Isso só pode ser uma piada!

538 69 21
                                    

— Você pode pelo menos se esforçar pra disfarçar esse ciúme, Biles! — Jordan falou se inclinando para perto da amiga.

Atrás de Rebeca, Simone logo reconheceu, o resto do time de ginastas do Brasil, que iam caminhando numa fila indiana e todas estavam com sorrisos reluzentes. Alguns minutos de agitação depois, eles finalmente conseguiram entrar no restaurante e para a sorte ou azar de Simone, a mesa que Jonathan havia reservado ficava de frente para uma janela enorme, que oferecia uma excelente vista da bela paisagem de Paris e do restaurante da frente, onde ela viu o momento exato em que a jogadora alta segurava o hashi com alguma peça de sushi e levou direto a boca de Rebeca Andrade, que mastigava sorrindo.

— Isso só pode ser uma piada! — Biles deixou escapar mais alto que deveria.

— Viu só? Até ela entendeu! Eu falei que era uma piada das boas! — Tyler, um dos amigos sem noção de Jonathan, respondeu.

— Você precisa de tratamento, cara! — Jonathan falou sorrindo em direção ao amigo.

— Ah, tenha dó, Jordan! — Biles falou.

Estava profundamente irritada. Odiava toda a situação. A cabeça girava com as possibilidades. Eu fui só isso? Uma diversão para ela? Um passatempo? Ela me beijou depois de beijar aquela girafa? Argh! Que ÓDIO! Sentia tanta raiva que a comida mal tinha gosto. Enquanto todos pareciam aproveitar, ela era obrigada a engolir com indigestão e seus olhos traidores não conseguiam se desviar da vista a sua frente. Mal prestou atenção nas conversas paralelas sobre futebol americano e sobre quaisquer baboseiras que Jonathan e sua trupe estivessem falando.

Sua amiga, por outro lado, parecia estar se divertindo com toda a situação. Biles foi flagrada umas duas vezes por Jordan e esperava uma bronca ou algum comentário mesquinho, a amiga apenas sorria balançando a cabeça negativamente. Nem mesmo o petit gateau foi capaz de animá-la. Quase levantou da mesa num solavanco quando avistou a porta do restaurante da frente se abrindo e apenas Rebeca e a mulher alta saindo.

— Bom, esse almoço estava de-li-ci-o-so! Muito obrigada pelo convite, Jonathan! — Jordan falou e apenas Biles pareceu notar o sarcasmo da amiga.

— Tudo pela diversão da minha gata! — Jonathan falou e depositou um beijo no dorso da mão da esposa, que parecia ter sido tocada por um porco espinho.

Simone gostaria de ter se retirado do almoço diversas vezes, mas agora, com a proximidade de Jonathan e com eles quase parecendo um casal de novo, ir embora era uma necessidade... Ela havia se apaixonado por ele por causa de seu senso de humor. Ele sempre a fazia rir e sempre parecia falar as coisas certas, o casamento foi feliz, até uns sete ou oito meses atrás, quando ela se deu conta de que não passaria daquilo. Ele ainda era apenas um menino engraçado que deixava a toalha molhada em cima da cama e achava graça.

Longe daquela rua, numa conversa regada a sorrisos olhares, Rebeca caminhava tranquila com Gabi. Gostava de como ela ia conduzindo, falando e de como nunca era nada exaustivo. Tinha a certeza de que poderia ouvir ela falando sobre qualquer que fosse o tema e não enjoaria. Sem contar que ela é dona de um dos sorrisos mais cativantes que já vi! E o abdome nem se fala...

Seguiram sem um rumo exato e quando se deram conta, estavam nos aros olímpicos. Gabi fez questão de fotografar Rebeca lá e vice-versa. A ginasta foi surpreendida quando a jogadora de vôlei puxou da mochila uma sacola.

— Essa é sua! Tem a barra de capitã e tudo! — Gabi falou entregando o presente. 

Desde sempre, Rebeca acompanhou outras modalidades, mas tinha tomado um apresso enorme pelo vôlei e desde a Olimpíada passada, fazia questão de acompanhar de perto, sempre que dava, e desde o último encontro, Gabi havia lhe prometido a camisa e os ingressos, não vamos esquecer da parte importante!

— Ah, você é muito fofa, Gabi! Muito obrigada! — Rebeca agradeceu.

Continuaram com a caminhada, com as boas conversas e alguns minutos mais tarde, estavam na frente do quarto da ginasta brasileira dentro da Vila Olímpica. Gabi se apressou em abraçá-la, externou que era um prazer passar um tempo juntas e agradeceu pela companhia.

— Você sabe que tudo isso é recíproco, não é? — Rebeca falou enquanto se afastou um pouco. Gabi sorriu e depositou um beijo rápido na testa da ginasta, que a abraçou brevemente. Se despediram e Rebeca mal podia esperar para tomar um banho e ir para a cama. Quem diria que comer e rir a tarde inteira me deixaria tão cansada? Isso e as quarenta e oito horas de treinamento semanais, né? Já estava habituada com o pequeno quarto olímpico. A famosa cama de papelão já era como uma cama king size feita com plumas macias e suaves, agora é só tomar um banho e botar um pijama. 

Longe da Vila Olímpica, em sua última noite de liberdade, longe das temidas camas de papelão, Simone sabia que não conseguiria dormir. Tudo parecia sufocante demais, quase que claustrofóbico. O apartamento, o quarto, os lençóis e principalmente, o braço pesado do marido, que a envolvia e a mente... Ah, todos os pensamentos levavam a Rebeca Andrade. Ela não queria pensar na outra ginasta e até tentou fazer um acordo consigo mesma, mas falhou. Ah, Rebeca, o que foi que você fez comigo?


Fora do GinásioOnde histórias criam vida. Descubra agora