E como foi a noite?

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O terraço seguia silencioso e ventilado. As luzes amarelas espaçadas davam um ar de intimidade ao ambiente e projetavam linhas fracas em ambas. Simone seguia quase deitada, com o tronco apoiado no cotovelo e a lateral do corpo no chão, Rebeca estava do mesmo jeito, mas seu tronco estava mais ereto. A cabeça da brasileira era triplos carpados e flic flacs. Ela pediu o divórcio. Ela está se separando do marido.

— Nós já não estávamos bem há muitos meses. Ele é um cara legal e nós vivemos bem, mas fui me distanciando muito de quem eu sou e ao tentar entendê-lo, acabava me entendendo ainda menos. Era uma luta desigual, onde um lado tentava demais e o outro, de menos. — Biles falou e sorriu fraco. — Você só me mostrou algumas coisas que eu não via há tempos e eu apreciei muito todos os nossos encontros.

— Eu sinto muito. — Rebeca falou baixo, mas será que sentia mesmo?  Poderia afirmar com plena convicção de que ficou sentida pelo fim do relacionamento deles? De que queria que ela fosse feliz com ele? — Na verdade, não sinto. — Ela admitiu alto e Simone a encarava com certa expectativa. — Descobri que gosto de você, Simone Biles. Fora do Ginásio. — Ela falou sorrindo e Biles gargalhou.

— Sei que te dou muito trabalho lá... — Simone admitiu sorrindo. — Mas você desperta muito o meu lado competitivo e eu quero fazer o melhor que conseguir, mas só por saber que você vai se esforçar igual.

— Exato! Mas durante todo esse tempo, a única coisa que martelava na minha cabeça era o fato de que eu queria te ver de novo, mesmo depois de você ter entrado no meu quarto como uma ciumenta incurável.— Rebeca admitiu.

— Sei que sou complicada e que te dou trabalho o tempo inteiro, até fora do ginásio! Mas pensei muito, muito mesmo esses dias e minha maior tristeza era justamente o fato de que nós não estávamos bem e de que não tínhamos sequer tentado, o que quer que isso aqui seja. — Biles falou e sorriu com a própria honestidade. Há tempos não se sentia tão vulnerável. 

— E o que você quer tentar, Simone? — Rebeca perguntou. Era óbvio que ela também gostava da ginasta americana, mas sabia que ela ainda estava passando por um processo de divórcio e que não confiava muito em pessoas que terminam um relacionamento e começam outro, mas a ideia lhe parecia tão atraente, mesmo ela não tendo ideia de como manteria aquilo.

— Eu quero você, Rebeca. — Simone falou e o sorriso franco que ela deu juntamente com a encarada fizeram algo se revirar na brasileira. — E eu não costumo ser assim, sabe? Isso, esse ciúme, o romantismo, nunca tinha feito nada como hoje, para falar a verdade... Mas fiz e há cada coisa que pensei, só pensava em ver você sorrindo ou surpresa depois, o que é louco, não? — Ela falou e ambas sorriram. — Quero você.

De repente, o peito da brasileira começou a estremecer e tamanha era a sensação, ela sentia aquilo chicoteando em todo o corpo. Por um lado, os pensamentos eram de autopreservação. Pensava em se esquivar, escorregar dali e ir dormir tranquila na Vila, sabia que conseguiria, já conseguiu outras vezes, mas aquela ali, parada diante dos seus olhos era Simone Biles. A mesma mulher por quem ela nutria uma admiração por anos, que definitivamente a entendia como ninguém e que estava ali, depois de ter pensado em tudo para que ela fosse feliz, dizendo com todas as letras que a queria. Simone Biles me quer. 

— Bom. — Rebeca falou e em seguida pigarreou. Sentia algo preso em sua garganta. — Eu não sei como vai ser o dia de amanhã... Se nós iremos nos ver, se arrumaremos uma confusão por nada, eu simplesmente não sei. Mas hoje, agora, eu também quero você.

XXX

— Isso são horas de chegar em casa? — Jordan Chiles perguntou. — Eu já mandei mensagem e até já liguei, tipo, você saiu ontem sete horas da noite e são meio dia, Simone Biles!

Fora do GinásioOnde histórias criam vida. Descubra agora