Alice caminhava pela cidade, os pés tocando o chão com passos automáticos, como se o corpo soubesse o caminho, mas sua mente estivesse perdida em algum lugar distante. Ela não via o que estava ao seu redor – as pessoas apressadas, o trânsito, as vitrines das lojas – tudo parecia uma névoa distante. Seu mundo interior era um turbilhão de memórias, de sentimentos que ela não sabia mais como controlar. Era como se estivesse presa em um lugar entre o passado e o futuro, sem conseguir encontrar um ponto de equilíbrio.
O vento frio cortava seu rosto, mas ela não sentia. Tudo o que ela sentia era a ausência de Luísa, um vazio imenso que parecia não ter fim. Ela tentava respirar, mas cada suspiro parecia puxar mais para dentro a dor que, por mais que tentasse, não conseguia deixar para trás.
Ela se lembrava de como, antes, as coisas eram mais fáceis. Luísa estava sempre ali, ao seu lado, com um sorriso que fazia tudo parecer menos pesado. Juntas, elas tinham feito planos, conversado sobre o futuro. Mas agora, tudo o que restava eram as memórias, cada uma como uma lâmina afiada, cortando ainda mais fundo à medida que tentava se lembrar da amiga.
"Você não precisa carregar tudo sozinha, Alice. Não precisa ser tão forte o tempo todo."
As palavras de Gabriel reverberavam em sua mente. Ele tinha razão, ela sabia. Mas, mesmo assim, a ideia de depender de alguém, de mostrar suas fraquezas, parecia quase impossível. Ela estava tão acostumada a esconder a dor, a se fazer forte para os outros, que o simples ato de pedir ajuda parecia um peso insuportável.
E, no entanto, ela se sentia mais fraca a cada dia. A dor não era algo que ela pudesse esconder, e agora parecia que ela estava se afundando nela, como areia movediça. Cada vez que tentava dar um passo à frente, algo a puxava de volta. Ela se sentia perdida em sua própria vida, como se as cores tivessem sumido, e tudo ao seu redor fosse agora um borrão pálido de cinza.
Ela parou em frente a uma cafeteria, o vidro da janela refletindo seu próprio rosto. Ela o observou por um instante, tentando se reconhecer ali, mas não conseguia. Era como se a Alice de antes tivesse desaparecido, e no seu lugar houvesse uma estranha, uma pessoa marcada pela perda, pelo luto, por uma dor que ela não sabia como carregar. Ela viu casais rindo, amigos conversando, pessoas que pareciam viver suas vidas como se o mundo não tivesse parado. E, por um momento, Alice desejou ser uma delas. Desejou que a vida pudesse simplesmente seguir em frente, sem que a perda de Luísa a consumisse por inteiro.
Mas o que ela não entendia era que isso não acontecia de forma simples. O tempo não funcionava como ela imaginava. A dor de Luísa não iria embora com o tempo. Ela não sabia como continuar, mas sabia que não podia ficar parada. Havia uma luta interna, uma guerra de sentimentos dentro dela. Como seguir em frente sem esquecer Luísa? Como viver sem aquele pedaço tão essencial de sua vida?
Alice sabia que não poderia voltar atrás, não poderia mudar o que aconteceu. Não poderia voltar no tempo e corrigir suas falhas. Lembrava-se da última conversa que teve com Luísa, das palavras que agora pareciam ecoar em sua cabeça, como uma acusação. "Deixa de ser preguiçosa, vê se levanta da cama mais cedo." Como se aquilo fosse trivial. Como se ela tivesse tido tempo de saber que aquela seria a última chance de se conectar de verdade, de estar ali para Luísa, ao invés de se perder em coisas pequenas. Ela se culpava por isso, culpava-se por não ter dado o devido valor, por ter se distraído com o resto do mundo enquanto Luísa estava ali, precisando dela.
A dor aumentava a cada pensamento, a cada lembrança. O peso de sua culpa a afundava cada vez mais, mas Alice não sabia como se livrar disso. As perguntas não traziam respostas. E ela continuava ali, parada na rua, sem saber o que fazer.
Ela sabia que não poderia continuar nesse ciclo de arrependimentos, mas ainda não sabia como se libertar dele. Não sabia como deixar a culpa para trás, como aprender a viver com a perda sem ser consumida por ela.
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me ensina a amar
RomancePLÁGIO É CRIME? SIM. A violação dos direitos aurorais é CRIME previsto no artigo 184 do Código Penal3, com punição que vai desde o pagamento de multa até a reclusão de quatro anos, dependendo da extensão e da forma como o direito do autor foi violad...