Começando pelo fim

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Acordei poucos minutos antes de o avião pousar, nunca fui muito fã de grandes voos, o que parece ridículo, se levar em consideração o que você faz e fez. A voz da aeromoça ecoava pelo avião, o que acabou acordando algumas pessoas.

A fila de passageiros estava relativamente grande, mas eu estava muito bem camuflada com meu óculos escuro, casaco e boné. Fui paciente e assim que o tumulto diminuiu, peguei minha mala de mão e segui pela fila indiana espaçada que tinha se formado por ali.

Caminhei seguindo as placas e logo me vi diante da esteira de malas,  agora me restava apenas esperar. Essa não, essa também não, essa é bonitinha, mas ainda não é ela... Ah, agora sim! Quatro malas depois, chequei o relógio e sorri com a diferença de fuso horário. Lembrei os motivos que me trouxeram até aqui e logo o meu coração começou com os saltos triplos e as piruetas carpadas.

Segui para a saída e então, recebi uma mensagem, minha carona chegou! Chequei o portão, avisei onde estava e logo seria resgatada. De onde será que ela virá? De qual lado? Argh! Na pressa esqueci de perguntar que roupa ela estaria usando...

— GOAT! — Ouvi alguém gritar e logo me virei. Aonde você está? Meus olhos vagavam de um lado para o outro e o peito parecia um tambor, quase que sem querer, senti meu sorriso se expandindo e a vontade de gritar ficava ainda maior, como aquela sensação de que você sabe que vai receber uma notícia boa. De repente, fui envolvida num abraço por trás.

— Está olhando para o lugar errado. — Ouvi ela dizer com uma voz manhosa muito próxima da minha orelha, o que automaticamente me fez alargar ainda mais o sorriso, se é que aquilo era possível. Me mantive ali por breves segundos e quando me virei para encará-la, a surpresa foi melhor ainda.

Vestida com casaco azul, o famoso casaco do pódio do time dos Estados Unidos, o meu casaco azul, o sorriso mais lindo do mundo, os lábios carnudos, os olhos brilhando e os cabelos soltos... Se o o meu coração acelerar mais talvez eu pare.

— Meu uniforme do pódio fica mil vezes mais bonito em você, Rebeca! — Falei enquanto ela acariciava de leve minhas costas. Claro que fiz questão de aproveitar nossa diferença de altura e logo enterrei minha cabeça no pescoço dela.

— E você fica mil vezes mais bonita aqui, pertinho de mim! — Ela falou me encarando. — Bem-vinda ao Rio de Janeiro, Simone Biles! — Ela sussurrou e logo em seguida, me deu um beijo de tirar o fôlego. Precisei me manter com os olhos fechados por alguns segundos depois que acabou e todo o meu corpo pulsava.

— Uau... E então?

— Vem, vou te apresentar o Rio de Janeiro pelos meus olhos! — Ela disse por fim, o que me fez sorrir.

XXX

— O Rio de Janeiro se tornou um dos meus lugares favoritos no mundo. — Biles falou sem conseguir conter o sorriso.

Todo o caminho até a casa de Rebeca pareceu uma grande tortura, a sorte é que a vista era linda. Ela sentada com as mãos no volante e a cidade maravilhosa de plano de fundo. Carregar as malas até o carro, tentar passar sem chamar muita atenção, aguardar o trânsito fluir e os carros cooperarem. Conversaram muito, mas principalmente sobre amenidades, a saída de casa, o voo, a playlist que estava tocando e sobre o fato de Rebeca tê-la feito especialmente para Simone. Mas qualquer coisa parecia uma grande tortura quando tudo o que Biles mais queria era ter o prazer de despir sua mulher e senti-la perto o suficiente para não saber onde uma começava e a outra terminava.

— Parece que estou vivendo um sonho, o meu lugar favorito com uma das minhas pessoas favoritas. — Rebeca falou sorrindo e beijou a testa de Biles de leve.

Assim que subiram com as malas e a porta do apartamento foi trancada, automaticamente o resto do mundo pareceu deixar de existir e tudo o que importava estava ali. As mãos que abriram o zíper do casaco e os botões das calças, os sorrisos, os beijos lentos e arrastados que subiam e desciam, a sensação do chão frio desde o topo das costas até a bunda e o riso frouxo quando Snow e Aslam apareceram com vários lambeijos para atrasar a festa na sala, que logo seguiu para o quarto.

— Eles reconheceram sua voz! Ainda bem que as chamadas de vídeo fizeram efeito! — a brasileira falou admirada.

— Como se fala? Sônhô? — Biles perguntou e ao encarar a ginasta brasileira, pôde ver o sorriso estampado no rosto da outra e quase perdeu o foco.

A cama king parecia enorme para as duas, ainda mais se levassem em consideração que Rebeca estava com mais da metade do corpo apoiado em Simone, que recebia leves beijos na altura da mandíbula.

— Sonho. — Rebeca falou novamente, de forma mais pausada e a outra apenas repetiu. Ambas sorriam orgulhosas.

As aulas de português iam de vento em polpa. A estadunidense amava quando Rebeca a ensinava alguma palavra ou frase no novo idioma, apesar de ela achar muito difícil.

— No que você está pensando agora? — Biles perguntou depois de alguns segundos de silêncio confortável. Sentia leves arrepios no ombro onde a respiração de Rebeca tocava.

— Numa receita que vi mais cedo... — Ela falou e logo se interrompeu ao ouvir uma gargalhada.

— Você está deitada NUA, com uma mulher NUA em sua cama e está pensando em RECEITAS? — Biles perguntou forçando uma indignação e tentando conter uma gargalhada.

— Não se pode mais pensar em cozinhar para a mulher amada? Não lembro se são duas ou três batatas... Vou ter que arriscar. — Ela falou com um ar engraçado e continuou. — Mas desde que conversamos por mensagem ontem e hoje você está aqui, só consigo pensar no quão sortuda eu sou. — Ela disse por fim.

— Tudo parece um grande sonho, não é mesmo? — Biles perguntou enquanto puxava delicadamente o queixo de Rebeca para poder encarar os olhos da ginasta, que assentiu sorrindo.

— Você lembra de como tudo começou? Nossa, parece coisa de filme! A Netflix está perdendo de pegar nossa história de amor e transformar em algo muito maior, tipo uma série, sabe?

— Só não vai ser maior do que a série de beijos que eu vou te dar agora. — Biles falou e ambas sorriam de forma maliciosa.

Fora do GinásioOnde histórias criam vida. Descubra agora