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Alice estava sentada no elegante café do hotel, um espaço moderno e sofisticado com paredes de vidro que ofereciam uma vista panorâmica da cidade de Manchester. O mobiliário minimalista e as luzes suaves criavam uma atmosfera tranquila, mas, por mais que o ambiente fosse deslumbrante, Alice não conseguia afastar a sensação de vazio que a acompanhava desde que havia chegado.

O hotel era imponente, com sua arquitetura moderna e luxuosa, e Alice estava hospedada em uma suíte espaçosa, com uma vista deslumbrante do horizonte da cidade. Ela adorava o conforto, o luxo, mas sentia que a grandiosidade do lugar só a fazia se sentir mais distante de tudo que realmente importava. Estava em um dos maiores centros do futebol mundial, cobriu um dos jogos mais importantes da sua carreira, mas, ainda assim, uma parte dela sentia que algo estava faltando. E essa sensação de falta era especialmente forte enquanto ela olhava para a tela do celular, onde as mensagens de Gabriel permaneciam sem resposta.

Alice não conseguia deixar de pensar nele. Eles haviam se afastado desde que ela partiu para a viagem, e, por mais que as razões para a distância fossem compreensíveis, o peso da saudade a consumia. Ela estava ali, em um hotel luxuoso, em um dos momentos mais importantes de sua carreira, e se sentia sozinha.

— Alice? — A voz de Marcelo a tirou dos seus pensamentos. Ele entrou no café com uma energia contagiante, vestindo um terno impecável e com um sorriso acolhedor no rosto. Ele se sentou à sua frente, e a expressão dele imediatamente mostrou preocupação. — Como está indo tudo? Parece que você tem algo na cabeça.

Alice tentou forçar um sorriso, mas era difícil esconder a tensão. — Acho que estou me acostumando com tudo isso. O jogo foi incrível, mas... ao mesmo tempo, me sinto um pouco perdida aqui.

Marcelo observou o ambiente ao redor, aparentemente notando a maneira como o luxo do hotel não parecia fazer Alice se sentir à vontade. — É uma experiência e tanto, não é? Estar em um lugar como esse, cercada por tudo que você sempre sonhou, mas... ao mesmo tempo, algo parece faltar.

Alice assentiu lentamente, o olhar perdido na imensidão das janelas. — É isso... o hotel é lindo, a cidade é incrível, mas... eu sinto a falta de algo que não tem a ver com o lugar, e sim com as pessoas. Sinto falta da Luísa, de ter alguém para compartilhar isso tudo. E, bem, Gabriel... não sei o que está acontecendo entre a gente. Parece que a distância só está crescendo.

Marcelo se recostou na cadeira, observando-a com atenção, como se soubesse exatamente o que ela estava sentindo. — Eu entendo. É muito fácil se sentir deslocada quando tudo à sua volta é grandioso, mas a solidão ainda encontra seu caminho. O que você está vivendo agora... é uma mistura entre um sonho e uma realidade difícil de lidar. Mas você está fazendo algo que sempre quis, Alice. Isso já é um grande passo.

Ela respirou fundo e olhou para o café diante dela. — Eu sei, eu sei... mas parece que, ao conquistar tudo isso, eu acabei me afastando das coisas que realmente me ancoram. Eu sinto falta de conversar com a Luísa, contar para ela como foi a cobertura do jogo, como me senti nesse lugar. Ela sempre soube o que eu queria, sempre me apoiou. Agora, eu estou aqui, no centro de tudo, e ainda assim, o vazio é imenso.

Marcelo colocou a xícara de café sobre a mesa e olhou diretamente nos olhos dela. — Alice, a vida de jornalista, especialmente no esporte, é cheia de momentos assim. Momentos de conquista, mas também de dúvidas. O que você está vivendo agora é um teste de sua própria coragem. Mas você já tem a base para isso. Você tem história, você tem sensibilidade, e tem paixão. Isso é o que vai te guiar, mais do que qualquer luxo ou reconhecimento.

Alice sentiu o peso daquelas palavras e, por um momento, o ambiente ao redor pareceu diminuir um pouco. Ela sabia que Marcelo estava certo. Ela estava longe de casa, mas estava em uma jornada que era única, e talvez não fosse sobre o luxo que a cercava, mas sobre a paixão por aquilo que fazia, o esporte e as histórias que queria contar. Ainda assim, o medo e a saudade a consumiam.

— Eu sei que Luísa ficaria orgulhosa de mim, e eu quero fazer isso por ela. Quero honrar tudo o que ela me ensinou. Mas, às vezes, parece que estou tão distante dela, tão distante de tudo que me mantém firme.

Marcelo sorriu com empatia, como se soubesse exatamente o que ela estava passando. — O que você sente agora não é o fim, Alice. Eu sei que é difícil, mas a dor e a saudade fazem parte da caminhada. E é com essa dor que você vai contar histórias mais profundas, mais verdadeiras. Não se cobre tanto. A vida está te moldando para ser a jornalista que você sempre quis ser.

Alice mordeu o lábio, os olhos marejados, mas dessa vez com um brilho de determinação. Ela sentiu que precisava se permitir viver o processo, e que talvez fosse hora de focar nas histórias ao seu redor, mais do que nas distâncias que a separavam daqueles que amava.

Marcelo levantou-se para ir, e antes de sair, deu-lhe um tapinha no ombro. — Lembre-se: o luxo e a fama podem ser passageiros, mas a verdadeira história que você vai contar vai te fazer atravessar qualquer distância. Luísa estará sempre com você, em cada história que você escrever.

Alice o observou sair e olhou pela janela do café, observando as ruas movimentadas de Manchester. O hotel era, de fato, maravilhoso, mas ela começou a perceber que o luxo exterior não preenchia o vazio interno. O que ela realmente precisava agora era se reconectar com as histórias que a inspiravam, e com as pessoas que, de alguma forma, sempre fariam parte dela.

Ela pegou o celular novamente e, com um suspiro, enviou uma mensagem para Gabriel: "Eu sei que estamos distantes, mas não significa que a gente não consiga se encontrar. Espero que esteja bem."

Era um passo simples, mas Alice sabia que precisava dar muitos outros para se encontrar. E, dessa vez, estava pronta para encarar o que quer que viesse em seu caminho.

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora