Capítulo 39

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- Bem-vindo de volta, irmão. - Rafael fala ao abrir os portões da cidade celestial. Killian olha ao redor maravilhado e sente uma sensação de pertencimento surgir desde o fundo do seu peito. Estava de volta.

- É lindo... - ele murmura e seus olhos se enchem de lágrimas.

- Eu sei, você sempre dizia isso. - Rafael sorri e segue em direção ao que parece ser uma praça, com uma grande fonte e muitas árvores ao redor, onde alguns Anjos estão brincando e conversando. Killian fica um pouco confuso ao ouvi-lo, mas acaba o seguindo em silêncio.

Ao vê-lo se aproximar, os Anjos correm em sua direção, o cumprimentando e lhe dando as boas-vindas todos de uma vez. Estavam realmente empolgados em tê-lo de volta.

- Ah... é bom ver vocês também! - ele força um sorriso gentil e responde hesitante, tentando não parecer estranho.

- Miguel, precisamos ir. - Rafael fala um pouco alto e logo os Anjos se afastam um pouco tristonhos.

- Volte para conversarmos mais! - um dos Anjos se agarra ao seu antebraço e o encara com um olhar cheio de expectativa.

- Eu volto, não se preocupe! - Killian sorri e acaricia seus cabelos.

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- Esse é o seu quarto. - o Arcanjo abre a porta, mas não entra.

- Nossa... - Killian entra no cômodo e se surpreende ao ver o quão grande era. Toda a decoração era em tons claros, tinha apenas uma cama, com uma pequena mesa de cabeceira no lado direito e uma escrivaninha, todo o resto do espaço estava preenchido por pilhas de livros e papéis.

- Descanse um pouco, voltarei à noite.

- À noite ? Pensei que a passagem do tempo aqui fosse diferente.

- Nós temos uma espécie de toque de recolher todos os dias, mas com a sua chegada o Pai decidiu adicionar à noite para que você se sentisse mais à vontade.

- O Pai... - ele murmura, pensando em como seria sua aparência.

- Não se preocupe, o Pai encontrará com você logo! - o Arcanjo sorri e acena com a cabeça, se despedindo, logo depois segue pelo corredor até desaparecer. Killian deixa um longo suspiro sair e fecha a porta, ele observa a bagunça daquele quarto e não sabe se deveria ou se podia mexer em algo.

- Que bagunça. - Killian murmura e caminha cuidadosamente entre os livros no chão até a cama, ele se senta e olha pela janela, mas tudo o que pode ver é um céu azul, como se estivesse em algum tipo de sonho.

- Me pergunto se essa foi a decisão correta...

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- Miguel ? Está aí ? - Rafael o chama ao bater à porta, alguns segundos depois, Killian aparece com o rosto inchado, de quem acabou de acordar.

- Eu atrapalhei seu sono ?

- Não, tudo bem. Eu nem percebi quando dormi, não sabia que estava tão cansado. - ele ri um pouco envergonhado. Fazia alguns dias que não conseguia dormir bem e por isso adormeceu sem se dar conta.

- Entra, por favor. - Killian se afasta da porta e indica o interior do quarto.

- Eu trouxe um chá. Não sei se está do seu agrado, confesso que é a primeira vez que faço um. - Rafael estende a xícara em sua direção e o observa ansioso, esperando ter feito um bom trabalho.

- Obrigado. - Killian pega o objeto e bebe um pouco. Para sua surpresa, estava delicioso.

- Não tem muitos móveis, então pode sentar na cama se quiser. - ele fala ao se sentar na cama.

- Como se sente ? - o Arcanjo o questiona ao se aproximar e se sentar ao seu lado.

- Eu não sei... - ele murmura com sinceridade.

- Me surpreende que você esteja tão calmo. Os humanos costumam ter problemas para lidar com as coisas que não entendem.

- Está falando sobre eu estar sentado ao lado de um Arcanjo, no Reino Celestial ? - Killian ri.

- E também sobre ser amante do Rei do Inferno. - Rafael complementa.

- É, falando assim, soa bem estranho. - ele sorri, no entanto, seu olhar parece triste.

- Não vai perguntar nada ? Pensei que tinha vindo aqui para saber a verdade.

- Sendo sincero, acho que estou com medo de perguntar.

- Tem medo de que as respostas que busca não sejam as que quer ouvir ?

- Sim... meio idiota, não é ? Eu pensei que ficaria em paz se soubesse de tudo, mas agora não tenho certeza disso.

- Eu não penso assim. - Rafael sorri, tentando confortá-lo.

- Onde estão os outros Arcanjos ? Você parece ser o único aqui. - Killian muda de assunto e bebe mais um gole do chá.

- Estão em missões nas outras Colônias Espirituais, mas logo estarão aqui para te ver.

- Colônias...? - ele franze o cenho, confuso.

- Ah! Desculpe, me esqueci que você ainda não recuperou suas lembranças. Acho que é melhor eu ir e te deixar descansar mais um pouco. - o Arcanjo se levanta.

- Espera! - Killian se levanta bruscamente e agarra seu antebraço.

- Sim ?

- Se estivesse no meu lugar, o que você faria ? - ele questiona ansioso, esperando ouvir algum conselho que o ajude a tomar uma decisão.

- Eu não posso te dizer isso, Miguel. Qualquer resposta que eu der, não vai trazer a paz que você espera. - Rafael sorri novamente e gentilmente afasta sua mão.

- O Pai se encontrará com você amanhã, talvez ele te ajude a achar as respostas que deseja. - o Arcanjo acaricia seu rosto e logo depois segue em direção a saída. Killian o observa sair, sem conseguir dizer nem uma palavra, ainda tentando digerir sua resposta.

- Isso me deixou ainda mais confuso... - ele murmura e deixa um longo suspiro sair. Killian se vira para pôr a xícara sobre a mesinha de cabeceira, mas acaba derrubando uma pilha de papéis.

- Droga! - Killian resmunga e deixa a xícara na mesa de cabeceira, em seguida se ajoelha para recolher todos os papéis que tinham se espalhado pelo chão. Enquanto junta tudo, percebe que uma folha havia ido para debaixo da cama, ele se inclina para frente e estende a mão, tentando alcançá-lo, mas algo escondido em um cantinho próximo à parede, chama sua atenção.

Ele se estica mais um pouco e consegue alcançar o objeto, e ao retirá-lo debaixo da cama, vê que é uma pequena caixa de madeira. Killian fica curioso para descobrir o seu conteúdo, mas antes de que pudesse decidir se iria abri-lo ou não, a tampa da caixa se abre sozinha.

- Que susto! - ele sussurra assustado e respira fundo.

- O que é isso ? São cartas ? - Killian se questiona enquanto mexe nos papéis. Ao olhar mais atentamente, ele percebe que são realmente cartas, entretanto, todas estão escritas em uma língua que ele não reconhece.

- Acho que elas são do dono desse quarto... - ele murmura e dá uma rápida olhada no conteúdo de uma das cartas. De repente, as letras começam a se mover e se organizam de forma que Killian possa lê-las. Ainda mais curioso sobre elas, acaba lendo todas as cartas da pequena caixa.

Paixão e PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora