Ao retornar ao salão, seus olhos rapidamente procuraram Benedict, que conversava com alguns convidados perto da pista de dança. Ele a avistou, e seus olhares se cruzaram, fazendo seu coração acelerar. Ela sabia que, por mais desafiadora que sua posição fosse, Benedict era parte daquele novo caminho que ela estava disposta a trilhar.

Por mais que a noite estivesse repleta de danças e formalidades, Celestine sentia que algo maior estava em jogo.

A Royal Brush with LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora