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Alice estava finalmente formada. Na cerimônia de colação, os aplausos enchiam o auditório, mas para ela, o momento era silencioso, como se o tempo tivesse parado. Todos ao seu redor celebravam, mas Alice se encontrava imersa em lembranças. Jornalismo era um sonho que ela e Luísa compartilhavam desde os primeiros dias de faculdade. Para ambas, as histórias do mundo eram um convite para mergulhar no desconhecido, e agora, ao receber o diploma, Alice sentia que aquela conquista também pertencia a Luísa.

Após a cerimônia, Alice se despedia dos amigos quando viu Marcelo, um ex-professor e jornalista esportivo renomado, aproximando-se com um sorriso. Ele tinha sido uma inspiração durante todo o curso, alguém que Alice admirava pela experiência e sensibilidade no jornalismo. Eles se cumprimentaram, e após um breve silêncio, Marcelo começou:

- Parabéns, Alice! Finalmente formada. - Ele fez uma pausa, com um olhar atento. - Eu sempre soube que você tinha algo especial.

Alice sorriu, tímida. - Obrigada, professor. Você sempre me incentivou tanto... eu realmente não teria conseguido sem suas aulas e seus conselhos.

Marcelo balançou a cabeça, sorrindo. - Mas seu talento é todo seu, Alice. É essa sensibilidade, essa curiosidade genuína, que fazem de você uma jornalista. Lembro da primeira matéria que você entregou, sobre aquele torneio escolar de futebol. Não era um evento grandioso, mas você conseguiu captar a essência de cada jogador.

- Eu... eu gosto de ouvir as histórias das pessoas. Acho que cada jogo é mais que um placar, sabe? São sonhos, lutas, superações... - Alice murmurou, olhando para baixo.

- Exato! É por isso que eu acredito que você pode ir longe. Inclusive... - Marcelo hesitou por um momento, como se estivesse ponderando. - Eu queria te convidar para cobrir um jogo comigo. É uma partida internacional de grande peso, entre Manchester City e Manchester United. Eu sei que você tem um olhar único para esses momentos, e acho que essa é a chance perfeita para você começar sua jornada profissional.

Alice arregalou os olhos, surpresa. - Sério? Eu... uau, professor, eu nem sei o que dizer!

- Só diga que aceita. - Ele riu. - Alice, eu assisti de perto a sua evolução na faculdade. Você já tem o que é mais difícil de ensinar: empatia e paixão. Não se perde isso. Apenas melhora com a experiência.

Ela respirou fundo, assimilando o peso da oferta. - Eu aceito, claro! Eu nem consigo acreditar... Uma final internacional entre Manchester City e Manchester United? Esse sempre foi o meu sonho!

Marcelo assentiu, com um olhar encorajador. - Então, aqui está a primeira lição: o esporte, Alice, é uma vitrine para o que há de mais humano. E você, mais do que qualquer outra pessoa que eu já vi, sabe capturar isso. Vá lá e seja você mesma, e acredite - sua sensibilidade é o que vai fazer a diferença.

Alice sentiu uma emoção tomar conta dela. Sabia que essa era a chance de dar o primeiro passo real no mundo que tanto sonhou. - Obrigada, Marcelo, por acreditar em mim. E... por me dar essa chance. Eu prometo que vou fazer o meu melhor.

Marcelo sorriu, colocando a mão no ombro dela. - Eu sei que vai. E, de alguma forma, acho que Luísa também sabe.

Alice se emocionou, com um sorriso nostálgico e um olhar brilhando de gratidão. - Ela sempre acreditou em mim. Vou fazer isso também por ela.

No dia da cobertura, Alice se viu diante de um dos maiores estádios que já visitara, com capacidade para mais de 70 mil pessoas. O som da torcida era ensurdecedor, e ela sentiu o coração bater mais rápido. O Manchester City e o Manchester United estavam em campo, e, mais do que a rivalidade histórica entre as duas equipes, o que Alice sentia ali era a energia crua do esporte, de algo que transcendia as cores e os nomes. Era sobre sonhos, esperanças, e vidas que se cruzavam por trás das chuteiras.

Ela se preparou para o seu primeiro grande desafio como jornalista esportiva. Com o bloco de anotações em mãos e a câmera pendurada no pescoço, Alice começou a entrevistar jogadores, focando especialmente naqueles menos conhecidos, cujas histórias de superação e dedicação à carreira não chegavam às manchetes. Cada palavra deles a fazia pensar em Luísa, como se a amiga estivesse ali, ao seu lado, compartilhando aquele momento de pura emoção.

O jogo foi intenso. O Manchester United abriu o placar logo no primeiro tempo, mas o City, com sua habitual garra e técnica refinada, empatou no segundo tempo. A cada lance, a emoção crescia, e Alice não conseguia desviar o olhar. Quando o Manchester City marcou o gol da vitória nos minutos finais, uma onda de euforia tomou o estádio, e Alice não pôde deixar de sentir uma leve saudade de Luísa. Era como se ela estivesse ali, torcendo ao lado dela, sorrindo com o mesmo entusiasmo.

Após o jogo, Alice se afastou da área de entrevistas e foi até as arquibancadas vazias, sentando-se e observando o campo. O som da torcida ainda ecoava em sua mente, e ela se permitiu respirar fundo, refletindo sobre tudo o que vivenciara. Sentia uma imensa gratidão por estar ali, naquele lugar, naquele momento, e sabia que a cobertura daquele jogo não era apenas um marco na sua carreira, mas também uma homenagem a Luísa, que sempre acreditou nela e no seu potencial.

Alice sabia que aquele era apenas o primeiro de muitos passos. O futuro estava cheio de novas histórias para contar, e ela estava pronta para segui-lo, com a mesma paixão e sensibilidade que sempre guiou seu trabalho. E, de alguma forma, ela sentia que, ao contar as histórias daqueles jogadores, estava mantendo viva a memória de sua amiga, levando suas palavras e sonhos para o mundo.

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora