Capítulo 34

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Após um longo banho, no qual quase arrancou sua própria pele em uma tentativa desesperada de se livrar da sensação de invasão, Any finalmente saiu do banheiro, ainda envolvida em um roupão macio. A água quente não havia sido suficiente para acalmar o turbilhão de emoções dentro dela, mas pelo menos o banho ofereceu algum consolo momentâneo.

Desceu para a cozinha em busca de algo para fazer com as mãos, na esperança de dissipar o nervosismo. Ao abrir a geladeira, pegou tudo o que encontrou: frios, queijos, molhos e pão. Sem pensar muito, montou um sanduíche enorme, como se a comida pudesse absorver todo o medo e a frustração que sentia.

Sentada sobre a bancada da cozinha, Any mordeu o sanduíche de maneira voraz, quase como se estivesse descontando cada pedaço de sua angústia naquele ato. O barulho da mastigação era o único som que ecoava pelo ambiente vazio. Cada mordida parecia lhe oferecer um breve alívio, mas a sensação de vazio persistia.

Enquanto comia, sua mente voltava para o ocorrido, e um sentimento de impotência tomou conta dela. Sabia que não poderia simplesmente esquecer o que aconteceu.

Depois de devorar o sanduíche, Any ainda sentia uma angústia que não conseguia aliviar. O estômago cheio não era suficiente para aplacar o que se passava dentro dela. Com um suspiro pesado, abriu o congelador e pegou o primeiro pote de sorvete que viu, atacando-o com uma colher sem nem se preocupar em servir numa tigela.

Sentada na bancada da cozinha, Any enfiava colheradas generosas de sorvete na boca, tentando distrair sua mente e afogar suas emoções no doce gelado. Cada mordida era um alívio momentâneo, mas o nó na garganta não desaparecia. Enquanto o sorvete derretia na boca, as lágrimas que ela segurava começaram a escorrer silenciosamente por seu rosto.

A cada colherada, ela tentava sufocar o medo, a vergonha e a frustração que sentia. Rodolfo havia invadido sua casa, seu espaço, e mais do que isso, ele havia mexido com sua mente e seu corpo de uma forma que a fazia se sentir suja.

Após devorar o sanduíche e atacar o pote de sorvete, Any sentiu uma dor aguda atravessar seu estômago. O incômodo se intensificou rapidamente, deixando-a sem fôlego. Com o rosto pálido e a testa suada, ela mal teve tempo de reagir antes de correr para o banheiro.

No banheiro, ela se apoiou na pia, ofegante, sentindo a onda de náusea subir. O excesso de comida, somado ao estresse e à ansiedade, pesava em seu corpo, e a dor no estômago parecia aumentar a cada segundo. Ela se curvou, esperando que o mal-estar passasse, mas a sensação de enjoo era incontrolável.

Any se sentia esgotada, tanto física quanto emocionalmente.

Any respirou fundo, tentando acalmar a mente enquanto se olhava no espelho do banheiro. As olheiras marcadas e a palidez em seu rosto refletiam o cansaço que sentia, não apenas por causa do episódio com Rodolfo, mas também pelas semanas de estresse acumulado. Sentiu um nó na garganta e, por um momento, tudo o que queria era desaparecer.

A dor no estômago começava a ceder, mas a sensação de desconforto emocional ainda era avassaladora. Ela sentia um peso enorme, uma angústia que a pressionava por dentro. Era como se estivesse se afogando, sem saber ao certo para onde nadar. Any se apoiou no balcão, fechando os olhos com força.

Após um tempo, finalmente se recompôs. Sabia que precisava se acalmar. Então, ligou o chuveiro novamente, deixando a água correr por alguns segundos antes de lavar o rosto com as mãos trêmulas. O contato com a água fria a fez despertar de seus pensamentos por um momento.

Depois de secar o rosto, Any voltou ao quarto, onde sentou-se na cama, envolvendo-se no edredom. Ela pegou o celular e, sem pensar duas vezes, começou a digitar uma mensagem para Alfonso, contando sobre o dia tumultuado e os sentimentos que a sufocavam, mas hesitou antes de enviar.

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