Amores de Conveniência

26

Depois de todo o alvoroço do café da manhã, Sofia se afastou um pouco, observando a família de Leon reunida. Risos e vozes ecoavam pela casa enquanto os primos e tios conversavam alegremente. A forma calorosa como eles a receberam, as brincadeiras, o carinho genuíno que demonstravam… tudo isso a tocava profundamente. Ela se lembrou da própria família, dos dias sombrios que enfrentou e de como aquela união era algo distante da realidade em que cresceu.

Quando Leon se aproximou, Sofia ainda estava mergulhada em pensamentos. Ele notou o semblante distante dela e se sentou ao seu lado.

— Tudo bem? — perguntou ele, gentilmente.

Sofia sorriu, disfarçando o turbilhão de emoções.
— Sim, só estava... pensando. Você tem muita sorte, Leon. Sua família é... incrível.

Leon ficou em silêncio, mas seu olhar transmitia compreensão. Ele parecia ter captado a profundidade daquela simples frase. Sofia, tentando aliviar o clima, mudou de assunto.

— Eu estava ouvindo vocês falando sobre a Alemanha — disse ela, desviando os olhos para ele. — Eu e minha família moramos lá por alguns anos quando eu era criança.

Leon ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Sério? Você morou na Alemanha?

Sofia assentiu.
— Sim. Nós morávamos em Berlim. Eu falava alemão fluentemente quando criança, e ainda lembro bastante da língua.

— Não brinca! — Leon abriu um sorriso. — Então fala alguma coisa.

Ela riu, e, meio sem jeito, disse algo em alemão:
— "Ich denke, dass deine Familie wirklich wunderbar ist" — disse ela, e Leon piscou, intrigado, mas com um sorriso.

— E o que isso significa? — perguntou ele, curioso.

Sofia corou um pouco, mas respondeu:
— "Acho que sua família é realmente maravilhosa."

Leon sorriu, surpreso.
— É lindo... Mas, espera, quantas línguas você fala?

Sofia deu de ombros, tentando parecer despreocupada.
— Além do português e do alemão, eu também falo espanhol, russo e um pouco de francês.

— Cinco línguas?! — Leon ficou realmente impressionado. — Como conseguiu aprender tudo isso?

Sofia deu um leve sorriso, mas seus olhos revelavam uma mistura de tristeza e determinação.
— Eu sempre soube que, para chegar a algum lugar, teria que me esforçar. Aprender línguas era uma forma de abrir portas. Tive que me dedicar muito a isso.

Leon admirava a força e a determinação dela. Quanto mais conhecia Sofia, mais ele percebia que havia algo profundamente resiliente naquela jovem mulher. Mas, apesar de sua vontade de saber mais, ele sabia que havia assuntos que a deixavam desconfortável.

— Seus pais devem estar muito orgulhosos de você — comentou ele, escolhendo as palavras cuidadosamente.

A expressão de Sofia mudou, fechando-se imediatamente. Ela desviou o olhar, claramente incomodada com o rumo da conversa.
— Eles… têm as prioridades deles — respondeu ela, de forma vaga, olhando para o lado.

Leon sentiu que havia algo doloroso por trás daquela resposta, e decidiu não insistir. No entanto, ele não conseguiu deixar de se sentir curioso e um pouco preocupado. Mais uma vez, ele viu um lado dela que parecia esconder cicatrizes profundas.

Percebendo o clima pesado, Sofia voltou a sorrir, tentando disfarçar.
— E você? — perguntou, mudando de assunto. — Não sabia que gostava de correr. Hoje cedo, quando você voltou da sua corrida, parecia que nem sentia cansaço.

Leon aceitou a mudança de tópico, sorrindo.
— Sim, eu adoro correr. Na verdade, é algo que me ajuda a pensar e a relaxar. E, com a família toda reunida, acho que preciso correr ainda mais pra manter a sanidade — brincou ele, arrancando uma risada de Sofia.

A conversa seguiu com um tom mais leve, e os dois ficaram ali, trocando confidências e risadas sobre suas rotinas e hobbies. Apesar das barreiras, Leon sentia que pouco a pouco entendia um pouco mais de Sofia, e ela, por sua vez, começava a sentir que talvez pudesse confiar nele.