cap. 28

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— Jihyo? —  Sana chamou no meio da madrugada, fazendo a menorabrir os olhos imediatamente.

— O que foi? — Ela perguntou meio sonolenta e Sana se virou na cama, enterrando o rosto em seu pescoço.

— Tive um pesadelo. — Ela disse baixinho e Jihyo nada disse, apenas envolveu um de seus braços em torno de Sana e iniciou uma carícia mansa.

— Quer compartilhar? — A menor indagou e Sana assentiu.

— Eu saía daqui e você ficava... E eu nunca mais te via. Você não queria me deixar te visitar, nessa droga de pesadelo. — Sana disse e o silêncio se propagou pelo ambiente.

— Sh... —  Jihyo falou, depositando um beijo nos cabelos castanhos. A maior a abraçou fortemente antes de voltar a falar algo.

— É exatamente o que fará, não é? — Sana perguntou e Jihyo a fitou. Apesar do escuro ela conseguia ver com clareza os olhos claros e tristes.

— Eu sou pobre fora daqui. — Jihyo disse por fim. — E fodida. Eu não tenho ninguém lá fora. Sequer tenho aonde ficar. — Confessou. —  Nunca fiz uma faculdade e terei a ficha manchada, o que dificultará minhas chances de arrumar um emprego. — Sua mão foi até o rosto de Sana unicamente para enxugar uma lágrima solitária. — É isso o que quer para a sua vida?

— Eu quero você para a minha vida e não importa o resto, Jihyo. — Sana falou e a menor umedeceu os lábios.

— Você merece coisa melhor, Sana. Alguém que possa...

— Não! — A maior a cortou. — Eu não preciso de alguém rico, eu já sou e sei que o dinheiro não pode comprar amor. — Falou firmemente. — Não preciso de alguém formado em nada, Jihyo. Olha, você pode não ter um lugar na alta sociedade, mas cuidou de mim melhor do que qualquer pessoa antes.

— Quando você sair faltará um ano e meio ainda para eu sair, Sana. — Jihyo disse tristemente. — Você pode encontrar alguém lá fora e...

— Não! — A cortou novamente. — Um ano e meio não é nada perto do resto de nossas vidas. — Jihyo sentiu seus olhos arderem, ninguém nunca havia insistido nela daquela forma.

— Você só me conhece há dois meses, Satang.

— Mas já percebi que o coração da garota que me deu um bilhete anos atrás não mudou e eu gosto disso em você.

— Podemos... Não falar disso agora? — Jihyo pediu e Sana assentiu tristemente.

— Tudo bem. — Sana disse e se inclinou, aplicando um beijo nos lábios da menor antes de se virar, puxando o braço de Jihyo junto com ela, fazendo-a abraçá-la. Fazia semanas que Jihyo não dormia na própria cama, Sana sempre queria ela ali com ela.

— A terceira vez que nossas vidas se cruzaram foi em um hospital. —  Jihyo disse do nada, a abraçando mais forte. — E é por essa vez que eu sei que você merece mais do que eu. — Sana se virou para ela rapidamente, analisando minuciosamente suas feições.

— Não pode me dizer só isso. — Alegou e Jihyo riu.

— Eu posso sim, na verdade, mas não farei isso. —  Ela disse. — Meu avô tinha uma doença rara no pulmão e por isso vivia internado. — Ela começou, não vendo o porquê de esconder aquilo de Sana. — Ele precisava de duas cirurgias, mas era um valor exorbitante e não tínhamos condições, por isso eu trabalhava de qualquer coisa que aparecesse.

— Eram da Florida? —  Sana indagou e Jihyo assentiu.

— Mudamos para cá porque conseguimos uma vaga num hospital melhor para ele. — Jihyo explicou. —  Ele estava prestes a morrer e eu sentia meu muito inteiro desmoronando, porém fui contemplada com a notícia de que o número do quarto do meu avô foi sorteado por uma doadora e com esse dinheiro conseguimos pagar uma das cirurgias que passamos anos adiando. Era você, Sannie... — Sana viu o lábio inferior de Jihyo tremer e levou uma mão ao rosto da maior, espantando as lágrimas com o polegar.

— Eu sempre faço doações em hospitais, só não tinha a noção da dimensão da minha ajuda. — Sana confessou e Jihyo sorriu tristemente.

— Você me deu de presente sete meses a mais com meu avô e eu nunca, nunca irei esquecer isso. — Ela disse, abraçando a maior. — Sempre desejei te agradecer, mas nunca tive a oportunidade, então obrigada, Sana.

— Sete meses? — Sana perguntou confusa e Jihyo assentiu.

— Como eu disse, ele precisava de duas cirurgias. Só realizamos uma. — Sana sentiu seu coração se comprimir em seu peito e sua boca secar.

— Como... Por que você não... Deveria ter me contatado. Eu poderia... — Maldito planeta onde sem dinheiro permitiam alguém morrer. Que tipo de crueldade era aquela? — Me desculpa, Jihyo. Me perdoa, eu poderia...

— Não. Não faça isso com você, meu amor. — Jihyo pediu ao ver que Sana havia começado a chorar. — Você não poderia saber de nada. Sem você ele morreria em semanas. Você me deu o melhor presente do mundo, sete meses a mais com ele. — Disse, vendo Sana ainda desolada. — Eu só te conheci ali por Minatozaki Sana, sem rosto, apenas um nome. Quando vi você entrar aqui e ser anunciada como Minatozaki Sana eu não pude crer que as duas pessoas que mais admirei na vida eram a mesma pessoa.

— Jih, você não tentou me contatar por quê?

— Você era rica e importante, nunca deixariam uma pobre falar com você. Te procurei em redes sociais, mas não achei. —  Jihyo confessou. — E eu sequer te conhecia para pedir tudo aquilo de dinheiro.

— Eu daria. Céus, eu teria dado sem pensar duas vezes. — Falou com firmeza. — Por favor, me perdoa.

— Eu sei que você teria dado. — Jihyo disse sorrindo fraco. — Você é você, a pessoa dona de um coração gigantesco.

— Eu estou me sentindo impotente e vazia. — Sana falou e Jihyo a beijou docemente nos lábios.

— Você é o anjo da minha vida, não deveria se sentir assim.

— Então por que ainda me sinto? — Sana perguntou sentindo um buraco em seu peito e Jihyo suspirou.

— Porque essa é você. Tende a sentir a necessidade de melhorar o mundo e odeia injustiças. Essa é você, Sannie. — A maior umedeceu os lábios, ainda frustrada.

— Se eu pudesse ter salvado o meu pai eu teria feito, Jihyo. Não posso acreditar que eu poderia ter te ajudado. Eu não...

— Sei como se sente. — Jihyo disse. —  Eu também tentei salvar meu avô, mas olha só a diferença de uma rica para uma pobre... Eu precisei acabar presa para isso. —  Sana ergueu o rosto e a fitou.

— O que quer dizer, Jihyo? — A menor suspirou. Diria o motivo de ter ido presa para ela sem remorso, diria porque Sana a tinha por completo; diria porque finalmente sentia-se pronta para isso.

Presa por acaso - sahyoOnde histórias criam vida. Descubra agora