em uma madrugada silenciosa, Alice se viu em seu quarto, sozinha com seus pensamentos, o peso da perda ainda esmagando seu peito. As lágrimas que um dia pareciam não ter fim, simplesmente haviam cessado. Ela não conseguia mais chorar. Não conseguía mais sentir nada, além de um vazio profundo, como se sua alma tivesse se desconectado do seu corpo. Era como se o luto a tivesse congelado, e, por mais que tentasse, ela não conseguia mais liberar o que estava preso dentro de si.
Na gaveta da mesa de cabeceira, ela encontrou os remédios que ainda sobravam da última vez que teve uma crise de ansiedade. A caixa estava ali, intocada, guardada como um lembrete da dor que ela tentava deixar para trás. E, naquele momento, sem forças para encarar o mundo ou até mesmo seus próprios sentimentos, ela tomou uma dose maior do que deveria, na esperança de se desconectar de tudo ao seu redor. Não queria mais sentir, não queria mais lembrar que, por mais que tivesse sido forte até ali, a dor ainda a dominava.
Mas o remédio não a ajudou a fugir. Em vez disso, a sensação de estar longe de si mesma se misturou com o vazio, criando uma névoa que a deixou ainda mais perdida. Ela queria chorar, gritar, mas seu corpo parecia não responder, como se tivesse desistido de tudo. E, no entanto, no fundo, ela sabia que não podia continuar assim. Não podia se perder totalmente.
dois dias depois a manhã foi fria, ainda mais gelada por dentro de Alice. O céu estava nublado, uma cortina de cinza que se estendia por toda a cidade, refletindo seu estado de espírito. Ela estava sentada na beira da cama, com os olhos fixos no nada, sentindo o peso do silêncio no ar. O funeral de Luísa aconteceria em poucas horas, e tudo o que Alice conseguia fazer era pensar em como as coisas tinham se transformado, como o mundo parecia ter se virado contra ela de uma forma tão cruel e implacável.
Ela sabia o que teria que fazer. Sabia que teria que enfrentar a despedida. Mas, por dentro, Alice sentia-se quebrada, como se não fosse capaz de suportar o impacto dessa última perda. Luísa não estava mais ali. A amiga que tinha sido sua confidente, seu refúgio, sua companheira nos momentos de escuridão… tudo isso tinha desaparecido, e o vazio deixado em seu lugar parecia um abismo sem fim.
Ela tentou se levantar, mas as pernas estavam fracas. Não era apenas a dor física que a consumia; era algo muito mais profundo. Cada movimento parecia um esforço insuportável. O peso de Luísa ter partido tão repentinamente, sem aviso, sem despedida, estava esmagando sua alma. Como ela poderia seguir em frente? Como ela poderia enfrentar um mundo onde as pessoas que mais amava estavam sendo tiradas dela sem explicação?
A campainha tocou. Alice levou um tempo até se dar conta do som. Ela não estava pronta para ver ninguém, não estava pronta para enfrentar mais um momento que a forçaria a lidar com a dor. Mas quando olhou pela janela, viu Gabriel parado lá fora, olhando para o prédio. Ele não entrou imediatamente, mas ficou lá, aguardando que ela tomasse a decisão de encontrá-lo.
Alice respirou fundo e se levantou. Algo nele parecia ser a única coisa que a conectava com a realidade fora de sua dor. Ela não sabia exatamente o que ele esperava, mas sabia que não poderia afastá-lo também. Talvez, apenas talvez, ele pudesse ser a âncora que ela precisava, mesmo que não fosse capaz de se abrir completamente com ele ainda.
Ela desceu até a porta e a abriu. Gabriel estava de roupa escura, os olhos carregados de tristeza, e ela viu, naqueles olhos, a preocupação que não poderia mais esconder. Ela não disse nada, apenas o observou por um instante, como se estivesse tentando absorver a presença dele antes de falar.
“Está pronta?” Gabriel perguntou suavemente, como se soubesse que as palavras não eram suficientes, mas ele precisava quebrar o silêncio.
Alice não respondeu. Ela não sabia se estava pronta. Mas sabia que não tinha escolha. "Eu… eu não sei, Gabriel", disse ela, a voz embargada. "Eu não sei como enfrentar isso. Não sei como encarar a despedida."
Gabriel a olhou com intensidade, como se tentasse entender a dor que ela sentia, mas sabia que não podia compreender completamente. "Eu entendo, Alice", disse ele, segurando suas mãos com suavidade, como se, naquele gesto, tentasse transmitir toda a compreensão e apoio que suas palavras não podiam. "Mas você não está sozinha. Eu estou aqui. Vamos passar por isso juntos."
Alice olhou para ele, sentindo o calor da mão dele contra a sua, mas a raiva, a frustração e a tristeza começavam a tomar forma dentro dela. Ela queria gritar, queria dizer o quanto estava furiosa com tudo, o quanto sentia que ninguém a entendia, o quanto ela se sentia abandonada pelo destino.
Sente, sente o quê? O que ele poderia saber sobre a dor dela? O que ele sabia sobre perder alguém como Luísa, que a fazia sentir que ainda havia algo bom no mundo? Ele não sabia, e, no fundo, Alice queria que ele soubesse. Ela não queria ser compreendida em silêncio, ela queria gritar. Mas, ao invés disso, ela apenas balançou a cabeça, tentando se segurar. Não podia explodir ali, não naquele momento.
Eles caminharam até o carro, e a viagem até o local do funeral foi silenciosa. Alice sentia o peito apertado, cada quilômetro tornando-se um peso maior. Quando chegaram ao cemitério, o céu parecia pesar ainda mais, a neblina obscurecendo tudo ao redor. A dor estava ali, em cada canto, em cada pessoa que se reunia para dar seu último adeus. A realidade de que Luísa não estava mais ali era ainda mais cruel do que qualquer dor que Alice já havia conhecido.
Ela caminhou até o local do sepultamento, sentindo os olhos de Gabriel em sua direção, mas não se voltando para ele. Não queria que ele visse o quanto estava destruída. Ela não queria que ninguém visse, mas, ao mesmo tempo, não sabia como esconder o que sentia. O corte em seu coração parecia profundo demais para ser curado.
As palavras do pastor foram um borrão em sua mente. Alice não ouviu muito do que ele disse. Ela apenas olhava para a terra sendo jogada sobre o caixão de Luísa, e uma sensação de impotência tomou conta dela. Como eu vou seguir sem ela? pensou. Como vou sobreviver a isso?
Gabriel, percebendo o quanto ela estava fragilizada, aproximou-se dela, colocando a mão sobre seu ombro, oferecendo apoio sem palavras. Mas Alice não respondeu. Ela se permitiu chorar ali, sem se preocupar com mais nada, enquanto o som da chuva misturava-se com o de seus soluços. Ela não sabia o que o futuro traria, mas naquele momento, sentia que não queria encarar mais nada sozinha.
"Eu vou estar aqui, Alice. Não importa o que aconteça, eu estarei aqui", disse Gabriel, como uma promessa silenciosa.
Ela não sabia se acreditava nas palavras dele, mas, naquele momento, ela só queria acreditar que alguém se importava. E talvez isso fosse o suficiente para, aos poucos, ela encontrar forças para seguir.
Alice ficou parada na porta de casa, o peso da presença de Gabriel ao seu lado era ao mesmo tempo um alívio e uma carga. Ela sabia que ele se importava, mas, naquele momento, sentia que nada, nem ninguém, poderia tirá-la do vazio em que havia caído. O olhar dele, cheio de compaixão, apenas reforçava o abismo entre o que ele desejava para ela e o que ela própria já não conseguia mais ver.
"Eu estou aqui, Alice," Gabriel sussurrou, tocando-lhe o ombro com um carinho silencioso.
Mas, no fundo, Alice sentia que isso não bastava. "Eu sei, Gabriel," ela respondeu, a voz quase inaudível, como se cada palavra lhe custasse um pedaço da alma. "Mas... e se nada mais estiver aqui para mim?"
Gabriel tentou responder, mas Alice virou o rosto, evitando o olhar dele. Ela sabia que ele queria ajudar, mas como ele poderia entender o peso de sua dor? Como poderia compreender que, para ela, seguir em frente parecia uma ilusão cruel? O futuro não lhe trazia qualquer conforto, apenas uma promessa vazia de dias sem cor, de manhãs como essa, tão frias e nubladas quanto seu coração.
Alice entrou em casa sem olhar para trás. O silêncio tomou conta do ambiente, um silêncio que parecia refletir o que ela sentia por dentro: um eco interminável de perda e solidão. Sentou-se no chão, o olhar perdido no vazio, sem conseguir enxergar uma saída. Ela estava cansada de lutar, cansada de tentar encontrar sentido em algo que parecia sem qualquer propósito. Afinal, por que continuar? Por que resistir quando tudo o que ela amava parecia se desfazer diante de seus olhos?
Naquela noite, a escuridão a envolveu de uma forma que ela nunca havia sentido antes.
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me ensina a amar
RomansaPLÁGIO É CRIME? SIM. A violação dos direitos aurorais é CRIME previsto no artigo 184 do Código Penal3, com punição que vai desde o pagamento de multa até a reclusão de quatro anos, dependendo da extensão e da forma como o direito do autor foi violad...