Fora do Ginásio

Um sorriso dela te desmonta, né?

Olimpíadas de Paris- A competição

O sol finalmente tinha chegado a cidade do amor. A ida até a Barcy Arena estava aflorando os nervos de todas no ônibus. Do lado de fora, os torcedores já iam exibindo suas camisetas e acessórios animados e chamativos. As meninas riram ao ver um homem que lembrava muito o Tarzan usando uma peruca com a bandeira da Austrália estampada e quando avistaram dois homens vestidos com chapéus que tinham chifres. O time seguia unido, mas cada uma seguia seus próprios rituais pré-competição. Simone Biles se encontrava sentada sozinha, com Snoop Dog cantando em seus fones de ouvido enquanto meditava e poderia apostar com qualquer um que sua amiga Jordan Chiles estava deitada nos bancos de trás assistindo TikToks, não sei como ela se concentra desse jeito, Sunisa demonstrava mais seu nervosismo, já tinha roído todas as unhas e não parava de balançar os pés.

— Ei, pare com isso. — Biles falou com a voz gentil. — Vai dar tudo certo e vamos sair ilesas disso tudo!

— Eu estou...

— Eu sei, todas estamos, mas não deixe que isso tire a diversão da competição de você, ok? — Simone se apressou em dizer. Estava com os pensamentos em ordem. Se sentia poderosa e até mesmo perigosa. Triste de quem ousar cruzar o meu caminho hoje. Sabia do seu potencial, do trabalho que tinha desenvolvido, estava pronta. 

— Estamos juntas! — Jordan falou.

— Meninas, gostaria de desejar uma excelente prova a todas. Somos um time e sei que temos nossas diferenças, mas isso fica do lado de fora daqui. — Simone falou e todas se entreolharam. — Quero que saibam que torço muito por cada uma e que quero desejar boa sorte, mas não pra a gente, mas pra quem vai precisar nos enfrentar! — Simone falou esboçando um sorriso predador e todas retribuíram. Que comecem os jogos!

As meninas do Brasil seguiram o protocolo Chico. Saíram do hotel com uma hora de antecedência, checaram todo o equipamento, fizeram uma breve oração e Jade, como sempre, quem se encarregou de motivar. As palavras da mais velha da equipe eram como um mantra para todas, principalmente para Rebeca. Todas sabiam o peso desta competição e o quanto estavam prontas para darem o seu melhor. Depois do abraço coletivo e das palavras bonitas, era hora de aquecer. Nessa parte, claro que o treinador não teve misericórdia.

A sensação era de que o tempo passava três vezes mais rápido e como num piscar de olhos, o ginásio já estava cheio. A torcida já estava ensandecida. Gritos em todas as línguas, as mais diversas feições, luzes e música, um verdadeiro espetáculo.

Os três dias de competições seguiram, sem muita tranquilidade. Houveram momentos desesperadores de verdade. Quedas, deslizes, pisadas fora, lesões e a ginástica seguia cumprindo o seu papel: de ser imprevisível. Emocionava e despertava o melhor nas pessoas, pelo menos em algumas, já que vez ou outra as atletas ansiavam por um mínimo deslize umas das outras e o público secava tudo. Do crente ao ateu ninguém explica o tanto de energia negativa que o Brasil emanou para que determinadas atletas levassem pelo menos um trupicão, o carma foi tanto que até o passarinho caiu... O clima de competição foi se mantendo acirrado, cada aparelho era uma nova aventura e tudo era disputadíssimo. 

— Você bem que poderia pegar leve, não acha? — Biles perguntou a Rebeca enquanto a brasileira terminava seu alongamento.

— Não conte com isso, Biles! — Rebeca falou sorrindo de canto.

— Eu nunca conto! — Simone respondeu sorrindo.

A mídia mundial estava de olho nas duas e Biles sabia que já havia sido flagrada uma dúzia de vezes olhando admirada para a brasileira, não tem como esconder isso. O clima entre ambas seguia tranquilo, apesar dos pesares. Vez ou outra Biles soltava alguma provocação, perguntava qual seria o próximo passo dela no exercício e até saia de seu lugar, atravessava o ginásio e ia ver o que sua rival estava aprontando de perto,  era quase atleta de atletismo de tanto que corria de um lado para o outro atrás de Rebeca Andrade. Seguiram assim durante os três dias de competição.

Houveram muitas reviravoltas. Biles caiu da trave, Flávia Saraiva caiu ainda no aquecimento das paralelas, abriu até o supercílio e quase enfartou uma delegação e um país de tanta preocupação. A entrada da brasileira Júlia Soares chocou meio mundo... Havia também muita polêmica com os juízes e as notas, a preferência de alguns e as notas elevadas para alguns movimentos com erros inaceitáveis, algumas injustiças e claro, discórdia!

O clima seguiu amigável, pelo menos era isso que Biles pensava sobre a situação.  Os dias passaram como um piscar de olhos e a maioria das atletas já estava exausta, as noites pareciam muito mais curtas e o corpo já enfadado lutava bravamente para conseguir executar com o máximo de perfeição os movimentos extraordinários que somente elas faziam. A ginasta estadunidense e o resto do mundo passaram a esperar pelo salto Andrade, Simone estava realmente assustada com a possibilidade de ser desbancada naquele aparelho, mas a brasileira achou melhor se poupar, Biles não pôde  se dar o luxo de fazer o mesmo ou ficaria com a prata.

A competição terminou com um saldo bastante positivo para os Estados Unidos e para o Brasil. Simone e Rebeca subiram ao pódio juntas por equipes, os EUA levando o ouro, com a média de 171.296 e o Brasil o bronze, com  164.197, feito inédito e muito celebrado, que gerou grande comoção. No salto, Simone garantiu 15.300 e se saiu um pouco melhor que Rebeca, que ficou com 14.966. Também se encontraram no pódio do individual geral, Simone com 59.131 e Rebeca com 57.932 e Sunisa Lee com 56.465 e dentre todos os pódios, o mais especial para Biles foi o solo e o motivo era óbvio: Rebeca Andrade foi medalhista de ouro e sua amiga, Jordan, medalhista de bronze! 

Ao ver a brasileira se apresentando, Biles não conseguiu ficar parada. Dançou e curtiu todos os momentos, como se estivesse se apresentando. Era impossível sair ileso daquilo, ninguém resiste a Rebeca Andrade, pelo menos não quando ela por si só é a coisa mais espetacular já vista e assim, mostrando todo o seu potencial, com todo esse carisma e gingado. Preciso conhecer o DJ que fez esse remix para ela, é simplesmente fabuloso! A ginasta americana quase saltou de alegria ao ver a brasileira cravando e cravando em cada movimento.

— Eu estou muito feliz! — Jordan falou enquanto sorria e vibrava!

— Nem me fale! Eu vou fazer uma reverência para ela! — Simone Biles falou e a amiga a encarou.

— E eu vou te acompanhar nessa, irmã! Todo poder a rainha que dominou o solo e os sentimentos da minha melhor amiga, máximo respeito! — Jordan falou séria e arrancou sorrisos de Simone.

O hino nacional do Brasil soou e ambas se ajoelharam, reverenciando a potência que é Rebeca Andrade. Simone viu a brasileira emocionada e não conseguia não sorrir orgulhosa, se sentia saltitante de felicidade e sabia que precisava conversar com ela desesperadamente, mas ali, no lugar mais alto do pódio, não era o momento. As três iraram uma selfie, depois Jordan monopolizou a brasileira, abraçando e girando-a no ar.

— Você estava magnífica hoje, Rebeca! 

— Você também, Jordan, você também! Obrigada por isso e parabéns, você merece muito!

— Oi. — Biles falou apressada. De repente, se sentia tímida. — Parabéns por hoje. — Ela completou enquanto abraçava a brasileira. — Sei que não fui legal e sei que os próximos dias vão ser uma loucura, mas eu preciso falar com você, Rebeca, por favor, estou te implorando, por favor, por fav...

— Oi, tudo bem, Simone.— Rebeca falou sorrindo e a americana quase desmontou ali mesmo. — Assim que as coisas se acalmarem um pouco, conversaremos.

Ter o privilégio de ver Rebeca ao vivo e emocionada era um prazer inenarrável, disso, Biles sabia e seguia sorrindo boba ao vê-la saltitando com a bandeira do Brasil, depois abraçando o técnico e correndo para abraçar a mãe na arquibancada.

— Incrível, incrível, absolute cinema! — Jordan falou sorrindo francamente.

— O que? — Biles perguntou.

— Um sorriso dela te desmonta, né?

comentem aqui se estão gostando, se querem continuação e se o final vai ser triste ou feliz :D