George Russel- Waves

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Tocar Música da Midia!

S/N POV

O som das ondas foi o que notei primeiro. Sempre pensei no oceano como algo calmante—uma melodia interminável que zumbia suavemente no fundo da vida—mas esta noite, havia algo diferente nele. Estava mais intenso, vivo, quase elétrico, como se tivesse absorvido a energia crepitante do mundo à sua volta e agora a estivesse a devolver à costa. Enterrei os dedos dos pés na areia fria e húmida, deixando a sensação prender-me ao presente.

O ar cheirava a sal, fresco e revigorante, mas havia algo mais ali também—um toque de algo mais quente, almiscarado. Ele. O Jorge estava por perto, embora ainda não tivesse olhado. Não precisava. A sua presença era sempre tangível, como um calor que eu sentia na pele muito antes de o ver. Era o tipo de atração que desafiava toda a razão, uma gravidade que me fazia estar sempre consciente de onde ele estava, mesmo numa sala cheia de gente—ou, neste caso, numa praia vazia no meio da noite.

As estrelas estavam dispersas pelo céu, mal visíveis através da névoa que pairava sobre a água. Um brilho ténue da lua cintilava na superfície do oceano, lançando um caminho prateado que não levava a lugar algum. Havia uma espécie de magia no ar, o tipo que fazia tudo parecer possível. Esse sentido de imprevisibilidade, de espontaneidade infinita, sempre foi parte do que me atraía ao Jorge.

"Frio?" A sua voz surgiu por trás de mim, baixa e suave. Sorri para mim mesma antes de me virar. Ele estava apenas a alguns metros de distância, o cabelo despenteado pelo vento, a gola do casaco levantada como se o tentasse proteger do frio que nunca parecia incomodar-me. Os seus olhos brilhavam com uma intensidade serena, aquele mesmo olhar que ele tinha antes de uma corrida, pouco antes de entrar no estado em que nada mais importava.

"Um pouco," admiti, embora não fosse o frio que me fazia tremer. Havia uma carga no ar entre nós, algo elétrico que eu nunca conseguia definir mas que sempre sentia.

O Jorge deu um passo mais perto, o som da areia a estalar debaixo dos seus sapatos amplificando de alguma forma o silêncio à nossa volta. Ele não era do tipo que enchia uma conversa com palavras desnecessárias. Falava com os olhos, com os gestos, com o toque subtil dos seus dedos nos meus enquanto me entregava o casaco. Vesti-o sem protestar, o calor dele envolvendo-me os ombros como um abraço.

Ficámos ali por um momento, a olhar para as ondas. Sentia-o ao meu lado, os nossos braços quase a tocar, mas isso era suficiente. Sempre era suficiente. O silêncio não era desconfortável—nunca era com o Jorge. Era como se ambos compreendêssemos que as palavras não eram necessárias, não agora. Havia algo não dito no ar entre nós, algo que vibrava e pulsava, à espera de ser reconhecido.

"Alguma vez te sentes assim?" perguntei, rompendo o silêncio sem me virar para olhá-lo. Os meus olhos estavam fixos no horizonte, onde a água se encontrava com o céu numa linha que parecia desfocar quanto mais olhava. "Como se tudo estivesse... vivo? Como se houvesse algo mais logo abaixo da superfície?"

Ele não respondeu logo, mas eu não precisava que o fizesse. Sabia que o Jorge era alguém que vivia para os momentos entre os momentos. A adrenalina antes de uma corrida, a pausa mesmo antes das luzes se apagarem. Ele não perseguia a vida como alguns faziam—deixava-a vir até ele, e depois agarrava-a com uma força de tirar o fôlego.

"Sinto," disse ele finalmente, a voz pensativa, quase cautelosa. Ele sempre escolhia as palavras com cuidado. "É como se tudo estivesse a prender a respiração. Só à espera do momento certo para expirar."

Olhei para ele, observando como a luz da lua suavizava as linhas marcantes do seu rosto, fazendo-o parecer mais jovem, mais vulnerável do que de costume. Havia algo intoxicante nele nesses momentos tranquilos, uma profundidade que a maioria das pessoas não via. Eles viam o piloto, o competidor, o homem com o sorriso perfeito e o humor afiado. Mas aqui, sob o céu noturno, ele era apenas o Jorge. O homem que ouvia mais do que falava, que carregava um mundo inteiro por detrás daqueles olhos, mas que raramente deixava alguém entrar.

Exceto, de alguma forma, tinha-me deixado entrar.

Dei um passo mais perto, o meu ombro roçando no dele, o contacto enviando um arrepio pelo meu corpo que nada tinha a ver com o frio. A sua mão encontrou a minha sem hesitação, os dedos entrelaçando-se como se fosse a coisa mais natural do mundo. E talvez fosse. Talvez isso fosse o que sempre pareceu tão certo com o Jorge—nunca havia dúvidas, nunca perguntas. Não precisávamos de explicações, o que quer que fosse que existisse entre nós. Simplesmente era.

O seu polegar acariciou lentamente os meus nós dos dedos, de forma deliberada, e por um momento, esqueci-me de como respirar. Era um gesto tão pequeno, algo que devia ser insignificante, mas não era. Sentia-se como se o centro do universo tivesse mudado, como se tudo o resto tivesse desaparecido, e éramos apenas nós ali, duas pessoas no meio da noite, à beira de algo que nenhum de nós conseguia nomear.

"Eu nunca esperei por isto," admiti, a minha voz mal acima de um sussurro. "Tu e eu. É tudo..."

"Espontâneo," terminou ele por mim, os seus lábios curvando-se num sorriso que fez calor inundar-me. Ele virou-se então, finalmente olhando para mim por completo, e a intensidade no seu olhar foi suficiente para fazer o meu coração acelerar. "Mas é assim que as melhores coisas acontecem, não é? Quando não estamos à procura delas."

Soltei uma risada suave, abanando a cabeça. "É assim que nos vês? Um feliz acidente?"

O seu sorriso suavizou-se, e puxou-me para mais perto, a sua mão deslizando pela minha cintura com uma facilidade que me fez sentir que pertencia ali. "Não um acidente," disse ele, o seu hálito quente contra a minha têmpora. "Mas definitivamente inesperado. Da melhor maneira possível."

Encostei a cabeça ao seu ombro, deixando o ritmo do oceano sincronizar-se com a batida constante do seu coração debaixo do meu ouvido. O mundo à nossa volta parecia distante, como se fôssemos as únicas duas pessoas a existir naquele momento. Havia algo inegavelmente emocionante nisso, essa sensação de estar à beira de algo maior do que eu própria. Algo que eu não podia controlar, mas que não queria.

E talvez essa fosse a beleza disso—do Jorge, de nós. A imprevisibilidade, a excitação, a maneira como tudo parecia estar apenas à espera de acontecer. Como o amor, selvagem e intoxicante, podia entrar sem aviso, e, pela primeira vez, eu não tinha medo.

Fechei os olhos, respirando-o, e deixei-me cair.



Olá pessoal!Espero que tenham gostado deste imagine.Se tiverem algum pedido, não hesitem em fazê-lo que irei com todo o gosto, amor, carinho e dedicação escreve-lo.

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