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Alice passou o resto da tarde presa em seus pensamentos, o olhar vazio fixado na janela enquanto os alunos passavam apressados pelos corredores. O peso da dúvida parecia ter se instalado em seu peito e não havia nada, absolutamente nada, que ela pudesse fazer para afastá-lo. As palavras de Gabriel ainda ecoavam em sua mente, mas algo em seu interior não conseguia se libertar da sensação de que algo estava fora de lugar. Ele parecia sincero, mas por que então ela não conseguia acreditar totalmente nele?

Sua cabeça girava com as possibilidades. A visão de Gabriel com Luísa na biblioteca ainda estava fresca em sua mente, a imagem daquele sorriso fácil entre os dois, a naturalidade com que conversavam. Ele havia dito que era apenas uma coincidência, mas as dúvidas continuavam. Como se ela estivesse sendo colocada em segundo plano, mais uma vez.

"Não é isso, Alice. Eu quero você, por quem você é..."

Mas será que ele realmente queria? Ou era só mais uma promessa vazia? Alice não sabia mais o que pensar. Ela sentia que as peças de um quebra-cabeça que nunca chegariam a se encaixar estavam espalhadas por todos os lados.

No dia seguinte, ela se deparou com Luísa no corredor. A amiga parecia estar tentando agir normalmente, mas Alice não conseguia mais ver as coisas da mesma forma. Cada sorriso, cada olhar parecia ter uma camada de algo que ela não conseguia entender. E quando Luísa se aproximou, um leve desconforto a invadiu.

"Oi, Alice! Como você tá?" Luísa perguntou com um sorriso.

Alice não conseguiu disfarçar a tensão no ar. "Estou... bem. E você?" Tentou responder de maneira neutra, mas sua voz saiu mais fria do que imaginava.

"Eu tô bem também. A gente podia se ver mais essa semana, né? Já fazia tempo que a gente não fazia algo juntas...", Luísa sugeriu, parecendo não perceber a mudança na atmosfera.

Alice assentiu, mas o desconforto se intensificava. "É... a gente pode combinar algo, sim."

Mas, à medida que Luísa falava, Alice não conseguia tirar da cabeça a ideia de que algo não estava certo. Por que Gabriel, sendo quem era, não havia compartilhado aquele encontro com ela? O que mais ele poderia estar escondendo?

Quando o intervalo terminou, Alice sentiu uma necessidade urgente de falar com Gabriel. Ela precisava de respostas, não mais promessas. Ele não tinha ideia do que ela estava sentindo, não tinha ideia de como as coisas entre eles poderiam ter se perdido em uma simples confusão.

Ela o encontrou no pátio, sorrindo, mas o sorriso dele não a alcançou. Ele notou a expressão em seu rosto imediatamente.

"Alice...", ele começou, hesitante, mas ela interrompeu.

"Você tem alguma coisa para me contar, Gabriel? Porque eu não consigo mais ignorar o que estou sentindo. A história com a Luísa não bate, não faz sentido, e eu preciso saber por que você não me falou sobre isso."

Ele pareceu se afastar, as palavras não saindo com a mesma fluidez de antes. "Eu já te expliquei, Alice... Luísa não é nada mais do que uma amiga de faculdade. Eu não tenho interesse nela, nunca tive."

Ela olhou para ele, desafiadora. "E por que não me disse isso antes? Como se eu fosse mais uma amiga para você, alguém que poderia esperar enquanto você escondia coisas. Eu... eu me entreguei a você, Gabriel. E agora eu não sei se isso tudo foi real."

A expressão de Gabriel escureceu. Ele deu um passo à frente, como se quisesse dizer algo mais, mas Alice não queria ouvir desculpas. Não mais. Ela precisava de algo mais sólido do que palavras vazias.

"Alice, me escuta, por favor. Eu não queria te magoar. Não foi isso. A Luísa é só uma amiga de faculdade, a gente estava ali para estudar. Não tem nada além disso, e eu não vou pedir desculpas por ter conversado com ela. Mas eu te prometo, é você quem eu quero. Só você. Eu já te disse isso."

Alice sentiu os olhos queimando de frustração. Como ele podia esperar que ela acreditasse nisso agora? Ela estava sendo deixada para trás, perdida em um jogo que ela não entendia, e a ideia de ser a segunda escolha, de ser só mais uma opção, a fez querer sumir dali.

"Eu não sei mais, Gabriel. Eu... Eu não consigo mais te entender." A voz dela vacilou, a dor à flor da pele. "Eu só sei que... que isso tudo está me fazendo questionar tudo o que a gente tem, e eu não sei se posso continuar assim."

Ele parecia desesperado, mas a distância entre eles estava crescendo. Alice sentia isso, mas não sabia como reverter. O medo a dominava, a mesma sensação de ser descartada, de não ser suficiente.

"Eu não posso te garantir mais nada, Gabriel. Eu só sei que, se eu continuar me entregando a isso, vou acabar me machucando. E eu não sei se eu aguento mais."

Gabriel a olhou com tristeza, seus olhos carregados de uma dor que Alice não sabia como processar. Ele sabia que havia algo entre eles, mas será que era suficiente para afastar os fantasmas do passado?

"Alice, eu não sei como fazer você acreditar em mim. Mas eu vou tentar... Eu não quero te perder."

Alice desviou o olhar, o peso da dúvida ainda apertando seu peito. Ela não tinha todas as respostas, e sabia que nem Gabriel tinha. Tudo o que ela sabia é que se continuasse a seguir esse caminho, ela corria o risco de se perder ainda mais.

E naquele momento, ela não sabia qual seria o próximo passo. O que ela sentia era confuso, instável. Mas o medo de se machucar de novo parecia ser mais forte.

"Eu... eu preciso de mais um tempo, Gabriel. Eu não posso mais fazer isso agora."

Ele acenou lentamente, como se já soubesse que ela precisaria desse espaço, mas a dor no rosto dele era palpável. Alice sentiu o nó na garganta apertar. O que estava em jogo agora era algo que ela não sabia se estava pronta para enfrentar.

E assim, com mais uma promessa não cumprida, Alice se afastou, deixando Gabriel para trás, mas carregando consigo a incerteza de um futuro que ela não sabia mais como controlar.

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora