O chá revelação

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Os três últimos dias foram como uma montanha russa enorme. A conquista de quatro medalhas, a volta a uma Olimpíada após uma pausa importante, as inúmeras entrevistas, os vídeos, as sessões de fisioterapia e o tornozelo machucado... Simone Biles, a atleta que conseguiu fazer o impossível, era o que a mídia dizia, mas ela tinha dúvidas quanto a isso e nem estava se referindo à ginástica.

— Foi uma semana delicada, não? — Jordan perguntou enquanto completava os copos plásticos de ambas com vodca, soda e limão.

— Só se passaram três dias, Jordan. — Biles respondeu sorrindo e pegando o copo vermelho.

— Ora, não finja que isso não está lhe corroendo, consigo ver daqui que sim, você está a beira de um colapso nervoso! — Sua amiga falou e Simone alargou ainda mais o sorriso.

— Não tem nada me corroendo, só achei que ela seria mais rápida...

Após a competição, todas as ginastas participaram de diversas entrevistas, quase como uma maratona, principalmente os trios dos pódios. O clima se manteve amistoso entre Rebeca e Simone, mas desde então, nenhuma palavra, mesmo a brasileira tendo garantido que iria dar uma chance a Biles. Dessa vez, a estadunidense tinha boas notícias para contar. Havia dado entrada no divórcio. E torcia para que isso pudesse significar alguma coisa.

Agora ela já conseguia rir do fato de ter pedido o divórcio com a medalha de ouro no pescoço, mas no dia, o estresse foi enorme. Jonathan queria brigar, entender as causas e sanar tudo e qualquer dor que pudesse existir ali, mas Biles foi incisiva no que queria. Não estava se achando precipitada, afinal, aquilo aconteceria de um jeito ou de outro, com Rebeca ou sem, mas ela torcia para "que com."

O time Brasil era somente alegria, Paris parecia um grande carnaval e virou baile. Rebeca Andrade e o time de ginastas estampavam quase que todas as notícias na França e em seu país natal. A programação era quase que "bom dia, com Rebeca Andrade", "boa tarde, com Rebeca Andrade e o time de ginastas do Brasil" e "boa noite, com ginástica." A comoção generalizada, milhares de vídeos e visualizações, o abraço na mãe, todas as entrevistas, a medalha em grupo, todas as gerações anteriores, a maior medalhista olímpica do Brasil, o time, as meninas, a união, o susto que a Flávia deu, a garra... Tudo. Ela se sentia plena e completa, exceto por uma pendência de menos de um metro e sessenta.

Durante a competição as duas entraram em seus modos profissionais e tudo o que havia ali, eram duas ginastas que amavam competir. Amar. Simone deixou escapar em uma entrevista para a mídia internacional que amava Rebeca, claro que a brasileira tinha entendido o significado de tudo aquilo, ainda mais pelo contexto, mas tinha começado a pensar na ideia e de fato, gostava de Biles e a amava como competidora também.

— Dois reais ou a revelação de um pensamento misterioso? — Lorrane perguntou sorrindo fraco. Sabia que tinha algo incomodando a amiga, mas ainda não tinha conseguido captar o que era.

— Estava pensando na vida, só isso...

— Com essa música de fundo? — A amiga da ginasta perguntou com a sobrancelha arqueada, o que fez Rebeca rir.

— Eu nem estava prestando atenção nisso, na verdade... — Rebeca sabia exatamente os riscos que aquela playlist oferecia e com Ludmilla cantando Pique Djavan, tudo parecia se encaixar perfeitamente. Desiste, você não vai achar alguém como eu, tá perdendo tempo com esse cara que você se perdeu e eu sei que é difícil, ficar longe de mim e deixar a saudade apertar, mas esse mundo é grande e a gente pode se encontrar... Essa playlist não é nada inocente!

— Ludmilla no talo uma hora dessas? — Lorrane falou, o que fez a amiga sorrir largo. — Rebe, quando você quiser me contar o que está acontecendo, estarei pronta para ouvir! — A amiga falou séria e Rebeca pensou sobre. Jordan Chiles já deve saber da história na íntegra, que mal tem compartilhar com a minha melhor amiga?  

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