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O despertador de Sofia tocou às 6h, e ela acordou devagar, esticando os braços e respirando fundo. Levantar cedo era sua forma de se manter em equilíbrio. A manhã era um dos raros momentos do dia em que conseguia sentir paz. Ainda de camisola, ela foi até a cozinha e preparou seu café simples: uma fatia de pão com manteiga e um copo de suco. Não gostava de exageros, mas fazia questão de manter certa disciplina em sua rotina para que a ansiedade não a dominasse.

Após o café, foi para o banheiro e prendeu os cabelos ruivos em um coque solto, apenas o suficiente para não incomodar. Gostava de se olhar no espelho, mas às vezes tinha dificuldade em gostar do que via. O cabelo ruivo, uma herança da mãe, era algo que sempre a destacava – e, de certa forma, fazia com que ela se sentisse vulnerável aos olhares alheios.

Depois de uma ducha rápida, vestiu-se com uma roupa social simples, uma camisa branca e uma calça preta. Sofia sempre preferia tons neutros no trabalho, como uma tentativa de passar despercebida. Respirou fundo diante do espelho mais uma vez, repetindo mentalmente que seria mais um dia comum. Mais um dia em que precisava mostrar que podia lidar com o emprego e, mais importante, não chamar atenção.

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Ao chegar à empresa, Sofia deu um sorriso discreto para a recepcionista e se dirigiu diretamente para as escadas, evitando o elevador. Como sempre, sentiu o coração acelerar um pouco ao passar por ele. Com passos rápidos, subiu para o andar onde trabalhava e, ao chegar, percebeu um burburinho no corredor. Dois funcionários cochichavam entre si, e, assim que ela se aproximou, eles interromperam a conversa bruscamente.

Por um momento, Sofia hesitou.

— É aquela lá? — ouviu um deles dizer, baixo, mas o suficiente para que ela captasse.

— Sim, a ruiva... Parece que o chefe tá de olho nela.

Sofia sentiu um aperto no peito. Fingiu que não tinha ouvido, mas as palavras a seguiram como uma sombra. O chefe tá de olho nela... Era a última coisa que precisava. Não queria ser comentada, muito menos ter a atenção de Leon. Não daquela forma.

Ela tentou afastar a insegurança enquanto sentava à mesa e começava suas tarefas do dia, mas as palavras repetiam-se em sua mente como um eco. Será que estão falando mesmo de mim? Será que Leon... Ela balançou a cabeça, tentando se concentrar, mas a inquietação não a deixava. O dia passou arrastado, e Sofia mal via a hora de sair dali.

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Quando o expediente finalmente terminou, Sofia pegou suas coisas e saiu rapidamente da empresa. Precisava se livrar daquela sensação sufocante. E sabia exatamente o que fazer para isso.

Corrida sempre foi sua válvula de escape. Desde que deixou a casa dos pais, correr era o que a fazia se sentir livre. Era o momento em que podia ser apenas ela, sem julgamentos, sem medo. Colocou os fones de ouvido, ajustou o ritmo da música, e começou a correr pelas ruas tranquilas perto de sua casa. O vento batendo no rosto e o som das passadas no asfalto a faziam esquecer as inseguranças do dia.

Após alguns minutos, seu corpo já estava aquecido e seu ritmo constante. Ela corria leve, como se fugisse dos pensamentos que a perturbavam. Foi então, ao dobrar uma esquina, que o inesperado aconteceu.

Leon.

Lá estava ele, correndo na direção oposta, vestindo uma camiseta cinza e shorts escuros. Os cabelos castanho-claros estavam um pouco bagunçados por causa do vento, e os braços fortes se moviam com precisão no ritmo da corrida. Ele a viu ao mesmo tempo em que ela o reconheceu, e por um breve instante, seus olhares se cruzaram.

Sofia sentiu o coração disparar, não pelo esforço físico, mas pela surpresa. Tentou manter a calma e continuar correndo, mas Leon diminuiu o ritmo até igualar-se ao dela.

— Parece que não sou o único que gosta de correr — ele disse, com um meio sorriso.

Sofia tentou sorrir de volta, sem deixar transparecer o nervosismo.
— É... Gosto de correr depois do trabalho. Me ajuda a pensar.

Leon acompanhava seu ritmo com facilidade, o que só aumentava a ansiedade dela. Correr era seu momento de liberdade, e agora ela tinha a presença inesperada do chefe ao seu lado.

— Sabe, eu também corro para organizar as ideias — ele comentou. — E hoje, por coincidência, eu estava pensando em você.

Sofia quase tropeçou ao ouvir aquilo. Ele disse aquilo de forma casual, mas a frase ficou pairando no ar, carregada de um significado que ela não sabia interpretar.

— Pensando em mim? — perguntou, tentando soar natural.

Leon deu de ombros, como se fosse óbvio.
— Você é uma funcionária nova e dedicada. É normal que eu observe.

Sofia apenas assentiu, sem saber o que responder. Por algum motivo, o fato de Leon estar correndo ao seu lado não parecia tão incômodo quanto ela imaginava. Ele tinha um jeito casual e despreocupado, diferente do chefe sério e distante que era na empresa.

Eles continuaram correndo juntos por mais alguns minutos em silêncio, até que Leon finalmente falou:
— Talvez a gente devesse fazer isso mais vezes. Correr juntos, quero dizer.

Sofia parou de correr por um instante, tentando recuperar o fôlego e o controle dos próprios pensamentos. O que ele estava propondo? E, mais importante, por que aquilo a deixava tão inquieta?

Leon parou ao lado dela, esperando sua resposta. E Sofia, por um momento, sentiu que a decisão de dizer sim ou não era mais complicada do que parecia.

 E Sofia, por um momento, sentiu que a decisão de dizer sim ou não era mais complicada do que parecia

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