Capítulo 30

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Na manhã seguinte, Alfonso se levantou silenciosamente, tomando cuidado para não acordar Annie, que ainda dormia profundamente. A luz suave da manhã entrava pelas cortinas, e ele a observou por um momento, admirando sua tranquilidade. Não queria perturbá-la, mas também não queria partir sem deixar um gesto de carinho.

Ele desceu até a cozinha e preparou uma bandeja de café da manhã. Havia torradas, frutas frescas e um suco de laranja, simples, mas feito com todo o cuidado. Antes de subir de volta ao quarto, Alfonso escreveu um bilhete, que colocou ao lado da bandeja.

Com a bandeja nas mãos, Alfonso retornou ao quarto e a colocou cuidadosamente na mesinha de cabeceira. Ele olhou para Annie mais uma vez, com um sorriso suave nos lábios, e saiu silenciosamente.

Quando Annie acordasse, o aroma do café da manhã e o bilhete carinhoso seriam as primeiras coisas a recebê-la, trazendo um pequeno conforto para o dia que estava começando.

Ao chegar em casa, Alfonso sentiu o peso da noite anterior ainda sobre seus ombros, mas também uma sensação de calma que não conseguia explicar. Ele tomou um banho quente, deixando a água escorrer pelo seu corpo enquanto repassava os momentos intensos que viveu com Any. Cada detalhe parecia estar gravado em sua mente – o toque, os olhares, as conversas tranquilas na cozinha.

Depois de se vestir, notou que ainda tinha algum tempo livre. Foi até seu escritório e ligou o computador. Sentia-se inspirado, e isso o impulsionou a expressar o que havia vivido de uma maneira diferente. Sentado diante da tela, começou a digitar, as palavras fluindo com facilidade.

" Eu sempre achei que soubesse o que era desejo. Que entendia a paixão como algo efêmero, um impulso breve, fácil de controlar. Mas então, veio Any. E com ela, todas as certezas que eu tinha sobre mim mesmo se dissiparam.

Lembro-me da maneira como ela me olhou naquela noite, os olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e desafio. Ela estava ali, parada, usando minha camisa, e foi como se o mundo inteiro tivesse se reduzido a um único ponto: ela. Não eram apenas os detalhes que me deixavam sem ar — o jeito que o tecido caía sobre seus ombros, a curva suave de suas pernas à vista, a forma como o cabelo descia despretensiosamente sobre os ombros — era algo muito maior do que isso. Havia uma tensão no ar, algo que nos envolvia e que eu não podia, nem queria, controlar.

Enquanto ela ria de algo bobo, o som de sua risada encheu a sala de uma maneira que eu nunca vou esquecer. Era leve, sincero, mas tinha um quê de vulnerabilidade que ela raramente deixava transparecer. Naquele momento, percebi que o que eu sentia não era só físico. Era uma conexão mais profunda, algo que transcendia o desejo inicial e me puxava para uma proximidade que eu nunca experimentei antes. Não era só sobre o corpo dela, era sobre a alma que estava ali, por trás de cada gesto, cada sorriso.

E então, os toques. Cada vez que nossos corpos se encontravam, cada vez que seus dedos deslizavam pela minha pele, era como se o mundo ao nosso redor se dissolvesse. O quarto sumia, as horas deixavam de ter importância, e tudo o que restava éramos nós dois, completamente entregues a um sentimento que eu nem sabia que era possível existir. Seus lábios, suaves e ao mesmo tempo firmes, me provocavam, e o calor de seu corpo parecia aquecer partes de mim que eu nem sabia que estavam frias.

Havia uma calma, um tipo de paz, que vinha depois. No silêncio, enquanto ela ainda me olhava de canto, sentada na bancada, como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo. A simplicidade do momento, a maneira como ela me desarmava sem sequer tentar, me fazia questionar como alguém pode ter tanto poder sobre outro sem nem perceber. Ela é assim: decidida, mas cheia de segredos. E eu me sinto cada vez mais envolvido por cada um deles.

Escrever sobre ela é como tentar capturar um sonho que você não quer esquecer. Cada palavra que coloco aqui parece insuficiente, porque como é que eu vou descrever o que significa estar ao lado dela? O que significa sentir o toque de sua pele contra a minha, ou simplesmente vê-la sorrir quando acha que não estou prestando atenção?

Any é mais do que imaginei que poderia encontrar. Ela é intensidade e leveza, força e fragilidade, tudo ao mesmo tempo. E eu estou completamente preso a isso. Não sei onde isso vai nos levar, mas de uma coisa eu tenho certeza: nunca fui tão cativado por alguém. E isso... isso é só o começo.

As palavras iam se alinhando em um ritmo quase poético, e Alfonso percebia que estava descrevendo mais do que apenas momentos físicos. Estava capturando a profundidade emocional de estar com Any, a conexão que sentia e que parecia crescer a cada encontro. Para ele, aquele texto era mais do que um relato – era um reflexo do que ela começava a significar para ele.

Any despertou lentamente, sentindo a suavidade dos lençóis em contato direto com sua pele. O corpo ainda aquecido pela noite passada, ela abriu os olhos e percebeu que estava sozinha no quarto. A brisa matinal que entrava pela janela acariciava seu corpo despido, mas o que realmente chamou sua atenção foi a bela bandeja de café da manhã colocada ao lado da cama.

Sobre a bandeja, havia uma xícara de café que ainda soltava vapor, frutas cortadas em pedaços delicados, torradas e um croissant dourado. Tudo arranjado com tanto cuidado, que ela não pôde deixar de sorrir. Ao lado da comida, repousava um pequeno bilhete, dobrado com esmero.

Com o coração acelerado, Any estendeu a mão e pegou o bilhete. Ao desdobrá-lo, leu as palavras escritas por Alfonso:

"Bom dia, meu anjo. Não quis te acordar, mas não podia sair sem deixar um pouco do carinho que sinto por você. Aproveite o café e nos vemos na aula."

Sentindo um calor interno misturar-se com a brisa que invadia o quarto, Any deixou-se relaxar novamente. Ela pegou uma fatia de fruta, levando-a à boca com suavidade, enquanto a mente vagava pelas lembranças da noite anterior. Cada detalhe parecia mais vívido enquanto se envolvia na ternura do gesto de Alfonso.

Após tomar o café que Alfonso havia preparado com tanto carinho, Any se levantou da cama, sentindo-se leve e envolta em uma sensação de felicidade que a fazia esquecer, por um momento, de tudo ao seu redor. Ela seguiu para o banheiro, onde tomou um banho relaxante, deixando a água morna escorrer por seu corpo, como se estivesse lavando não apenas o cansaço da noite anterior, mas também qualquer preocupação ou medo que poderia ter restado.

Ao sair do banho, com os cabelos ainda úmidos, Any vestiu seu uniforme do colégio. Enquanto arrumava os detalhes da saia e ajeitava a blusa, não conseguia parar de pensar na noite mágica que havia passado com Alfonso. Os beijos, o toque dele, a conexão profunda que sentira – tudo isso a deixava com um sorriso nos lábios e uma leveza no coração, tanto que até se esquecera completamente do estranho incidente da noite anterior e das mensagens anônimas que a haviam deixado tão apreensiva.

Mal sabia ela que, enquanto se arrumava no espelho e revisava os últimos detalhes de sua aparência, alguém a observava. Do lado de fora, escondido nas sombras, um par de olhos a vigiava em silêncio, esperando o momento certo para se revelar.

Quando é amorOnde histórias criam vida. Descubra agora