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Sofia passou o resto do dia na empresa com um nó na garganta. Por mais que tentasse se concentrar no trabalho, os cochichos dos colegas ainda pairavam sobre sua mente. Cada vez que cruzava um olhar com alguém no corredor, sentia que estava sendo julgada, como se todos soubessem de algo que ela não sabia ao certo. O peso dos comentários começou a fazer o chão parecer mais instável do que nunca.

No meio da tarde, Leon apareceu brevemente na sala, revisando algumas entregas, como de costume. Ele não demonstrou nenhuma mudança na postura, mas cada vez que seus olhares se cruzavam, Sofia sentia o coração acelerar. Era irritante. Por que ele tem que mexer comigo assim? Ela se perguntava, tentando sufocar a atração crescente.

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No final do expediente, Sofia guardou as coisas em silêncio e saiu rápido da empresa, antes que pudesse ouvir mais comentários. O ar da rua lhe trouxe algum alívio, mas ainda precisava se livrar da tensão acumulada. Colocou os fones de ouvido e saiu para correr.

Os primeiros minutos foram libertadores. As passadas rápidas a faziam esquecer as vozes da empresa, os olhares, e até mesmo as memórias perturbadoras da ligação com a mãe. A música alta e o ritmo da corrida criavam uma bolha confortável onde ela podia respirar.

No entanto, ao virar uma esquina mais distante, lá estava ele novamente. Leon.

Ele corria sozinho, no mesmo ritmo leve e eficiente da noite anterior, vestindo uma camiseta branca e shorts pretos. Por um momento, Sofia pensou em mudar de direção, mas ele já a tinha visto. Leon desacelerou e, sorrindo de canto, igualou-se ao ritmo dela mais uma vez.

— Você corre sempre por aqui? — ele perguntou, sem fôlego, mas ainda assim natural.

— Sim, é um dos meus lugares preferidos — respondeu Sofia, tentando soar casual, embora seu coração estivesse acelerado por outro motivo além da corrida.

— Acho que a gente tem mais em comum do que eu imaginava. — Leon olhou de lado, com aquele sorriso que parecia querer entender mais do que ela estava disposta a revelar.

Eles continuaram correndo em silêncio por alguns minutos, as passadas ecoando no asfalto, acompanhadas apenas pelo som da respiração controlada de ambos. Era um silêncio estranho, mas confortável.

Sofia nunca havia imaginado que correr ao lado dele poderia ser tão... leve. Por algum motivo, ele não parecia o chefe distante e arrogante de sempre. Ao contrário, Leon parecia genuinamente à vontade ali, ao seu lado, como se também estivesse fugindo de algo.

— Escuta — ele disse de repente, quebrando o silêncio. — Notei que você nunca usa o elevador. Tem algum motivo?

Sofia engoliu em seco. A pergunta veio direto, sem rodeios, e a pegou de surpresa. Ela desviou o olhar para a rua à frente, buscando uma resposta que não revelasse demais.

— Eu... Não gosto de elevadores. Só isso.

Leon arqueou uma sobrancelha, mas não insistiu. Apenas deu um aceno de cabeça, como se aceitasse a resposta por enquanto.

— Se precisar de alguém para subir com você, é só avisar — ele disse, em um tom que parecia mais genuíno do que ela esperava.

Sofia apenas assentiu, sentindo uma mistura de gratidão e desconforto. Era estranho que alguém percebesse algo tão íntimo dela. Ninguém nunca se importava com esses detalhes, mas, de alguma forma, Leon havia notado.

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Quando terminaram a corrida, ambos pararam em uma praça próxima para alongar. Leon apoiou as mãos nos joelhos por um momento, respirando fundo.

— Sabe, correr me ajuda a organizar as coisas na cabeça — ele comentou, olhando para o horizonte.

— Para mim também — Sofia respondeu, baixinho, sem encará-lo.

Ele a observou por alguns instantes, como se tentasse decifrá-la. Era uma sensação estranha para Sofia. Leon não estava se comportando como o chefe distante da empresa, mas como um homem normal, alguém que talvez estivesse tão perdido quanto ela.

— Sofia — ele disse, com um tom mais sério —, não escute tudo que as pessoas falam na empresa. Elas não sabem de nada.

Ela sentiu um nó se formar em sua garganta. Ele sabia dos cochichos? E por que parecia preocupado com o que ela estava sentindo?

— Eu não me importo com o que dizem — Sofia mentiu, olhando para baixo.

Leon deu um sorriso suave, mas não insistiu. Apenas colocou a mão no ombro dela, de leve, antes de se despedir.

— Boa noite, Sofia. Até amanhã.

E com isso, ele se afastou, deixando-a sozinha na praça, com o coração batendo descompassado e os pensamentos girando. Mais uma vez, Leon havia atravessado a barreira que ela tanto se esforçava para manter. E o mais estranho era que, talvez, ela não quisesse mais afastá-lo.

 E o mais estranho era que, talvez, ela não quisesse mais afastá-lo

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