cap. 34

250 41 8
                                    

Os olhos castanhos prestavam atenção em como Sana a olhava ansiando uma resposta e a daria, sem dúvidas. Confiaria aquilo à sua namorada, mesmo sabendo que se descobrissem a verdade ela apanharia muito.

— Como assim? — Sana indagou. — Vai me dizer que é uma infiltrada do governo para acabar com a corrupção daqui? — Perguntou rindo baixinho e Jihyo suspirou.

— Não, Sana. — Ela disse rindo nervosamente. — Antes fosse, assim eu desistiria dessa merda de missão e iria ter uma vida com você lá fora. — Falou.

— E então?

— Confio em você, mas precisa me jurar não contar nada a ninguém, por favor. — Ela pediu e Sana assentiu freneticamente, sentindo a curiosidade aflorar em sua pele através dos poros de seu corpo.

— Prometo. — Sana falou e Jihyo assentiu.

— Bem, quando eu entrei aqui eu estava arrasada pelo medo de meu avô me odiar. — Ela começou. — Passei dias e mais dias de pânico com cantadas inapropriadas de detentas veteranas e, quando eu achava que não podia piorar, me avisaram que meu avô havia falecido. — Os olhos de Sana se arregalaram ligeiramente antes da menor fazer uma pequena careta.

— Céus, deve ter sido um inferno. — Sana disse e Jihyo assentiu.

— Mas tenho muita sorte de sempre aparecer anjos na minha vida. — Ela disse com um sorriso triste em seus lábios.

— O que quer dizer? — Sana questionou confusa.

— Que a detenta que estava na minha cela se tornou minha amiga. — Sana paralisou seu olhar no de Jihyo. Nayeon havia comentado sobre essa mulher com ela, se bem se lembrava.

— O que, uh, houve com ela? — Jihyo riu e a fitou.

— Te contaram, não é? —  Sana corou levemente e assentiu.

— Mais ou menos. — Confessou com uma careta e Jihyo assentiu.

— Bem, seu nome era Chaeyoung e ela era a antiga líder. — Explicou. — Ela notava a constante luta que eu vivia com o assédio neste lugar e no dia que apareci com o olho roxo após três dias na detenção, ela ficou irritada, afinal havíamos nos tornado amigas.

— Por que foi para a detenção? — Sana perguntou curiosamente.

— Não deixaria que me tocassem facilmente e acabei brigando feio com uma delas. Ambas fomos para a detenção.

— Eu posso entender esse sentimento. — Ela disse e Jihyo sorriu, umedecendo os lábios.

— Sim, ainda lembro de você dizendo que eu poderia mandar minha "capacho" te arrebentar que mesmo assim eu não tocaria em você. — Jihyo falou rindo.

— O engraçado é que hoje eu faço questão de que toque. — Sana disse mordendo o lábio inferior e a menor suspirou.

— Não sei o que eu fiz para te merecer, mas não estou reclamando em absoluto. — Jihyo disse e Sana a puxou para um beijo rápido antes de a fitar com ansiedade.

— Mas e então? — Perguntou curiosamente.

— Bem, fomos nos tornando cada vez mais íntimas e resolvi lhe contar o porquê de ter vindo presa. Nessa época Chaeyoung começou a vomitar com frequência e a cuspir sangue constantemente e eu sempre a ajudava lavando seu rosto, a levando comida, sabe? — Perguntou retoricamente. — Depois de levar mais uma surra aleatória ela me contou que tinha pouco tempo de vida. Tinha um câncer em um estágio avançado e me confessou que fui a única que se importou com ela em todo seu tempo de cadeia. — Jihyo disse, limpando a garganta. — Um dia estávamos no pátio tomando sol e ela cuspiu sangue em uma de suas tosses. Foi tudo muito rápido, no momento seguinte ela mandou eu bater nela.

Jihyo fitava a parede com um olhar nostálgico, perdida nas lembranças de infelicidade daquela trágica semana.

— Não aceitei, mas ela me implorou e disse que era para meu bem. Decidi a empurrar de leve, mas ela mesma se jogou com força contra a parede e me puxou, falando para eu fingir que a batia. Foi tudo confuso e me lembro de tê-la obedecido.

— Assim virou líder? — Sana indagou.

— Ainda não. Ela pediu para que eu a desafiasse no dia seguinte, mas eu não queria. Ela estava fraca e pálida, porém ela era teimosa. — Disse e fitou sua namorada. — Assim conheci Mina, porque naquele dia Chaeyoung mandou Mina ir buscar alguns remédios para ela, porém quando voltava ouviu a conversa e Chaeyoung a fez jurar jamais contar nada a ninguém.

— E houve a falsa briga nesse dia?

— Sim, o sangue que ela cuspia fez tudo parecer mais real e ela gritou ter perdido o posto para mim diante de quase todas. — Jihyo falou antes de suspirar. — Ela fez todas me temerem e pediu para uma de suas garotas me ensinarem a lutar de verdade, porque apesar de ser a nova líder, e ter várias que estariam lá para mim na hora da pancadaria, ainda assim talvez eu precisaria lutar.

— Não sei o que dizer. — Sana disse abismada e Jihyo lhe deu um beijo casto.

— Ela me pediu para jamais conversar com ninguém, não mostrar vulnerabilidade, falar como se eu não tivesse medo de ninguém e jamais desmentir um boato sobre algo ruim que fiz. — Jihyo disse rindo com escárnio. — Naquela semana ela faleceu e todo o presídio achou que eu a matei na cela enquanto dormia. Tenho certeza de que isso foi ideia dela. — Falou rindo tristemente. — As únicas que sabem disso aqui dentro são três pessoas, além de você. — Sana a fitou com anseio.

— Jeongyeon e Mina eu já sei, mas quem seria a outra? — Sana questionou e Jihyo riu.

— Você não vai acreditar.

— Odeio essa merda de suspense. Você o faz desde que cheguei. — Sana reclamou e cruzou os braços, fingindo chateação. Jihyo a puxou mais para seus braços e riu com vontade.

— Quanto dengo, coisa linda. — Ela murmurou e Sana suspirou ao sentir um beijo de Jihyo contra a pele de seu pescoço.

— Diz, para mim, amor... — Sana pediu e Jihyo assentiu.

— Digo tudo o que quiser. — Ela disse sorrindo. E lá ia ela novamente, abrir seu coração e sua história completamente para Sana. Bem, completamente não, ela jamais contaria sobre o pequeno segredo que guardava com Jeongyeon.

Presa por acaso - sahyoOnde histórias criam vida. Descubra agora