Homesick

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Homesick

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Homesick

Estou sentada no pequeno palco, com a guitarra apoiada no meu colo, as cordas ressoando levemente com cada movimento. Meus dedos hesitam nos acordes, como se fossem estranhos à música que toquei tantas vezes. Cada nota soa um pouco abafada, e sinto as pontas dos dedos formigando, uma mistura de nervosismo e o desconforto de horas de prática.

Não costumo muito comentar que toco violão e guitarra, pois aprendi mais na marra. Minha cabeça de criança sempre me dizia que "você precisa aprender algum instrumento básico para cantar" e assim aprendi esses dois.

Não funcionam muito como um Robby, pego-os mais quando preciso de uma melodia para minhas letras fazerem sentido.

Olho em volta. O espaço é modesto, o palco não é tão grande e é mais elevado do que a pista, assim, quando lotado, todos conseguem me ver claramente. Mesmo sabendo que o show será pequeno, a ideia de me apresentar para qualquer pessoa me deixa inquieta. Respiro fundo, tentando acalmar os pensamentos, mas o som dos meus dedos batendo na guitarra me irrita. Não estou pronta. Ainda não.

- Como está indo? - A voz do Fernando, meu empresário, ecoa do fundo do salão, interrompendo meus devaneios. Ele se aproxima com passos confiantes, uma prancheta em uma mão e o celular na outra.

- Poderia estar melhor. - Respondo, tentando não soar tão desesperada quanto me sinto. Meu estômago se contrai. A última coisa que quero é que ele perceba o quanto estou nervosa. - Ainda não sinto que a voz está saindo do jeito que deveria.

Ele ergue as sobrancelhas e dá de ombros, como sempre faz quando acha que estou exagerando.

- Você sempre diz isso, e no final dá tudo certo. Já ouvi você fazer essa música mil vezes, e todas foram boas. Amanhã vai ser igual.

Eu gostaria de ter a confiança dele. Enquanto Carlos anota algo em sua prancheta, sem tirar os olhos do celular, o barulho de uma cadeira sendo arrastadas me lembra que Jack, o produtor, também está por aqui. Ele está ajustando o equipamento, o olhar fixo na mesa de som, mas sempre atento a tudo.

- E aí, pronta para mais uma? - Jack pergunta sem olhar diretamente para mim, o que é típico dele. Ele prefere ficar na técnica, mexendo nos botões e cabos, sem se envolver muito com o que acontece no palco.

- Quase. - Respondo, tentando sorrir, mas minha voz sai baixa.

Jack me lança um olhar rápido, como quem sabe que estou mentindo. Ele se aproxima da beirada do palco, se abaixa para ajustar o volume do amplificador e, antes de se levantar, diz em um tom mais sério.

- Se a guitarra está te prendendo, por que não faz a música sem ela? A voz é o que importa amanhã, de qualquer jeito.

Suspiro, sabendo que ele tem razão. A guitarra está me desconcentrando. Fazendo com que eu me esconda atrás dela. E se tem uma coisa que Jack nunca deixa passar é quando tento fugir da essência da performance.

THE DEVIL IN DESGUISE - GAVIOnde histórias criam vida. Descubra agora