Capítulo 18

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Poncho ficou em silêncio, atento. Queria poder ajudar e era importante saber mais sobre aquela história.

Any: O que eu vou te contar só tive coragem de falar para a Maite, além dela só quem sabe é a Madre e as outras pessoas envolvidas.

Poncho: Que pessoas? Any, sabe que pode confiar em mim, né? Eu estarei do seu lado seja qual for a história que irá me contar. - Ele pegou na mão dela, apertando firme para passar segurança.

Any respirou fundo. Sentiu uma leve falta de ar, angustiada por tocar naquele assunto, mas queria que Poncho soubesse de tudo para poder ajudá-la e entendê-la melhor. Por isso, seguiu em frente e começou a falar.

Any: Eu tinha 4 anos e era uma criança muito feliz, o pouco que lembro dos meus pais são momentos maravilhosos e cheios de amor. - Os olhos dela já estavam marejados e Poncho se aproximou, segurando as mãos dela para transmitir segurança - Até que um dia estávamos indo ao mercado e de repente dois homens entraram apontando armas na frente do nosso carro. Eu não lembro muito bem, era muito pequena, a única coisa que não sai da minha cabeça é minha mãe gritando meu nome, meu pai freando o carro e em seguida sons de disparos, eu fiquei muito assustada. Depois disso só lembro de estar chegando na casa do meu tio e ele me contar que meus pais tinham ido para o céu - As lágrimas já transbordavam em seus olhos, Poncho secava delicadamente com seu polegar, ouvindo com atenção.

Poncho: Foi um assalto?

Any: Dizem que sim, uma tentativa de assalto, mas eles só conseguiram levar a bolsa da minha mãe e fugiram. Nunca foram encontrados. - Ela respirou fundo para continuar - Eu só tinha meu tio de parente, a família dos meus pais era pequena e eles não tinham contato com quase ninguém. Esse meu tio Paulo era o único que poderia cuidar de mim e o juíz deu a minha guarda para ele. E aí começou a pior fase da minha vida.

Poncho: Ele não cuidou de você?

Any: Não, ele tinha problemas com álcool e vivia chegando bêbado em casa, não deixava comida pra gente e muitas vezes nos batia muito. Ele nos deixava trancadas e quando voltava da rua nos espancava. - A voz quase não saia para falar aquilo.

Poncho: Meu Deus, eu sinto muito por isso! - Estava incrédulo - Mas batia em você e em quem mais?

Any: Na Angelique, minha prima, filha dele.

Poncho: E como ele tinha a guarda de vocês? Isso é crime! - Poncho ficou indignado com a história.

Any: Quando eu cresci comecei a me questionar e a Madre me contou que ele subornava todos, ele bebia de noite, mas de dia se passava por um homem sério e bom pai. Ele usava o dinheiro que meus pais deixaram para mim para comprar qualquer um que tentava denunciar o que ele fazia com a gente. - O choro estava mais descontrolado, ela já estava aos soluços.

Poncho: Hei, calma - Ele a puxou e a abraçou - Não precisa continuar falando se não quiser.

Any: Não, eu quero falar. Eu confio em você e sei que falar também me faz bem, é como se parte dessa dor estivesse saindo de dentro de mim.

Poncho: E onde a Madre entra nessa história? - Ele acariciava os cabelos dela, consolando-a.

Any: Quando eu tinha 6 anos, consegui fugir da casa dele. Fiquei dias na rua, passando fome, frio, tive muito medo. Até que ela me encontrou. No dia que fugi ele tinha me batido muito, tenho certeza que mais um pouco não teria aguentado e teria desmaiado, por isso fugi assim que consegui. Ela me encontrou, cuidou de mim e lutou para me levar para viver com ela.

Poncho: Como? Ela tinha a sua guarda?

Any: Depois acho que ela conseguiu. Me levou para morar no internato e lá eu voltei a ser uma criança feliz. Por isso ela sempre quis me proteger, ela salvou minha vida e devolveu minha infância. Eu nunca vou poder agradecer o suficiente.

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