CAP. 62 - O ódio é a vingança do covarde

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3 de Janeiro de 2013

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3 de Janeiro de 2013

Eu nunca imaginei que seria assim, tenho que dizer. Também admito que fantasiei isso de um modo obscuro e horrendo milhares e milhares de vezes. Uma parte de mim queria mesmo que meus pais simplesmente sumissem do mundo, mas a ideia de que os dois estão mortos agora... Deus, a ficha ainda não caiu. É contraditório ao ponto de que chega a ser assustador, porque eu queria muito mesmo que esses dois simplesmente desaparecessem, sumissem do mapa e principalmente de minha vida. Mas agora que eles realmente estão mortos, eu não sei de mais nada. Estou tão confusa quanto nunca, não consigo sustentar minhas próprias opiniões de anos agora. Não mesmo e isso faz com que eu me sinta patética. Uma criancinha confusa, ainda descobrindo as maldades horrorosas do mundo. Foi tão repentino, tão... do nada. Eu queria entender a história melhor, eu queria entender como sequer estou me sentindo neste momento. E agora, é tanta coisa acontecendo de uma vez, porra. É simplesmente um turbilhão de coisas para se processar de uma só vez. É muita coisa para se lidar, principalmente para uma lunática como eu – porque eu nunca tive a cabeça no lugar mesmo. Mal processei a ideia de ter me tornado noiva e agora isso? Jesus Cristo, é grandioso demais. A ideia de que tenho que ir para a Holanda, lidar com dois enterros de uma só vez, perdas de pessoas que agora tenho certeza de que nunca nem descobri como me sentia em relação a elas, deixar meus filhos e meu noivo sozinhos – o que é algo mais do que radical. Acho que preciso fazer uma lista, não uma de prioridades e sim uma para enumerar tudo no qual devo pensar agora. Uma coisa de cada vez, é, é isso. Preciso pensar em uma coisa de cada vez. Com calma.

A quem estou enganando agora, porra? Como vou sequer conseguir raciocinar o suficiente para me acalmar? Como posso fazer isso, lidar com essa situação do caralho? Eu não estou entendendo absolutamente nada do que está acontecendo. Nada mesmo. É muito peso numa balança minúscula, esmagando meu cérebro, meu raciocínio sólido e arrancando todo o ar de meus pulmões a força. Com violência. Não entendo o porquê de tanta dor, mas sei que está se materializando com tanta hostilidade que se tornou físico. Minha cabeça dói, está dormente, meus ombros pesam, minha coluna não parece mais sustentar minha massa corporal e meus joelhos estão tão moles quanto pudim fora da geladeira. Ah, claro, meu estômago também não está nem um pouco legal agora. Nem um pouquinho. Eu disse para Leon que não era uma boa me forçar a tomar café da manhã, muito menos aqueles malditos pãezinhos com queijo. Não me fez bem. Por isso, agora, ajoelhada a mais de quinze minutos no chão do banheiro desse galpão imenso, eu não consigo colocar nada além de água para fora. O fundo de minha garganta está amargo, meu coração a mil e eu me sinto um bocado febril. Estou amenizando. Na verdade, estou quase em chamas agora. E, ao mesmo tempo, suando frio a tanto tempo que o final de minhas costas está ensopando minha camisa neste momento. Desse jeito, vou virar líquido aqui mesmo, nesse banheiro apertado e com um cheirinho bem duvidoso.

"Tudo bem por aí, amor?" Do outro lado da portinha de metal desse banheiro pequeno, eu escuto a voz de meu noivo, baixa, amena, preocupada. Deus, ele tem sido ótimo. Ele vem fazendo de tudo de ontem a noite para cá apenas para que eu não entre em colapso e surte. Eu apenas murmuro alto, concordando com sua fala enquanto estou dando tudo de mim para ser uma boa mentirosa por aqui. Ao menos neste momento. Porque, é, eu nunca estive tão mal. Tão confusa e com tanta, mas tanta dor. Logo, limpo a boca com as costas de uma das mãos e me levanto do chão, dando descarga na privada meio amarelada de sujeira. Me viro, vou até a pia e lavo a boca, caminhando até a porta de metal nem um pouco distante e a abrindo. Tenho a vista nítida de como Leon me encara com muita pena – só não sei identificar se é por conta dessa situação de merda ou porque estou ligeiramente esverdeada pelo estado de meu estômago agora.

𝑩𝒖𝒔𝒕𝒆𝒓 𝑪𝒍𝒖𝒃 - 𝑳𝒆𝒐𝒏 𝑺. 𝑲𝒆𝒏𝒏𝒆𝒅𝒚 | +18Onde histórias criam vida. Descubra agora